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Meio Ambiente
Quinta - 20 de Março de 2008 às 18:51

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Uma dupla de pesquisadores americanos pode ter conseguido um feito raro nos estudos sobre a evolução humana: simplificar um pouco as coisas, em vez de complicá-las. Analisando a anatomia de um dos mais antigos ancestrais do homem, o Orrorin tugenensis, de 6 milhões de anos, eles concluíram que ele era bípede, com um andar muito parecido com o dos australopitecos, velhos conhecidos dos antropólogos.

O fêmur B pertence ao hominídeo Orrorin tugenensis, sendo mais semelhante ao dos australopitecos (letras C, D, E e F) e diferente do de chimpanzés (A) e humanos arcaicos e modernos, representados pelas letras G e H.

Se a dupla estiver correta, cai por terra a idéia de que o O. tugenensis seria uma criatura "à frente de seu tempo", mais próxima do nosso próprio gênero (o Homo, do famoso binômio Homo sapiens) do que quase todos os outros hominídeos que existiram entre 6 milhões e 2 milhões de anos atrás.

"Acho que podemos descartar essa idéia com bastante segurança", declarou ao G1 o paleoantropólogo Brian G. Richmond, da Universidade George Washington. Richmond assina o estudo junto com William L. Jungers, da Universidade Stony Brook, na edição desta semana da revista especializada americana "Science". "O que nós estamos vendo aqui é uma adaptação muito bem-sucedida para o andar bípede -- tão bem-sucedida que persistiu durante 4 milhões de anos", avalia Richmond.

O andar bípede é tão importante para os paleoantropólogos porque, em geral, ele é considerado a primeira marca da linhagem que iria desembocar no homem moderno. Os primeiros hominídeos (nome mais comum usado para designar a nossa "família" evolutiva) tinham cérebros praticamente iguais aos de um chimpanzé moderno e eram baixinhos (em torno de 1 m), mas deixaram de lado a vida de quadrúpedes cedo. A pergunta é quão cedo -- coisa que o atual estudo tenta responder.

A chave do trabalho de Richmond e Jungers é o fêmur, ou osso da coxa. Desde que o Orrorin tugenensis foi descoberto pelos pesquisadores Brigitte Senut e Martin Pickford (em 2000, no Quênia), não havia sido feita uma análise detalhada desse pedaço do fóssil, justamente uma das pistas cruciais para saber como a criatura andava.

Ao comparar o fêmur do hominídeo com o de humanos modernos, chimpanzés de hoje e uma série de outros ancestrais da humanidade, a dupla de paleoantropólogos descobriu que o osso é exatamente igual ao dos australopitecos. Esses hominídeos, que viveram entre 4 milhões e 1 milhão de anos atrás, certamente eram bípedes, embora fossem ligeiramente de nós nessa característica.

"Há um debate sobre como eles andariam na prática", conta Richmond. "O que é certo, porém, é que o 'pescoço' do fêmur deles era mais comprido que o nosso. É uma característica que ajudava a dar apoio aos músculos que saíam do quadril e mantinham a postura deles durante o andar bípede", explica o pesquisador americano.

"Eu realmente me surpreendi ao ver que o Orrorin era igual aos australopitecos nesse aspecto. Já que ele é tão antigo, eu esperava achar uma coisa totalmente diferente", diz Richmond. OK, isso nos leva a dar adeus à suposta linhagem fantasma que ligaria diretamente o O. tugenensis ao gênero Homo. Alguns paleoantropólogos tendiam a apostar que, na verdade, todos os australopitecos seriam "becos sem saída" evolutivos, sem relação direta com os hominídeos que vieram antes ou depois deles.

"A nossa análise, em princípio, pode ser consistente com as duas visões: uma seqüência evolutiva mais clara ou esse modelo em 'arbusto' da evolução humana, no qual há vários becos sem saída", avalia o paleoantropólogo. "É verdade que a gente tende a subestimar a diversidade de espécies no registro fóssil. Mas, no geral, o Orrorin parece bem primitivo. Tem a cara que a gente esperaria de um hominídeo dessa época."





Fonte: G1

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