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Cidades/Geral
Segunda - 03 de Agosto de 2009 às 05:57
Por: Nadja Vasques

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Violência em 2009 assusta conselheiras tutelares que investigam outra grande quantidade de denúncias

Quarenta e uma crianças foram vítimas de abuso sexual em Várzea Grande nos 6 primeiros meses deste ano. A maioria meninas, de 5 a 10 anos, violentadas por padrastos, pais, tios e avôs, pessoas que deveriam protegê-las. São casos que foram investigados e confirmados pelos 2 Conselhos Tutelares do município.

Há ainda uma grande quantidade de denúncias que precisam ser comprovadas. "Estamos ficando assustados com o número de denúncias que chegam todos os dias", diz a conselheira Luzia Rosa de Morais, do Conselho Tutelar do Cristo Rei, que atende 44 bairros da região do entorno.

Luzia diz que embora as meninas continuem sendo as principais vítimas, o número de meninos abusados vem crescendo. Um dos casos que mais chocou a conselheira, este ano, foi o de um pai que abusava da filha, de 9 anos, e do filho, de 6. A violência só chegou ao conhecimento do Conselho Tutelar porque a escola do menino acionou o serviço, já que aos 6 anos ele não falava e era agressivo com colegas e professores. A mãe sabia dos abusos, mas se omitia.

A verdade só foi esclarecida meses após o acompanhamento do menino, quando a filha mais velha resolveu contar que o pai fazia sexo com ela e com o irmão. E depois da avó materna interceder, quando o menino foi visitá-la com um corte no rosto, feito pelo pai. Hoje, as crianças moram com a avó. O pai foi preso mas, segundo a conselheira, a mulher fez de tudo para tirá-lo da cadeia, e hoje ainda vive com ele.

"É muito importante que familiares, professores, pediatras, denunciem a violência, que muitas vezes fica oculta dentro da casa".

Segundo a conselheira, muitas mães se calam porque são ameaçadas pelos companheiros, porém existem aquelas que na verdade não querem que o homem saia da casa.

"O artigo 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é bem claro quando diz que é dever de todos zelar pelos direitos das crianças", lembra Luzia. Ela afirma que a denúncia, feita com responsabilidade, pode livrar a criança de um sofrimento muito grande. Além disso, quanto mais rápido o ciclo de abusos for interrompido, mais chances essa criança terá de, no futuro, ter uma vida normal. Afastadas do lar - Só em último caso a criança é retirada da mãe, diz a conselheira, a não ser que ela tenha conhecimento do fato e permita. Nesse caso, a criança deve ficar com algum parente próximo, avós ou tios, visando o fortalecimento do vínculo familiar.

No Conselho Tutelar do Centro de Várzea Grande, que hoje atende 102 bairros do município, a situação não é diferente. Os casos de abuso sexual infantil chocam os conselheiros, assim como os de exploração sexual infantil (prostituição), que já somam 8 este ano.

De acordo com a conselheira Talita Regina de Barros Costa Marques, um dos casos mais impressionantes foi o de uma menina de 4 anos que chegou ao Pronto-Socorro Municipal de Várzea Grande (PSMVG) com HPV, doença sexualmente transmissível. A mãe, de acordo com Talita, alegava desconhecer o abuso e chegou a responsabilizar o pai biológico, com quem a menina passava os finais de semana.

A menina foi tratada enquanto equipes de assistência social do município acompanhavam a ida ao hospital. Mas assim que a menina melhorou, o acompanhamento hospitalar terminou, mas a menina voltou a ter a doença, comprovando que o agressor era o padrasto, que continuava violentando a criança.

Outro caso que chocou Talita foi o de uma menina de 10 anos que era violentada por todos os moradores da casa, entre eles o avô, o padrasto e o namorado da avó. Segundo Talita, a mãe da menina estava cumprindo pena no interior e o pai era ausente. A menina foi criada pelos familiares e tinha 2 irmãos viciados em drogas. "Essa menina era abusada desde os 5 anos".

Para Talita, as mães precisam estar mais atentas ao comportamento das crianças, para perceber se elas podem estar sendo vítimas de abuso. Ela pede também que as mães tenham coragem de denunciar e que existe uma rede de proteção contra o agressor, tanto para a mãe quanto para a criança.

Renascimento - A menina F., hoje com pouco mais 2 anos, conseguiu superar o sofrimento causado por sequências de violência sexual e física e hoje corre, brinca e ri como uma criança qualquer. Quem viu a menina em abril, quando o estupro que sofria do padrasto foi revelado, nem reconhece. F. só chorava, era arredia, nervosa e não permitia que ninguém a tocasse.

Para encobrir o crime, ele queimou a região genital da menina com uma panela quente. Ela também era desnutrida, o que dificultou a recuperação.

Hoje, passados 4 meses do primeiro atendimento no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), a menina ainda carrega junto ao corpo a bolsa da colostomia, que mostra para todos que se aproximam dela. Na próxima quarta-feira (5) ela retorna ao médico para levar os exames e marcar a cirurgia para retirada da bolsa. Essa pelo menos é a expectativa da avó da criança, Eva Benedita da Cruz Oliveira, que junto com o avô, Luís Lima de Oliveira, cuidam da menina. Hoje, para F, eles são mamãe e papai.

A mãe biológica, Azenil Miranda de Oliveira, 29, e o padrasto agressor, o ex-presidiário Marcondes Dias de Moura, 35, estão presos. A mãe era conivente e chegou a presenciar um abuso, sem denunciar.

Estrutura - Já estão criados, por lei, mais 2 Conselhos Tutelares em Várzea Grande. Um no Jardim Glória e outro no São Mateus/Eldorado. Mas os projetos ainda não saíram do papel porque a Prefeitura não oferece instalações, pessoal e estrutura. Os 2 novos conselhos iriam desafogar o atendimento dos 2 já existentes, além de melhorar a qualidade do atendimento.

A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), Maria Helena Rodrigues de Souza Spolador, diz que existe a necessidade de um outro Conselho Tutelar no município, já que a demanda é muito grande.

O secretário municipal de Promoção e Assistência Social, Wilton Coelho, diz que irá inaugurar ainda este ano o Conselho Tutelar do Jardim Glória, para atender a região do Imperial e Mappin. O secretário diz que, além de conselheiros, é preciso equipar o local e ceder ao menos um veículo.

Serviço - Denúncias sobre maus-tratos contra crianças, de negligência a abuso sexual, podem ser feitas nos telefones dos Conselhos Tutelares de Várzea Grande, de segunda à sexta-feira, das 8h às 18 horas. Número 3688-3608 do Cristo Rei e 3688-3087 do Centro. Finais de semana e feriados, denúncias podem ser feitas pelos telefones 3688-3024 ou 3688-3084, do Creas, que funciona todos os dias e também durante à noite.

A família da menina F. continua precisando de doações para manter o tratamento da menina, que já saiu do estado de desnutrição e até engordou desde que deixou o hospital. Desde abril, a família vem recebendo ajuda de pessoas solidárias e até hoje tem fraldas descartáveis. O que está terminando é a comida, diz a avó, Eva Benedita da Cruz Oliveira. Há na casa 5 crianças, todas meninas, com idades que variam de 2 a 6 anos.

Quem quiser colaborar pode ligar para o telefone do Gazeta Digital, 3612-6320 (de manhã falar com Raquel e, à tarde, com Silvana) e trazer os donativos até A Gazeta. Para falar diretamente com a família, que mora em uma comunidade do distrito de Bonsucesso, o telefone é 9925-9319 (celular da dona Eva).





Fonte: A Gazeta

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