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Segunda - 05 de Julho de 2010 às 11:31

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A adolescência sempre foi um desafio para pais e educadores. Lidar com as transformações que filhos e alunos passam nesta fase da vida, no entanto, é tido por muitos como algo não apenas desafiador, mas também instigante. O médico Artur Octávio Monteiro, pediatra e professor universitário, há muito se lançou a esta aventura de estudar e cuidar de adolescentes. O resultado de anos de consultório e pesquisas é o livro “Adolescência Hoje - Perguntas e respostas para pais, profissionais da educação e da saúde”, que acaba de ser lançado pela KCM Editora.

Arthur Octavio Monteiro é formado na Universidade Federal de Minas Gerais, onde iniciou sua docência como professor assistente. Professor adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de Cuiabá (UNIC), diretor do departamento de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade de Cuiabá, Arthur Monteiro é membro do Conselho Científico do Departamento de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria, presidente do Comitê de Adolescência da Sociedade Mato-grossense de Pediatria, secretário geral da Academia de Medicina de Mato Grosso e membro da Câmera Técnica de Pediatria do Conselho Regional de Medicina.

Além da KCM Editora, o doutor Arthur tem livro publicado pela Editora da UFMT, e inúmeras palestras realizadas em jornadas, congressos e para pais em escolas associações religiosas, órgãos públicos e entidades de classe.

Na entrevista que se segue, o médico e professor Artur Octávio Monteiro comenta sobre o objetivo do livro e fala sobre o tema para ele tão fascinante. “A adolescência, na sua fase intermediária, leva aos jovens a tudo contestarem. A família e a sociedade determinam posturas éticas, estabelecendo limites. Estes limites também estão presentes na escola e na religião. Nestas fases, dominados pela busca do prazer, reagem contra todos os limites, que na visão dos mesmos são empecilhos à sua liberdade”, explica.

Qual o objetivo deste livro?

Arthur Monteiro - Ele visa esclarecer aos profissionais da saúde, da educação, principalmente aos pais, sobre alguns aspectos das enormes modificações bio-psico-sociais pelas quais passam os jovens. Procura oferecer esclarecimentos que possam levar a atitudes condizentes, principalmente pelos pais, para minorizar os atritos no relacionamento com os filhos adolescentes, nesta fase tão conflitante e desconhecida da vida. Mostra ainda a importância da participação de uma família amiga, não prepotente, participativa e amorosa, de uma Escola de visão holística, da religiosidade e do compromisso social na estruturação do caráter definitivo do adolescente. Relata ainda as fases do desenvolvimento do adolescente, esclarecimentos sobre a sua sexualidade, sobre seu desenvolvimento físico e emocional, do conhecimento das drogas e de como evitá-las; dos distúrbio nutricionais, da violência, da atividade física , dos anabolizante e muitos outros aspectos físicos e psicológicos dos jovens

Quais as modificações que sofre a criança ao se tornar adolescente?

Arthur Monteiro - A criança só tem pensamento concreto. Ela se alimenta, se veste, recebe presentes, vai aonde os pais vão com satisfação. O pai é o pai herói e a mãe a mãe heroína. Eles não possuem defeitos nesta época da vida.

Com a adolescência o indivíduo adquire o pensamento abstrato e, com ele, a capacidade crítica. Descobre defeitos nos pais e os hipertrofia. Ao mesmo tempo sub-valoriza as qualidades. Sente-se traído e isto o afasta dos pais da infância. O corpo, que antes não lhe trazia preocupações, passa, agora, a ser motivo das mesmas: sou alto ou baixo, feio ou bonito, gordo ou magro, minhas mamas são grandes ou pequenas, o pênis é normal ou pequeno? São algumas entre tantas dúvidas. Também agora tem que tomar decisões que antes eram todas dos pais. A decisão até que seja tomada se torna conflitante e dolorosa. Psicologicamente, com o início da puberdade e a eclosão hormonal, seus interesses se modificam intensamente. Com a erotização da consciência percebem poderem ser agentes do seu próprio prazer. O seu apoio emocional que era fornecido pelos pais, desaparece ao se sentirem traídos pelos mesmos. Mas são imaturos e necessitam de novo apoio, que agora é fornecido pelo grupo, de iguais. São pessoas da mesma idade e sexo, que gostam das mesmas músicas, se vestem e falam de forma parecida, que são críticos de seus pais, que vão aos mesmos lugares, possuem os mesmos desejos. Se os elementos do grupo forem constituídos por jovens de boa formação atravessarão a adolescência sem maiores sustos. Se, no entanto, a condição para pertencer ao grupo for a de beber, provavelmente também beberão; se for o consumir drogas igualmente; se for de realizar atos anti-sociais também estarão sujeitos a realizá-los.

Quais as características típicas do adolescente?

Arthur Monteiro - O adolescente é onipotente e onisciente. Tudo pode acontecer com os outros, mas nada com ele. Digo que é aquele que vendo uma briga, às vezes, de pessoas armadas, ele vai para perto porque acredita que nada acontecerá. Também é capaz de pegar a direção do carro dos pais, sem saber dirigir, julgando-se capaz só por observar outras pessoas guiarem. Não crê está correndo nenhum perigo. Ou, numa chácara, mergulha num rio sem se preocupar com sua profundidade ou velocidade de suas águas. Com relação ao sexo, por mais que os pais esclareçam a necessidade do uso da “camisinha”, não a usam porque não acreditam que possam gerar um filho, pegar uma AIDS ou outra infecção qualquer. Em relação às drogas, nunca estão viciados, sempre estão experimentando. Estes comportamentos de risco são próprios dos adolescentes, pela necessidade de experimentação e pela sua inobservância de perigos. O médico de adolescentes, quando possui empatia com os mesmos, consegue minorizar estas atitudes de risco, por ser de fora da família e por não existir contra ele nenhuma prevenção anterior. O adolescente também é onisciente. Tudo que se lhe for explicado ele já sabe. Só um contato psicologicamente maturo o fará ouvir e conversar com a família.

Por que o adolescente se mostra rebelde à família, à sociedade, à escola e à religião?

Arthur Monteiro - A Adolescência, na sua fase intermediária, leva aos jovens a tudo contestarem. A Família e a Sociedade determinam posturas éticas, estabelecendo limites. Estes limites também estão presentes na Escola e na Religião. Nestas fase, dominados pela busca do prazer, reagem contra todos os limites, que na visão dos mesmos são empecilhos à sua liberdade. Mais uma vez o Médico de Adolescentes possui condições de intervir ajudando-os com respeito e diálogo

O seu livro fala também de atividades físicas, suplementos e anabolizantes. Que interferência, positiva e negativas, elas e eles têm sobre o adolscente?

Arthur Monteiro - Sim. Nele mostro como devem ser as atividades físicas para cada idade, seus inúmeros benefícios quando bem orientados e os seus riscos quando não o são. Tenho especial preocupação com o emprego de anabolizantes esteróides que podem produzir inúmeros danos aos jovens, em alguns produzindo impotência e em outros até a morte. Os suplementos devem ser cuidadosamente analisados, porque muitos aminoácidos não têm indicação e podem representar sérios riscos à saúde.






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