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Nacional
Sábado - 09 de Janeiro de 2010 às 15:21

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Pesquisa da ONG Contas Abertas apontou que o Brasil gastou dez vezes mais com reparos causados por desastres naturais do que com a prevenção. No ano passado, o governo federal teve custos de R$ 1,3 bilhão com o programa "Resposta aos Desastres e Reconstrução" e apenas R$ 138 milhões com o de "Prevenção e Preparação para Desastres".

O professor da UnB (Universidade de Brasília) e doutor em ciência política, Evilásio Salvador, ressaltou que a falta de compromisso dos gestores públicos é responsável por permitir que desastres, como o de Angra do Reis, continuem acontecendo ano após ano.

"Nós vamos lidar no próximo ano, nessa mesma época, com cheias, águas, com todos esses desastres naturais. Ou seja, temos um ano para remover a população, para ter um plano habitacional sério de médio e longo prazo para que coloque essas pessoas para morarem longe das encostas."

O professor disse que a população precisa cobrar dos governos estadual e federal para que haja um planejamento voltado para a prevenção de desastres.

De acordo com a pesquisa, em 2008, foram gastos apenas R$ 112,6 milhões com prevenção e cerca de R$ 1,2 bilhão com reparo.

Planejamento

O geólogo, pesquisador e diretor adjunto do IG (Instituto Geológico), vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Paulo César Fernandes da Silva, ressaltou que "uma ação contínua de planejamento e de ordenamento territorial", apesar das falhas históricas, poderia prevenir algumas das tragédias ocorridas neste verão brasileiro.

"Os municípios têm que tomar conta do uso de seu solo e da ordenação do seu território", disse. Esse planejamento, segundo ele, passaria pelas cartas geotécnicas e pelo mapeamento das regiões, com a especificação do tipo de solo e de ocupação.

Silva reconhece que a culpa pela falta de planejamento não pode ser creditada apenas aos governos atuais.

"Não é que faltou planejamento em São Luiz do Paraitinga [cidade paulista que sofreu com o problema das chuvas e viu muito de seu patrimônio histórico ser perdido por causa das enchentes]. A ausência de planejamento é cultural. O que estamos vendo é que, onde há o evento, a circunstância instalada, a falta de planejamento fica mais evidente", afirmou.

Desde o primeiro dia deste ano, quando as chuvas provocaram estragos e mortes em várias cidades de São Paulo, principalmente nas localizadas no Vale do Paraíba, o Instituto Geológico enviou técnicos para avaliar os deslizamentos de terra e alertar sobre a necessidade de remoção de famílias que vivem em áreas de risco.

Desde outubro do ano passado, técnicos do instituto vêm levantando dados sobre a bacia do Rio Paraíba do Sul, rio que dá nome ao Vale do Paraíba, para tentar mapear áreas de risco na região.

"Fizemos um levantamento em jornais de 1970 até o ano passado. E temos cadastrado 1.500 ocorrências, mais ou menos, de enchentes e inundações ao longo de toda essa bacia hidrográfica que envolve o Vale do Paraíba", disse o pesquisador.

Nesta análise preliminar, segundo ele, foi possível perceber que em 1983 esta região também sofreu muito com as chuvas, como efeito do El Niño.

"Ao que tudo indica, os fenômenos atmosféricos estão recrudescendo, ou seja, estão ficando mais severos", afirmou.

De acordo com Silva, ainda não é possível dizer com certeza o que pode estar motivando a natureza, mas uma série de fatores deve ser considerado, como o aumento da emissão de gás carbônico e de outros gases decorrentes da industrialização e o abatimento de vegetações.

Nesta semana, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), afirmou que pretende fazer uma intervenção maior nos licenciamentos municipais.
 






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