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Politica Brasil
Segunda - 12 de Março de 2007 às 02:50
Por: Luiz Fernando Vieira

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O distrito do Coxipó do Ouro, onde dizem alguns historiadores nasceu Cuiabá, possui uma igreja que até hoje não recebeu a atenção merecida. Mas isso pode mudar em breve. É que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acredita que a construção seja mais importante do que se pensa. Isto porque foram descobertas semelhanças desta com outras construções existentes no país, como a capela de Carapicuíba (SP), do início do século 18. E as evidências vão além, garantem os membros da instituição.

Por enquanto, trata-se apenas de uma suposição, baseada no que foi encontrado no imóvel, depois de uma reforma emergencial, avisa o chefe da sub-regional de Mato Grosso do Iphan Cláudio Quoos Conte. Ele explica que os trabalhos, concluídos recentemente, visavam evitar que a ancestral igreja desabasse. Como não se trata de um bem tombado pelo patrimônio federal - pasmem, tampouco pelo estadual ou municipal -, a obra foi realizada com "sobras" de recursos de orçamento, explica.

Era algo premente. Segundo Conte, a parede lateral esquerda já havia cedido uns 15 centímetros. O responsável pela alteração foi o peso do madeiramento do telhado. O chefe da sub-regional conta que há cerca de dez anos foi feita uma reforma do telhado da igreja onde se optou por duplicar o caibramento. As paredes, muito antigas, não estavam aguentando tamanha carga. O serviço tratou ainda de corrigir o formato do telhado, alterado pela colocação de fileiras de tijolos.

O Iphan, que havia se decidido pela reforma ao identificar ali um bem histórico merecedor de atenção, no final das contas saiu ainda mais convicto de sua relevância. Evidentemente, já pensando que o ideal agora seria o tombamento e a restauração. Conte e sua equipe perceberam que a construção apresenta semelhanças que vão muito além da coincidência entre a capela do Coxipó do Ouro e a capela de São João Batista, em Carapicuíba (SP).

A igreja paulista que se conhece hoje é praticamente a mesma de 1736, que já havia passado por uma reforma. Portanto, é do mesmo período que marcou o nascimento de Cuiabá. A proximidade de datas é a primeira pista. Depois vem a questão do aspecto. De arquitetura bem simples, as duas são compostas de uma nave central, com duas salas laterais e um grande telhado em duas águas. Com o caibramento do telhado é a mesma coisa. Em ambas, ele vai da cumeeira até a primeira peça e "morre" na parede, depois tem outro caibramento separado. "Não é um caibramento inteiro que vem da cumeeira até o beiral, exatamente como se vê em São Paulo", frisa Conte.

Para a equipe do Iphan, essa semelhança diz muito. Eles acredita que os mesmos paulistas vindos para Mato Grosso nas bandeiras para apresamento de índios e, posteriormente, em busca do ouro encontrado em abundância à época, foram responsáveis pelas duas. Ou, pelo menos, o know how foi o mesmo. "É o mesmo partido arquitetônico porque os que construíram a de lá vieram para cá e construíram a daqui", supõe Conte.

Levando em conta que o Coxipó do Ouro muito provavelmente é o Arraial da Forquilha, local da primeira povoação da região de Cuiabá, aquela pode ser a construção religiosa mais antiga de Mato Grosso. "A hipótese da gente é de que ela seja realmente da primeira ocupação do Arraial da Forquilha. Porque essa possibilidade de que lá tenha sido o Arraial da Forquilha é muito grande", afirma, reiterando que é necessário realizar investigações mais aprofundadas para se ter certeza absoluta.

O problema é que, ainda que se tenha convicção de tratar-se de um bem de importância histórica e arquitetônica muito grande, não há muita informação sobre a capela. Ninguém sabe ao certo sua idade, por quantas reformas passou. Pode, muito bem, ser algo mais recente, porém, sua tipologia arquitetônica força o pensamento em algo muito mais antigo.

Conte apresenta outros fatos que podem reforçar esse sentimento. A imagem de Nossa Senhora do Rosário é de terracota (cerâmica), um tipo de material muito comum no estado de São Paulo e nas imagens bandeiristas. "Ela provavelmente deve ter vindo com os bandeirantes", diz. O altar também é especial. Ele é bem simples, a mesa é abaulada e o retábulo parece ser bem antigo. Há inclusive uma pintura do "Sagrado Coração" que não se conseguiu precisar a idade, mas é certo que tem alguma importância também.

Matheus Guerra Cotta, que é arquiteto do Iphan, também lança outras hipóteses. Para ele, é possível que a construção inicial tenha sido só a nave central nas duas capelas, de Cuiabá e Carapicuíba. "Somente uma escavação arqueológica poderia comprovar isso", frisa. O mesmo pode ter acontecido em relação às janelas, acrescidas ou retiradas conforme a necessidade.

Independente de qualquer teoria, Conte revela que é intenção do Iphan montar um processo para tombamento federal da capela, a fim de protegê-la enquanto ainda há tempo. Como se sabe, a prioridade na aplicação de recursos da autarquia é para os bens que estão devidamente registrados nos livros tombo.

Se os estudos comprovarem que a capela é do mesmo período do nascimento de Cuiabá, ela poderá ser a mais antiga do estado, posição ocupada hoje pela Igreja do Rosário e São Benedito, no Centro Histórico. Antes da demolição, em 1968, a mais antiga era a Catedral do Senhor Bom de Cuiabá. E havia ainda uma bem antiga, que ficava onde hoje está a Igreja do Bom Despacho, que chegou a ser descrita por pessoas que acompanharam o capitão-general governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes, a Cuiabá, lembra Conte.




Fonte: A Gazeta

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