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Opinião
Quarta - 23 de Março de 2011 às 15:30
Por: Lourembergue Alves

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“O último cabalista de Lisboa”. Romance de estréia de Richard Zimler. Este se vê dividido entre a sala de aula de jornalismo e a arte de escrever, cuja tarefa já lhe rendeu diverso prêmios literários. Também, pudera, são oito livros. Trabalhos que o fizeram conhecido além dos limites territoriais da cidade do Porto, extrapolando o próprio país em que se encontra atualmente radicado, e popular tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, onde nascera em 1956 (Nova York).

Trata-se de um romance empolgante, que tem como cenário a Lisboa do início do século XVI, com suas “casas brancas e azuis”, “a Praça do Rossio, o espelho do rio por trás de uma velha sinagoga”, emoldurada pelo “doce aromado arbustos de oleandro” e “os túmulos na Quinta das Amendoeiras”.

Cenário anuviado pelo massacre de milhares de judeus, que já haviam sidos convertidos à força ao catolicismo. Era páscoa de 1506. Portugal passava por um momento difícil, com a seca e a peste a frearem-lhe o próprio desenvolvimento. Imperou, então, o fanatismo, o qual, entretanto, afugentou a razão, e, a partir daí, uma turba de cristãos jogou a culpa dessa situação de penúria aos judeus, tidos como cristãos-novos.  

Muitos dos cristãos-novos foram mortos, cujas memórias são relembradas hoje com estatuas na Praça do Rossio e uma escultura no Largo de São Domingos – palcos de maior carnificina -; outros conseguiram fugir, espalhando-se pelo território europeu afora. O autor do manuscrito, encontrado por Richard Zimler (1990) em um pequeno cofre cilíndrico, por exemplo, se fixou em Istambul. Local onde se aprumou, casou-se e criou seus filhos. E é ele, Berequias Zarco, o narrador de “O último cabalista de Lisboa”.

Romance que narra a odisséia da família de Berequias durante os trágicos acontecimentos de abril de 1506. Traz, em particular, a perseguição que Berequias moveu ao assassino do seu tio Abrão, um famoso cabalista – a quem se atribui a autoria de algumas obras da Escola de Lisboa, entre as quais “Batendo às portas e o Livro do fruto divino”.

Trata-se, portanto, de uma “introdução à tradição judaica da cabala”. Mais ainda: uma obra envolvente e instigante de mistério, cuja narrativa atrai o leitor do início até o fim, além de conduzi-lo por entre o desenho urbanístico considerado, mesmo hoje, o centro da capital portuguesa.

Tudo isso pelas palavras simples e franca de Berequias, que não é tido como vilão nem um herói. Mas, sim, conforme o próprio Zimler o descreve: “um jovem inteligente e confuso, que fazia iluminuras e vendia frutas”, além de cabalista; mas, também, “destroçado pela morte de seu tio”.

Personalidade que, por si só, é um forte convite ao leitor. Sobretudo aquele que gosta dos chamados romances históricos. 

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 



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