Ana Pinheiro, uma grande dama!

Na sessão da última terça-feira, dia 28 de março, tomei a iniciativa de requerer ao Plenário do Tribunal de Contas um Voto de Pesar pelo falecimento, nesta Capital, de uma grande e virtuosa senhora da sociedade mato-grossense. Trata-se da nossa queridíssima amiga Ana da Costa Pinheiro, que faleceu aos 92 anos de idade, deixando uma longa folha de serviços prestados ao nosso Estado.

Dona Ana Pinheiro foi uma mulher que, desde jovem, lutou contra todas aquelas dificuldades da época, para a mulher impor a sua liderança. Foi ela uma das fundadoras e dirigentes do antigo Clube Feminino de Cuiabá. Foi a primeira mulher a subir em um palanque público de Mato Grosso, discursando e comandando uma ala política.

O interesse pela política surgiu na década de 40, junto à dona Maria Müller, esposa de Júlio Muller, depois de participar dos trabalhos de recepção do presidente Getúlio Vargas a Cuiabá. Daí então assumiu a carreira política, líder atuante do PSD, aliada de Filinto Müller, Ponce de Arruda, de Arnaldo Estevam de Figueiredo e Vicente Vuolo.

Ela era uma pessoa que assumia sua posição política, e foi a primeira mulher a disputar uma eleição à Assembléia Legislativa, na década de 50. Não foi eleita, mas não se considerou derrotada, com uma diferença de apenas 14 votos. Participou ativamente das campanhas e dos governos de Arnaldo de Figueiredo, João Ponce de Arruda, Pedro Pedrossian, Júlio Campos e Jaime Campos.

Depois de um grande trabalho nas campanhas do PSD, ao lado de Licínio Monteiro da Silva e Fenelon Müller, trabalho este reconhecido até mesmo por Juscelino Kubitschek em sua campanha vitoriosa para a Presidência da República, foi eleita, com o apoio do líder, senador Filinto Müller, Presidente da Ala Feminina do PSD, sua grande paixão. Participou, também, da carreira política vitoriosa de seu cunhado, Vicente Vuolo, nas campanhas de prefeito de Cuiabá, em 1962, e posteriormente deputado estadual, federal e senador da República.

Dona Ana Pinheiro também foi a pessoa que coordenou os grandes eventos de Cuiabá. Ela foi a mulher que fazia as vezes de primeira-dama de Mato Grosso. Comandava as posses, os bailes, os eventos sociais. Recebia os presidentes da República, enfim, foi uma personagem que marcou a história de Mato Grosso.

Eu tive o privilégio de conviver com Ana Pinheiro e de ter dela o apoio importante quando governador do Estado, de 1983 a 1987. Ela participou, com dedicação, dos projetos sociais promovidos pela primeira-dama Isabel Campos no Projeto Solidariedade e frente ao programa Prosol.

Ana Pinheiro sempre esteve presente nos bairros Praeiro, Praeirinho, entre outros, construindo praças, lançando programas sociais. Enfim, era uma dama chique, mas que também interagia com o povão, com pessoas humildes. Tinha um coração do tamanho do mundo, e por duas gestões presidiu o Abrigo Bom Jesus de Cuiabá.

Muito devota de São Benedito, Ana Pinheiro participou, fervorosamente, das festas religiosas da Capital. Foi uma das rainhas que mais brilharam nas festas de São Benedito, nas festas do Senhor Divino. Uma pessoa que marcou, também, a sua vida religiosa, ao lado do Arcebispo Dom Aquino Corrêa, de Dom Orlando Chaves e, ultimamente, ao lado de Dom Bonifácio Piccinini.

Foi empresária também, de grande disposição, ao lado do marido João Pinheiro, tendo sido fundadora da representação de cervejarias no Estado.

Deixa um lastro de saudades em todos nós. Chique, bonita e inteligente. Uma grande dama! Uma mulher de luta, íntegra, revolucionária para o seu tempo, que fez o que pôde e que nos deixa orgulhosos de sua trajetória de vida, com seu filhos Ney e Caio, já falecidos, e Sarah.

A Presidência do TCE fará chegar à sua filha, Sarah Pinheiro, e demais familiares, um Voto de Pesar pela perda dessa grande dama da sociedade cuiabana.

* Júlio Campos é conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Governou o Estado (1983/87), e foi senador pelo PFL (1991/99), entre outros cargos no Executivo e Legislativo – gab.julio@tce.mt.gov.br