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Sábado - 03 de Fevereiro de 2007 às 15:38

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Um ano depois do crime, o juiz que escapou da morte depois de levar vários tiros, em Sinop, fala pela primeira vez. César Bassan deu uma entrevista exclusiva para a equipe da TV Centro América. O juiz que ficou paraplégico carrega muitas lembranças do dia 31 de janeiro de 2006.

"Eles bateram na traseira do meu carro. Eu desci pra conversar com eles e depois eu percebi que a coisa não ia ficar boa. Eu fui entrar no meu carro pra sair do local e um deles falou que eu não sairia dali. E aí começaram a atirar no meu veículo e em mim. Eu lembro que eles estavam embriagados também. Muito embriagados, mas sabiam o que estavam fazendo", conta o juiz.

O crime aconteceu no dia 31 de janeiro do ano passado em uma esquina na cidade de Sinop. O carro que o magistrado dirigia foi parar dentro de uma padaria.

O inquérito policial apurou que o juiz perdeu o controle do veículo após se envolver num acidente de trânsito e em seguida foi baleado. "Nós levamos essa investigação da melhor forma possível, fizemos da melhor forma possível,o que houve condições de fazer. Nós fizemos a reprodução simulada dos fatos, que esclareceram bastante o que não havia sido esclarecido no inquérito. Mas chegou ao fim e encaminhamos essa peça na justiça, que chegou ao julgamento final " defende-se Ricardo Damasceno, delegado de Sinop.

Dois dos acusados enfrentaram o juri. O terceiro foi retirado dos processos. Os julgamentos foram feitos separados e os réus considerados inocentes. "Na sessão do julgamento nós negamos a participação dele. Como ele foi denunciado e indiciado como sendo co-autor do delito, nós negamos a participação, ou seja, que ele tenha instigado ou induzido uma terceira pessoa a atirar. Havendo um novo julgamento, a tese vai ser a mesma. Logicamente que, como foi um resultado 4 a 3, um resultado apertado, não foi um resultado unânime, nós acreditamos que no próximo julgamento se mantenha esse resultado " explicou Celso Lins, advogado de um dos acusados.

"Eu vejo a absolvição deles como um ato de desconhecimento do corpo de jurados que atuou na época, porque a tese deles foi negativa de autoria. Ora, e quem atirou em mim? Fui eu mesmo que atirei em mim? Eles atiraram em mim. A caminhonete tinha bala na porta, bala no parabrisa, bala na traseira, bala no pneu. O local era público. Eu acho um absurdo a absolvição deles", disse Bassan.

O Ministério público responsável pela acusação durante o julgamento, entrou com recurso para anular as decisões. "Tanto em um como no outro processo, a decisão pra nós, no entendimento da acusação, foi contrária à prova dos autos", disse Claudio Alves Pereira, assistente de acusação.

A família e a assessoria do juiz acreditam em novo julgamento. "Não há, em nenhum momento, uma negativa de autoria do acusado Sérgio Müller,que foi efetivamente quem atirou. Ele não nega em momento algum que ele seja o autor do delito e não teve coragem de dizer 'Eu não atirei'. Ele não negou a autoria. A sociedade de Sinop disse: 'Não foi você'. Quando o juiz o indagou no plenário, se ele tinha atirado na vítima, ele não teve coragem de dizer 'Não atirei'. Ele disse que não se lembrava. Ora, não se lembrar de um fato dramático como esse, a pretexto de estar alcoolizado, é uma impropriedade", acusa um dos assessores do juiz.

A defesa dos acusados afirma que está preparada para outro julgamento. "Se o Tribunal de Justiça entender que há necessidade de fazer um novo julgamento, havendo recursos e o STJ e o STF confirmando, nós estaremos prontos, da mesma forma que nos preparamos para o primeiro julgamento", informou Celso Lins.

Sobre um novo julgamento, a vítima do atentado, juiz César Bassan, se limitou a dizer: "Eu espero que, se a justiça humana falhar, que a divina tome conta".

Hoje, Bassan vive numa cadeira de rodas e depende dos outros para fazer praticamento tudo. "Depois da velhice acontecer um fato desse... difícil. Só quem está na minha situação é que sabe. Em casa sofre todo mundo. Sofrem os filhos,sofre a mulher. Porque eu não posso ter um enfermeiro 24 horas em cima de mim...então é a mulher que ajuda. Às vezes dá banho, às vezes ajuda a trocar de roupa, dorme comigo pra me virar à noite porque eu não posso ficar dormindo numa posição só porque não pode formar escaras, feridas".

No quarto do juiz, na casa onde ele mora com a família em Cuiabá, hoje há uma cama de hospital. "A vida nossa virou do avesso e revirou. Porque nós tínhamos, cada um fazia uma coisa,cuidava de uma coisa, cuidava de outra. Hoje em dia, eu cuido praticamente sozinha. Então, eu abri mão de dar aula, de ir no cinema, de ir passear, ver meus filhos, ver meus netos. Eu não faço mais nada. É praticamente dentro de casa cuidando dele. Uma vida não é brincadeira. Uma vida a gente depende dela pra filho, pra família, pra sociedade. Meu marido vai fazer falta na sociedade", lamenta Zeolândia Lima Bassan, esposa do juiz.

César Bassan já passou por três cirurgias e ainda luta contra as complicações decorrentes dos tiros que levou. "Eu não sinto mais nada, não tenho sensibilidade, mas tô vivo".





Fonte: TV Centro América

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