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Cultura
Terça - 23 de Janeiro de 2007 às 06:17
Por: Flávia Guerra

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Dizem por aí que o Festival de Cinema de Sundance há tempos não é mais a meca do cinema independente, que o evento criado por Robert Redford cede cada vez mais espaço ao chamado cinemão. De fato, os grandes estúdios vêm ganhando terreno em Park City, a gélida cidade que abriga o festival até dia 28. São 122 filmes (destes, 82 premières mundiais e 23 premières americanas), de produções de 25 países de 60 diretores estreantes ou em seus segundos filmes.

A julgar pelos representantes brasileiros de Sundance, o festival mais que nunca quer reconquistar a fama de exibir o melhor do cinema independente mundial. Para não deixar dúvidas, vale citar que a lista dos concorrentes do Brasil inclui um longa de ficção produzido sem verba incentivada e no esquema de cooperativa (O Cheiro do Ralo), um documentário que percorre, pelos caminhos de um poema, a história e o cotidiano de várias pequenas cidades (Acidente) e um curta produzido com verba de um prêmio da faculdade de Colúmbia (Beijo de Sal).

O Brasil ainda se faz presente em mais duas produções americanas. A primeira delas abriu o festival no dia 18. Chicago 10, de Brett Morgen, que retrata os protestos antiguerra do Vietnã que abalaram a Convenção do Partido Democrata de 1968, em Chicago. O documentário mistura imagens de arquivo com animação, dubladas por atores do cacife de Mark Ruffalo, Nick Nolte e Roy Scheider. Um terço das cenas do filme foi criado pela equipe da produtora Curious Pictures, que desenvolveu uma animação em 3D combinando animação tradicional e Motion Capture, tecnologia usada para capturar o movimento de um ator e transferi-lo para um personagem 3D. Na equipe de animadores está o brasileiro João Amorim, que é irmão dos diretores Pedro e Vicente Amorim (de Caminhando nas Nuvens).

O país também é tema do documentário americano Manda Bala, do jovem Jason Kohn. O filme investiga a corrupção no Brasil, acompanhando três personagens-chave. Um deles é um político que, para lavar bilhões de dólares, abre uma fazenda de fachada. O outro personagem é um empresário que gasta milhões para blindar seus carros. Os depoimentos deste e de outros personagens que já foram seqüestrados revela como a indústria do seqüestro é um ramo rentável no Brasil. O terceiro, ironicamente, é um cirurgião plástico, que reconstrói orelhas de vítimas de seqüestro.

Novos limites - Para o diretor de Programação do festival, John Cooper, a seleção deste ano primou por filmes e por diretores que estão levando seus documentários a novos limites e que têm o ato de dirigir sob uma perspectiva muito mais global. "Se depender disso, os brasileiros devem fazer bonito em Sundance. Afinal, Acidente, O Cheiro do Ralo e Beijo de Sal esbanjam novas formas de fazer e olhar o cinema."

O Cheiro, segundo longa de Heitor Dhalia (de Nina), chegou à sessão World Cinema Competition com vários prêmios na bagagem, incluindo o de melhor filme da Mostra de Cinema São Paulo e o melhor filme para a Crítica Internacional do Festival do Rio. "Os filmes da World Cinema tratam de histórias diversas e exploram assuntos que transcendem as fronteiras pessoais, geográficas e artísticas", ressalta Cooper.

Dhalia concorda. "O Cheiro extrapola a narrativa local, não é regionalista. Conta a história de um cara solitário, que poderia viver em qualquer outra grande cidade do mundo", afirma o diretor. "Este ano é especial para o Brasil. Ter um filme em cada categoria mundial é significativo. Sem contar que expõe nosso cinema a um mercado altamente organizado e importante. Não afirmo que vamos sair daqui com várias vendas fechadas, mas o contato é importante", declara o diretor.

Poéticos ou políticos, os concorrentes brasileiros têm um denominador comum. O baixo custo de produção. Assim como O Cheiro do Ralo custou um terço do que um B.O. (longa de baixo orçamento) costuma custar, Acidente, orçado em R$ 750 mil para ter uma cópia final em película 35 mm, custou R$ 150 mil. Menos ainda custou Beijo de Sal, de Fellipe Gamarano Barbosa. O jovem diretor brasileiro vive há anos nos EUA, onde cursou cinema em Colúmbia. "Gastei exatamente o que ganhei em prêmio de uma disciplina da faculdade, o New Line Award. Converti tudo para real e filmei no Rio", conta Barbosa, que, apesar da verba americana, fez questão de inscrever seu filme como brasileiro e concorrer na categoria mundial.

"Este é sim um filme muito brasileiro. A história se passa no litoral do Rio, os atores e toda a equipe são brasileiros. Mas não e um filme para ser rotulado como "filme do Brasil", comenta o diretor carioca de 25 anos.

O fato é que, seja qual for o desempenho dos representantes nacionais nesta edição de Sundance, o cinema brasileiro vive franca fase de renovação e os efeitos já podem ser sentidos.




Fonte: AE

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