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Opinião
Quarta - 05 de Janeiro de 2011 às 18:25
Por: Kleber Lima

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Uma das metáforas mais usuais quando alguém tenta mostrar a outrem que a democracia começa pela atitude do indivíduo, com a participação e o voto de cada pessoa, é aquela segundo a qual o seu voto vai decidir o futuro da sua cidade, estado, nação.

Pois imagine se você, caro (a) leitor (a), tivesse essa oportunidade concreta de, com o seu único voto, decidir quem seria eleito para presidente da República. Imagine toda uma campanha eleitoral, com direito a anúncios de tv, comícios, reuniões, outdoors, e tudo o que as campanhas modernas incluem, destinada exclusivamente para ganhar o seu voto!

Em que candidato você votaria? Que argumentos ou promessas seriam mais capazes de sensibilizá-lo? Seriam questões de ordem pessoal ou coletiva? Se é verdade que o mundo começa em nosso quintal, o que o tocaria mais:  a promessa de um emprego melhor, uma casa nova ou a solução para o problema da previdência, que a rigor, ainda não está na sua zona de interesse imediato?

Um vastíssimo repertório com indagações desta natureza é feito pelo pai solteiro Bud Johnson – um típico americano interiorano absolutamente indiferente à política e a tudo o mais que não seja sua rotina de trabalhador braçal, bares e pescaria – depois que sua filha pré-adolescente Molly Johnson o inscreve como eleitor e depois tenta votar em seu lugar. Por uma falha na urna eletrônica devido a uma queda de energia, o alienado Bud terá a oportunidade de votar novamente, desempatando a votação do seu condado, o que, na prática, decidirá o novo presidente dos Estados Unidos.

Essa é a trama da sátira política Swing Vote (Voto de Minerva, 2008), do diretor Joshua Michael Stern, tendo no elenco principal Kevin Costner (Bud), Madeline Carroll (sua filha) e Paula Patton no papel de uma jornalista que também vive seus dramas éticos depois que descobre a história real do engano que tornou um imbecil o eleitor que vai decidir o futuro do país, mas desiste de dar o furo, comprometendo sua carreira para não perder a confiança da pequena Molly.

O filme também trata, ainda que superficialmente, o papel que os marketeiros ou estrategistas eleitorais ocupam na definição da personalidade e atitudes de seus candidatos, sendo que o presidente e candidato à reeleição, o republicano Andrew Boone (personagem de Kelsey Grammer), tem um estrategista consagrado, que jamais perdera uma eleição; enquanto o oposicionista democrata Donald Greenleaf, interpretado por Dennis Hopper, contratou um estrategista alinhado aos seus ideais libertários, mas que, todavia, jamais ganhara uma eleição presidencial, e decide conquistá-la dessa vez, a qualquer preço.

Temos que fazer uma campanha seguindo as mesmas regras de antes, só que agora para um único eleitor, dizem os dois estrategistas para seus respectivos candidatos-clientes. Talvez aqui caiba uma primeira discussão conceitual, para nós outros que nos interessamos pelo tema: um indivíduo concreto é quase indivisível, imperscrutável, indecifrável. E, se a base da persuasão política é oferecer ao eleitor o que ele já deseja fortemente, como convencer alguém de quem não se sabe o que ele quer?

Elementar meu caro Watson! Como diria Sir Arthur Conan Doyle, criador de um dos personagens mais famosos da literatura mundial, o investigador Sherlock Holmes, o homem individual é inexpugnável, enquanto um conjunto de homens é absolutamente previsível (daí a importância cada vez maior das pesquisas nos processos eleitorais e políticos).

Em quem Bud Johnson votou e por qual motivação você saberá se vir o filme, que no Brasil ganhou o título piegas de “As promessas de um cara de pau”. Ainda que haja críticas quanto a roteiro e desenvolvimento, recomendo-o por sua original abordagem sobre temas universais e atuais que nos afetam a todos.

P.S: Voto de Minerva significa voto de desempate, usual nos tribunais judiciais pelo presidente, que só votaria nessa situação. O termo remete à mitologia grega, quando Orestes foi julgado pelo assassinato da mãe Clitemnestra e seu amante Egisto em vingança pela morte do pai Agamemnon.


(*) KLEBER LIMA
é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.


SUGESTÃO DE OLHO:

“Que motivação você
teria para votar em um
candidato se apenas o
seu voto fosse capaz de
decidir a eleição de um
prefeito ou presidente?”



Autor

Kleber Lima

KLEBER LIMA é jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá

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