Os Novos Mendigos

Em cada época topamos com novidades. Às vezes agradáveis, outras desagradáveis. Às vezes hilárias, outras ridículas. Já tivemos a Nova República, a Nova Era, o Estado Novo, os Novos Ricos e por aí vai. Agora podemos perceber, pelo menos aqui em Cuiabá, os Novos Mendigos. Eles estão em qualquer semáforo ou esquina bem perto de você. Pedindo dinheiro na maior cara de pau e com as desculpas mais esfarrapadas do mundo. Esse texto é sobre essas desculpas.

Existe o mendigo esportista - sempre são jovens e adolescentes pedindo dinheiro para comprarem passagens (de ônibus) para participar de algum evento esportivo, seja campeonato estadual de kung fu, jogos estudantis do nortão, olimpíadas de bafo e até amistoso de futsal de perneta.

Existe o mendigo músico - de várias idades. Estão nas esquinas pedindo dinheiro para gravar um CD, ou para participar de um festival musical Deus sabe onde, ou para comprar um instrumento, pois o que ele utiliza é de 1830. São caras de pau, principalmente aqueles que se dizem metaleiros e julgam fazer "música" de verdade. Nada contra os metaleiros, mas são figuras já ultrapassadas em nossa pós modernidade.

Tem o mendigo malabarista - estão sempre engolindo fogo, jogando malabares, pinos e bolas para o ar. Depois da "performance" saem entre os carros pedindo dinheiro. Será que eles realmente acreditam que o seu simplório número vale alguns míseros centavos? Seria mais produtivo se todos eles se juntassem, formassem um circo e começassem a trabalhar de verdade.

Tem os mendigos portadores de necessidades especiais - um dos mais numerosos. O problema desses mendigos é que eles confundem deficiência com higiene. Por que estão sempre imundos? De um lado a associação dos deficientes lutam para que não haja preconceito nem discriminação, de outro lado esses mendigos lutam para que tenhamos pena de sua situação. Eles precisam decidir que rumo tomar. Enquanto isso, a luta por uma esquina continua. E a luta por um "Oscar" de melhor atuação também.

O mendigo estudante - são estudantes que vivem pedindo dinheiro nas ruas (uniformizados) alegando que estão passando trote - e precisam juntar dinheiro para comprar cachaça para os veteranos - ou que precisam de verba para ir em um congresso estudantil. Os dois motivos são motivos estúpidos. O primeiro pela estupidez inerente a todo trote. O segundo porque todo congresso estudantil é movido a álcool, bagunça e estupidez.

O mendigo criança-esperança - são pessoas bem vestidas, articuladas, que vêm pedir seu dinheiro em nome de uma instituição de caridade ou causa beneficente. Infelizmente são bem articulados somente para pedir dinheiro na rua, pois não conseguem redigir um ofício solicitando verbas para o poder público ou ir até a iniciativa privada, cujas doações podem ser abatidas do imposto de renda (duro é encontrar uma empresa que não sonegue o IR).

Os mendigos togados e vitalícios - são magistrados que não conseguem viver com apenas 20 mil reais por mês e estão nas esquinas do poder legislativo e executivo lutando por melhores condições de vida e, claro, aumento de salário. Afinal quanto você acha que custa manter uma piscina de 21metros quadrados, 2 BMWs, 3 férias por ano, as confusões ilícitas dos filhos, motorista, copeira, lavadeira, jardineiro, cozinheira e concubina? É muito caro! É preciso estar sempre pedindo dinheiro.

Em todo caso, a nova mendicância deve ser combatida com a indiferença, a indignação e às vezes com a justiça. Sabemos que o Brasil é um país de corruptos, ladrões e mal-educados (com as exceções, claro), e pouco a pouco está institucionalizando a mendicância. Já está virando hábito pedir dinheiro por qualquer causa, por mais ridícula que seja. Temos que ter a coragem de, ao invés de darmos moedinhas e jetons, colocarmos nas mãos desses mendigos um bilhete com a simples frase: "VAI TRABALHAR".