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Economia
Segunda - 22 de Abril de 2013 às 15:18
Por: ISA SOUSA

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Mary Juruna/MidiaNews
Imponente com seus grandes casarios, e parte essencial da história e do desenvolvimento de Cuiabá, o Centro Histórico pouco se parece com a representatividade que deveria ostentar. Local das primeiras vias urbanas da cidade, e berço do comércio, hoje, o que se nota, é descaso, falta de poder público e contínuo trabalho de resistência de empresários e moradores. 

 
 
Com mais de 750 lojistas, a Associação dos Lojistas do Centro Histórico de Cuiabá (Achicba), sente os efeitos da pouca atenção à região. Segundo o o presidente da entidade, Paulo Salém, grande parte tem pelo menos uma história envolvendo furto, roubo ou assalto a mão armada. 

 
 
Além da criminalidade, impera a prostituição – velada ou não - e o exercício diário de conviver de forma harmoniosa com moradores de ruas e seus diversos problemas relacionados a vícios com álcool e outras drogas. 

 
 
“Se a prostituição começa a crescer e desenvolver demais ela traz outras coisas que não são boas para o comércio, como o tráfico de drogas, os arrombamentos noturnos e os assaltos às lojas. Tudo isso atrapalha, não há dúvida nenhuma”, disse. 


 
“Convivemos com andarilhos que invadem as praças, hippies que defecam no chão delas, nos calçadões, nas portas das lojas. Essas pessoas não são culpadas disso, são desvalidas vagando pelas ruas, mas elas atrapalham o comércio, atrapalham quem está trabalhando e nós não podemos abrir mão do nosso direito de trabalhar, de ir e vir em virtude dessas pessoas. A ação deve ser feita pelo Estado, mas de maneira correta. Não retirando daqui e afetando outro bairro, mas com políticas realmente públicas e de qualidade”, completou Salém. 



 
Impunidade 

 
 
Se por um lado a falta de segurança é a reclamação da maioria dos comerciantes, por outro o formato com que a vigilância policial é feita é desanimadora. 

 
 
Dono de uma loja de compra de ouro na Rua Voluntários da Pátria há 12 anos, Sidney Osório Santos afirmou ter sorte por nunca ter sido assaltado, mas disse que “virou rotina” ver usuários de drogas levando bolsas e relógios em um ponto de ônibus próximo de seu comércio. 

 
 
“A polícia fica diariamente na esquina da Prainha com a Voluntários da Pátria e, no período em que permanece, funciona. O que não funciona são esses ‘noiados’. Eles são presos em um dia e soltos no outro. As mulheres sãos as mais afetadas, no ponto assaltam de manhã até a noite, sem preocupação”. 

 
 
A opinião do “prende-solta” é a mesma de Denise da Glória, que possui um salão de beleza há sete anos na Rua Sete de Setembro e já passou por tentativa de assalto uma vez nesse período. 

 
 
“A polícia leva, prende, alguns ficam 1 dia, outros um mês, daí eles saem, fazem tudo que faziam de novo, tiram sarro da polícia e esse ciclo vicioso permanece. É uma situação chata e de desrespeito”. 

 

Judiciária Civil, de janeiro a março deste ano foram 75 ocorrências de roubos na região Centro Norte, na qual o Centro Historio faz parte, e 184 furtos de todas as naturezas, exceto de veículos. 


 
Ausência do Estado 



 
Prefeito de primeiro mandato, Mauro Mendes (PSB) entregou no final de março treze projetos de revitalização do Centro Histórico de Cuiabá. 



 
Caso aprovada, a iniciativa revitalizará nove casarões antigos e quatro praças, além do rebaixamento da fiação e alargamento de calçadas de diversas ruas. 

 
 
Para o dono do único mercado no entorno da região histórica, Gonçalo Amarante de Almeida, no papel os projetos funcionam de forma extraordinária e, se realizados, seriam um novo impulso para o comércio da região. O problema, no entanto, é entre a prática e a teoria. 

 
 
“As propagandas de todos os gestores que entram em relação ao Centro Histórico são idênticas. Na prática, não é o que temos visto. Quem sabe por conta da Copa do Mundo de 2014 alguma coisa melhore”, disse. Gonçalo trabalha há 33 anos na região. 

 
 
Esperança e sobrevivência 

 
 
Na avaliação de Paulo Salém, a falta de ações efetivas do poder público no Centro Histórico não gera apenas insegurança, mas desmotivação e sensação de esquecimento e por vezes abandono total de quem deveria zelar pelo local.Um dos maiores reflexos, nesse sentido, é a rotatividade das lojas. 

 
 
“Abre-se um comércio hoje e fecha-se daqui 6 ou 8 meses porque ele não resiste, seja em virtude da pressão, seja por segurança ou pela ausência do poder público no sentido de incentivar, de dar alguma assistência. Como os espaços são bons, logo são alugados, mas voltam a fechar em seguida. Essa rotatividade é o que queremos evitar, ela não é boa e reflete na economia. Queremos que o cidadão abra sua loja e que ela funcione por 20 anos ou mais. A rotatividade tem nos preocupado”, afirmou. 



 
Direito de ir e vir fica prejudicado com insegurança “Na verdade, os lojistas, comerciantes, empresários e cidadãos não deveriam sequer se preocupar com segurança. Isso é um papel do Estado. Quando nos mobilizamos, corremos atrás, reivindicamos, protestamos, é sinal de uma ausência do Estado e essa ineficiência e incapacidade de combater o crime prejudica uma cadeia completa. Se as coisas estivessem bem nós não estávamos protestando e correndo atrás”, completou. 

 
 
Para o comerciante Marco Antônio, que trabalha em uma joalheira aberta há 15 anos e assaltada duas vezes a mão armada, a situação é traumática. “Parece simples, mas o que queremos é segurança. E só”, disse. 

 
 
A esperança, segundo todos os entrevistados, é a instalação de uma base permanente da Polícia Militar prometida para os próximos 30 dias na Rua Sete de Setembro, próximo ao Beco do Candeeiro. 

 
 
Atualmente, apenas 8 policiais fazem a segurança do local, que engloba desde o Morro da Luz até a rua 24 de Outubro. São utilizadas somente uma viatura e duas bicicletas, uma das quais doada por um capitão da Polícia Militar. Com a criação da base da PM, esse número deve passar para pelo menos 30 homens, inicialmente. 

 
 
A ação deverá ser um início, mas não é o fim do problema. Segundo o comandante do 1° Batalhão, coronel Antônio Ibanez Filho, é preciso de ações que vão além da força policial. 

 
 
“Sinceramente não atribuo a situação do Centro Histórico a um descaso, mas é uma necessidade de olhar diferenciado. O que falta ali é um envolvimento mais forte do poder público municipal. Muitos usuários devem ser encaminhados para centro de tratamentos, os bares, fomentadores do tráfico na região, devem ter horários estipulados ou mesmo serem fechados. Cabe a Prefeitura promover a fiscalização, saber se esses locais têm alvará de funcionamento. A ação deve ser conjunta, envolver órgãos de controle e Poder Judiciário”, pontuou. 

 
 
Entre a esperança de serem atendidos e a necessidade financeira de tocarem seus negócios, os comerciantes contam com a sorte – às vezes falha – de sobreviverem mais um dia sem serem assaltados. É uma roleta russa. 

 
 
“Temos sobrevivido com heroísmo. Nós temos a história, a cultura, a variedade de produtos e a qualidade. Isso sem falar no ponto fundamental para a sobrevivência dos centros históricos que deveríamos ter: a liberdade de ir e vir. Nós precisamos respeitar esse direito do consumidor e fazer o centro ficar bom, para isso, no entanto, contamos com a ajuda do poder público”, afirmou Paulo Salém.





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