Dilma quer resposta sobre desaparecidos e mortos na ditadura
Joana D Arc da subversão. Foi com esse apelido - que remete à francesa heroína da Guerra dos Cem Anos, na primeira metade do século XIV, queimada viva e reconhecida por sua bravura - que a menina da classe média mineira que estudava em colégio de freiras e falava em francês com as professoras foi denunciada nos anos de chumbo por relações com grupos de esquerda. Dilma Vana Rousseff, 63 anos, que será empossada neste sábado como a primeira mulher presidente da República do Brasil, ainda aplica, quase 40 anos depois, o mote do grupo extremista Var-Palmares -"Ousar Lutar, Ousar Vencer" - para enfrentar o câncer linfático que a acometeu em 2009, driblar a desconfiança de uma candidatura em 2010 e colocar em prática as principais promessas de campanha: viabilizar a construção de moradias populares, erradicar a miséria e o analfabetismo, ampliar o fornecimento de água e o sistema único de saúde (SUS).
Filha do búlgaro Pétar Russév (aportuguesado para Pedro Rousseff), a presidente - aspirante a bailarina e trapezista na infância - cresceu com os irmãos Igor e Zana Lúcia confortavelmente após a morte de seu pai. Órfã do patriarca Rousseff desde os 14 anos e criada pela mãe, a ex-professora Dilma Jane, ela começou aos 16 anos a dar os primeiros passos para sua politização. Durante a ditadura integrou as organizações Polop (Política Operária), Colina (Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), com direito a bate-boca com Carlos Lamarca; foi torturada com palmatória, pau-de-arara e choques e invariavelmente jogada no chão do banheiro de órgãos torturadores. "Vai formando crosta de sangue, sujeira, você fica com um cheiro", relatou a agora presidente em uma entrevista publicada em 2005 pelo jornal Folha de S. Paulo.
No auge de sua militância, com 21 anos, recebeu como presente de aniversário a assinatura do AI-5, marco do endurecimento do regime militar. Nunca participou de qualquer ação armada nos anos de militância, mas foi condenada a uma pena final de dois anos e um mês de prisão pelo crime de "subversão".
Atleticana, colorada e flamenguista
Ao contrário do fanático corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e inspiração política, a presidente Dilma Rousseff não aponta um time de futebol do coração. Nascida em Belo Horizonte e com carreira política em Porto Alegre, diz ter simpatia pelo Atlético Mineiro e pelo Internacional. Diante da maior torcida do Brasil, garante também torcer pelo Flamengo.
Casada por duas vezes com dois integrantes de grupos anti-ditadura, o mineiro Claudio Galeno e o gaúcho Carlos Araújo, a presidente tem uma única filha, a procuradora do trabalho Paula Rousseff Araújo, mãe de Gabriel, neto de Dilma nascido durante a corrida presidencial de 2010.
Trajetória política
Economista de formação, Dilma Rousseff, após poder abrir mão de seus inúmeros codinomes de guerrilheira - Estela, Wanda, Luiza, Marina e Maria Lúcia - ingressou em uma carreira administrativa formal em Porto Alegre. Foi secretária de Fazenda do pedetista Alceu Collares, diretora-geral da Câmara de Vereadores da capital gaúcha e secretária Estadual de Minas, Energia e Comunicação nas gestões de Alceu Collares e Olívio Dutra.
Já no governo Lula, cujo passaporte de ingresso teria sido a performance na contenção dos riscos de apagão no Rio Grande do Sul, a nova presidente do Brasil comandou o Ministério de Minas e Energia. Em 2005, sob os fantasmas do mensalão, virou ministra-chefe da Casa Civil, segundo cargo mais importante da República, em substituição a José Dirceu.
Em mais de sete anos em cargos de confiança no governo Lula - deixou a Casa Civil no início de 2010 para concorrer à presidência da República - Dilma coordenou projetos como Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida - de construção de habitações populares - e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal conjunto de obras de infraestrutura dos mandatos petistas.
No dia 31 de outubro de 2010, a primeira mulher a comandar o posto máximo da República atingiu 56,05% dos votos válidos no segundo turno das eleições presidenciais, totalizando 55,7 milhões de votos.
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