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Cidades/Geral
Sábado - 19 de Maio de 2007 às 14:02
Por: Jordi Joan Baños

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Durante quase um século, um quinto da humanidade foi governado daqui, a remota cidade que os britânicos usavam como capital de seus domínios na Índia a cada verão. Simla - hoje Shimla - se alternava com Calcutá na posição de centro do poderio britânico na Índia. A cada mês de abril, entre 500 e três mil funcionários britânicos, acompanhados de familiares e criados, faziam uma longa viagem para escapar ao calor de Calcutá, e se instalavam no sopé do Himalaia. A viagem de regresso só se realizava em outubro, e, em termos práticos, o vice-rei da Índia governava por mais tempo das alturas do que ao rés do chão.

Tudo começou em 1819, quando o primeiro súdito britânico construiu uma casa na frondosa e agradável paisagem da região, localizada a 2,2 mil metros de altitude e até então habitada exclusivamente por macacos. Muitos outros britânicos seguiram-lhe o exemplo, atraídos pelo clima e, gradualmente, pela agitada vida social. Ainda hoje, as principais artérias de Shimla, marcadas pela presença de grande números de chalé, remetem à paisagem campestre inglesa. Mas os britânicos desapareceram há muito. Em lugar deles, uma multidão de casais recém-casados faz de Shimla e da vizinha Manali uma nova capital indiana: a das luas de mel.

O número de hotéis e excursões dedicados aos recém-casados se multiplicou. Diferentemente dos ingleses do passado, os casais indianos preferem visitar a cidade em janeiro e fevereiro, quando ela fica recoberta por meio metro de neve. Os casais indianos modernos perpetuam, assim, de certa maneira, a fama licenciosa que Simla arrastou em suas décadas finais como centro do poderio britânico na Índia, um período em que a cidade era muitas vezes descrita na imprensa como "mácula ao bom nome da Inglaterra".

Em 1913, um leitor escrevia que "lá o jogo é a regra e não a exceção, há bailes, ceias e jogo a cada dia". Como ele, muitos criticavam o primeiro vice-rei que vaticinou que "um dia de trabalho em Shimla equivaleria a cinco em Calcutá". Mas Shimla só começou a perder influência quando sua posição de capital de inverno foi perdida para Nova Delhi, 370 quilômetros ao sul, nos anos 20.

O Estado-Maior britânico na Índia passou décadas instalado permanentemente em Simla, cidade estrategicamente posicionada a meio caminho das terras habitadas por gurkhas, pathans e punjabis, etnias belicosas da região que os britânicos costumavam empregar como soldados em seu exército colonial.

Os envolvimentos dos jovens oficiais em licença com as filhas e mulheres de altos funcionários causavam indignação, e serviram de motivo para o nome de Scandal Point concedido ao ponto nevrálgico de uma localidade onde a arma mais afiada era a língua e o inimigo mais terrível um marido ciumento. Além de suas ocupações mais frívolas, os ingleses também se dedicaram a construir um esplêndido teatro, escolas e igrejas, como o templo que domina o panorama da cidade. Para facilitar o acesso à excêntrica capital, eles também criaram uma pitoresca linha férrea que continua a funcionar.

A estação de montanha também foi pioneira na Índia em termos de água corrente, eletricidade e serviço telefônico. E isso na realidade só serviu para isolá-la ainda mais da realidade que a cercava. O contraste era tão dramático que levou um britânico de Shimla, A. O. Hume, a fundar o Partido do Congresso, que mais tarde, liderado por Nehru e Gandhi, conduziria os indianos à independência.

Shimla serviu de sede a numerosas conferências históricas. No castelo do vice-rei, que pareceria mais acomodado em Edimburgo do que no Himalaia, foi traçada a linha MacMahon, delimitando a fronteira entre Índia e China, e 30 anos mais tarde a linha entre a Índia e o Paquistão. Shimla voltou a se tornar capital, desta vez do Estado de Himachal Pradesh, quando da criação deste, em 1971.





Fonte: La Vanguardia

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