Lula pede solidariedade a petistas; Abicalil reconhece avanço

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu, em jantar com a bancada do PT na noite de terça-feira, apoio aos projetos do governo e, sobretudo, solidariedade interna. Sem citar nomes ou casos, o presidente disse que alguns " tiveram medo de enfrentar os momentos difíceis do passado e condenavam companheiros ao menor indício de culpa " . Para Lula, essa solidariedade deve envolver dirigentes e militantes. Aos petistas, o presidente não quis comentar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que arquivou o processo de inelegibilidade do próprio Lula por causa do envolvimento de petistas e assessores do governo na tentativa compra do dossiê contra tucanos. O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), afirmou que, para a legenda, o assunto está encerrado.

Deputados como Carlos Abicalil (PT-MT) reconhecem que, no aspecto global, a medida representa um avanço, mas pode congelar distorções. Lula foi incisivo. " Nunca na história os trabalhadores tiveram aumentos reais acima da inflação. Esse é o máximo que o governo conseguiu. Mesmo que isso represente um desgaste, empenhem-se para aprovar " , pediu.

Lula adotou um discurso bem mais ameno para referir-se à crise ética vivida pelo partido nos últimos dois anos. No lugar do " aloprados " utilizado durante a campanha eleitoral de outubro, o presidente fez uma comparação com a passagem da infância para a adolescência. Disse que o partido, em menos de 30 anos, chegou à Presidência da República e que é natural o aparecimento de problemas e dificuldades nesta trajetória. " O PT é como uma criança que dá muito trabalho ou que adoece com freqüência quando criança, mas que, ao chegar à adolescência, volta a ser saudável " , disse.

O presidente considerou natural que a oposição queira instalar a CPI do Apagão Aéreo ou outras CPIs para investigar o Executivo. E que, no reverso da medalha, o governo não veja essa ânsia sob a mesma perspectiva.

Lula demonstrou otimismo ao falar sobre o país. Anunciou que, em breve, estará encaminhando ao Congresso um PAC da área social e outro de segurança. Neste último, garantiu que " o governo federal entrará no debate, sem tomar a responsabilidade dos Estados na questão " . Em relação à economia, Lula assegurou que os fundamentos brasileiros estão sólidos e resistentes a eventuais choques externos.

Falando diretamente ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), Lula afirmou que ele " entrará para a História pelo ritmo que imprimir nas votações no Congresso " e parabenizou pela aprovação das medidas provisórias do PAC - na verdade, ainda falta votar a MP 351, que estava em pauta ontem à noite. Lula defendeu que projetos como o PAC sejam votados e aprovados em sua inteireza, evitando desfigurações. " É como uma camisa feita por uma costureira. Ela põe o colarinho, as mangas e os botões. Mas se não fizer o buraco para o botão entrar, não adianta nada " .

O presidente ouviu uma queixa da bancada sindicalista do PT em relação ao Projeto de Lei 01 que limita o reajuste dos salários do funcionalismo à inflação mais 1,5%.

Com tantos recados e provocações, os petistas se sentiram inibidos a exigir cargos no Executivo, apesar das reclamações do Diretório Nacional. " A turma estava bem mais mansa. Nos bastidores, todo mundo fala tudo, mas na hora de falar lá para o homem, ninguém tem coragem " , resumiu um deputado paulista.