Publicidade
Repórter News - reporternews.com.br
Agronegócios
Quinta - 16 de Julho de 2009 às 09:39

    Imprimir


No dia em que o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, apresentou uma proposta de Código Florestal para a bancada ruralista da base governista e afirmou que se as regras atuais forem aplicadas à risca, mais de um milhão de produtores rurais deixariam as atividades e mais da metade da produção de arroz desapareceria, um dado o desmentiu. A organização não-governamental WWF divulgou, em São Paulo, um estudo mostrando que o Brasil pode dobrar a área agrícola cumprindo o Código Florestal e sem avançar as fronteiras da Amazônia. Basta o país converter as pastagens degradadas, estimadas em 30% dos 200 milhões de hectares de pastagens. O estudo, divulgado nessa quarta-feira, chamado "O impacto do mercado mundial de biocombustíveis na expansão da agricultura brasileira e suas conseqüências para as mudanças climática" foi realizado pela ONG a pedido da Allianz Seguros.

Segundo a pesquisa, se a conversão das pastagens degradadas não receber prioridade e a devastação continuar no ritmo atual, aproximadamente 10 milhões de hectares do cerrado serão desmatados nos próximos dez anos para a a produção de grãos e cana-de-açúcar. Os Estados do Maranhão e Piauí seriam os mais prejudicados, uma vez que perderiam 30% de suas coberturas vegetais nativas. O cerrado é o bioma brasileiro mais ameaçado pelo desmatamento e tem apenas 3% do seu território protegido.

"Se o nível de desmatamento do cerrado permanecer com está, até o final do século 35% das espécies arbóreas do cerrado vão desaparecer", afirma a analista do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da WWF, Karen Suassuana. "Haverá também uma queda de 70% da disponibilidade hídrica do Nordeste que prejudicará 20 milhões de pessoas do semi-árido", disse.

O estudo chama a atenção para o fato de que, mesmo cumprindo o Código, muitas áreas de vegetação nativa podem se tornar agrícolas. E essa expansão pode ocasionar uma grande perda de biodiversidade.

O Coordenador do Programa de Agricultura e Meio Ambiente da WWF, Cássio Franco Moreira, destaca que a expansão agrícola gerada por uma maior demanda de combustíveis gera pressão sobre as áreas de vegetação nativa e o desmatamento, principal responsável no Brasil pela emissão de gases de efeito estufa. O que leva o País ao desonroso ranking de quarto emissor mundial. A agricultura é a maior responsável pelas emissões, 58%, seguida da indústria, 15% e do transporte, 14%.

Para Karen, o esforço brasileiro na mitigação dos gases estufa é legítimo. E foi explicitado com o lançamento, no ano passado, do Plano Nacional de Mudanças Climáticas. O princípio do Brasil, que comprometeu-se a reduzir 70% do desmatamento até 2017 destaca-se em relação aos outros países do G5 - China, Índia, México e Africa do Sul. Enquanto o México anunciou que reduzirá 50% das emissões até 2050, a África do Sul só agora sinalizou que pretende reduzir 30% de suas emissões até 2050.

"No Brasil, todo o desmatamento está ligado a uma atividade econômica", ressalta a analista. "Mas se cumprirmos as metas do plano, estamos dando uma contribuição considerável, uma vez que o Brasil está entre os 13 países responsáveis por 80% das emissões em 2008", disse.

Falta tecnologia

Para Antônio Penteado Mendonça, especialista em ocupação do solo, as ações dos países pós Protocolo de Quito apontam que "o mundo não vai fazer o dever de casa". E que o Brasil só cumprirá as metas que se propôs, se desenvolver políticas de manutenção da floresta. A WWF também acredita ser urgente a implementação efetiva da economia da floresta e o pagamento de serviços ambientais como crédito de carbono, suprimento de água e valoração da biodiversidade.

"O Rio Grande do Sul, para citar um exemplo, já passa por um processo de desertificação intenso", afirma Penteado. "Antes desse quadro melhorar, ele ainda vai piorar muito. Mas precisamos parar de falar só de mitigação e aprender a lidar com os novos cenários e canalizar esforços para a adaptação", disse.

Segundo Karen, um agravante no caso brasileiro é o pouco investimento no desenvolvimento de tecnologias que favorecem a redução de emissões. Outro problema apontado por Karen é a "esquizofrenia" dado pelas autoridades brasileiras ao meio ambiente porque enquanto o governo lança um plano de mudanças climáticas, o Congresso Nacional discute uma Medida Provisória como a 458 - que regulariza as ocupações de terras na Amazônia e é tão criticada pelos ambientalistas que creditam a ela o aumento da devastação da floresta.





Fonte: JB Online

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/157180/visualizar/