Repórter News - reporternews.com.br
Cultura
Quarta - 27 de Abril de 2005 às 18:04

    Imprimir


Os números impressionam: 21 anos de história, mais de 1700 apresentações, um público estimado de 740 mil espectadores, 320 cidades e 16 países. Esta é a contabilidade do Grupo Galpão, a companhia de teatro mineira que está entre as mais importantes do Brasil – seguramente, a mais perene. O Galpão inicia, no próximo dia 6 de maio, em Goiânia, uma grande turnê por oito cidades do Centro-Oeste. Na bagagem, os mais recentes trabalhos do grupo, Um Molière Imaginário e O Inspetor Geral. Uma oportunidade rara de tomar contato com a linguagem exuberante do Grupo Galpão, feita da mistura de circo e teatro contemporâneo, música folclórica e experimentos musicais, brasilidade e uma antena universal. Um caldeirão de influências que o Galpão mistura e transforma em celebração à vida e ao teatro.

A qualidade do trabalho desenvolvido pelo Galpão transformou o grupo numa exceção no universo das artes cênicas brasileiras. Atualmente, o Grupo Galpão é a única companhia teatral do Brasil a receber o patrocínio exclusivo da Petrobras – privilégio do qual também desfrutam as companhias de dança Corpo e Débora Colker. Recentemente, atores do Galpão conquistaram grande repercussão nacional ao participarem do seriado Hoje é dia de Maria, exibido pela TV Globo.

Esta é a primeira vez que o Grupo Galpão parte para uma turnê especialmente pelo Centro-Oeste. Serão três semanas, durante as quais a companhia circulará por Goiás (incluindo, além de Goiânia, Goianésia e Anápolis), Mato Grosso (Cuiabá e Chapada dos Guimarães) e Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Corumbá e Ladário). A coordenação do projeto é de Roberto Carvalho Franco de Almeida Filho e o patrocínio da Petrobras.

A turnê celebra os 21 anos de história do Grupo Galpão. A companhia chega à maturidade afirmando seu primeiro compromisso: reinventar a vida através da arte, possibilitando ao maior número de pessoas a vivência do teatro como alegria, transformação, crescimento e reflexão sobre o ser humano. Ao longo dessa jornada, iniciada em Belo Horizonte em 1982, o grupo fez da renovação o seu combustível. As mais diversas possibilidades artísticas foram trilhadas: o teatro na rua e o teatro em espaços fechados; o uso de técnicas inspiradas em distintas escolas dramáticas; o trabalho com diferentes diretores; a arte do circo; a incorporação do canto e da música executada ao vivo; o texto clássico, o texto moderno, o texto criado pelo próprio grupo.

Em 1997, a companhia lançou o núcleo cultural Galpão Cine Horto, onde são realizadas dezenas de atividades como oficinas de teatro, dramaturgia e direção; mostras de cinema e teatro; palestras e debates com profissionais de artes cênicas; festivais de cenas curtas, e muitas outras iniciativas. Grande parte da programação do Cine Horto é aberta e gratuita para a comunidade. A Petrobras compreendeu a proposta do Galpão em toda sua extensão e hoje é bem mais do que patrocinadora: é parceira atenta que aposta no trabalho artístico do grupo e investe em uma série de atividades de alcance social e comunitário desenvolvidas por eles. A realização da Turnê Centro-Oeste do Grupo Galpão é da Cena Promoções.

"...Pertencemos à espécie de artistas ambulantes que têm perambulado desde a origem da História, através de geografias e séculos, como uma epidemia sem a qual o mundo teria perdido a capacidade de reinventar a vida através dos sonhos, da arte e da poesia..."

O Grupo Galpão foi criado em 1982 por cinco atores mineiros, que haviam participado de uma oficina com dois professores alemães - George Frocher e Kurt Bildstein - no Festival de Inverno de Diamantina. Como resultado desse trabalho, surgiu a peça A alma boa de Setsuan. Já com o grupo formado, foi montado o primeiro espetáculo de rua: ...E a noiva não quer casar, que colocou o grupo em contato com os espectadores das praças públicas.

O espetáculo seguinte foi De olhos fechados, um infantil sobre texto de João Vianney, encenado no palco, que recebeu os mais importantes prêmios do teatro infantil, em 1983. O grupo voltou às ruas com Ó prô cê vê na ponta do pé, uma criação coletiva. Uma nova passagem pelo palco veio com a adaptação do clássico de Goldoni, Arlequim, servidor de dois amos. A comédia da esposa muda foi encenada a seguir, marcando a proximidade das técnicas da commedia dell'arte e o uso da máscara. Esse espetáculo foi apresentado mais de trezentas vezes, em sete anos.

Foi por amor, montado em 1987, era uma paródia do álibi apresentado por réus de crimes passionais que, à época, freqüentavam as páginas policiais de Belo Horizonte, marcando a sintonia do grupo com a realidade à sua volta.

O espetáculo seguinte, Corra enquanto é tempo, foi uma debochada comédia musical, montada em 1988, que levou para as ruas uma crítica à ocupação das mídias pelos pregadores evangélicos e seus seguidores. Aqui, deu-se o encontro do grupo com o encenador Eid Ribeiro.

Em 1989, voltando de uma excursão à Europa, o grupo adquire o galpão que, até hoje, é a sua sede, o local para seus ensaios, administração, depósito de cenários, figurinos, além de ser o espaço de convivência. A montagem para o palco da tragédia de Nelson Rodrigues Álbum de Família marcou a parceria com Eid Ribeiro. Essa peça ganhou vários prêmios.

Mas a guinada do Galpão em direção a uma carreira nacional se deu com a estréia do clássico Romeu e Julieta, em 1992. O espetáculo marcou o encontro do Grupo Galpão com o encenador Gabriel Villela. Romeu e Julieta teve sua estréia marcada por uma tarde de chuva forte, em Ouro Preto (cidade história de Minas), e já foi apresentado aproximadamente 250 vezes, em teatros e praças públicas do Brasil e de países como Espanha, Alemanha, Inglaterra (o Galpão foi o primeiro grupo de teatro não-europeu a se apresentar no The Globe Theatre, o teatro de Shakespeare, em Londres), Uruguai, Colômbia e Venezuela. Um espetáculo universal, com certeza.

Continuando a parceria com Gabriel Villela, nasceu A Rua da Amargura, "uma leitura circense do nascimento e da paixão de Cristo". Baseado em O Mártir do Calvário, escrito em 1902, por Eduardo Garrido, A Rua da Amargura mescla uma interpretação inspirada nos atores melodramáticos do circo, com as tradições da religiosidade popular brasileira. Arrematando o efeito, um visual barroco, explorado no cenário, nos figurinos e no desenho da luz.

Em seguida, o Galpão encenou a comédia Um Molière Imaginário, baseada no texto O doente imaginário, de Molière. O espetáculo "traz à cena a figura de seu autor, para ser novamente reverenciado, com direito a interferências na ação da peça, e a uma apoteótica vitória sobre a morte". Logo depois, em parceria com o diretor Cacá Carvalho, o Galpão preparou o espetáculo Partido, baseado em O Visconde Partido ao Meio, de Ítalo Calvino. Partido é uma peça densa, que extrai humor e reflexão.

Em 1998, comemorando seus 15 anos de existência, o Galpão amplia seu espaço físico. Aluga o prédio de um antigo cinema desativado, na mesma rua onde se localiza sua sede e instala o Galpão Cine Horto, "um centro de criação e intercâmbio cultural". Nesse centro, funcionam vários cursos de teatro, música e dança.

O Galpão é o único grupo de teatro que não se articula em torno da figura de um diretor. É estruturado sobre um grupo de 13 atores, que trabalham com diretores convidados, o que não impede que, eventualmente, um dos atores assine o espetáculo. Em mais de 20 anos de vida, o Grupo Galpão conquistou um público tão extenso quanto variado, o que resultou em inúmeros prêmios e participações nos mais importantes festivais de teatro do mundo.





Fonte: 24Horas News

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/343095/visualizar/