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Agronegócios
Sábado - 13 de Maio de 2006 às 17:25

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Cerca de 500 trabalhadores rurais do distrito de Marechal Rondon, em Campo Novo dos Parecis (396 a Noroeste de Cuiabá), fecharam hoje (13) a rodovia MT-170, no KM125, em apoio ao protesto dos produtores rurais contra a política agrícola do governo federal. Desde que começaram em todo o Brasil os protestos batizados pelos produtores de "Grito do Ipiranga", é a primeira vez que os próprios empregados das fazendas tomam a iniciativa de realizar manifestações.

Isso porque, no distrito onde vivem 600 pais de família, em torno de 400 já perderam o emprego nas fazendas da região, que é grande produtora de soja e algodão, produtos afetados diretamente pela política cambial brasileira. Caminhoneiros que trabalham principalmente no escoamento da produção de grãos local também aderiram ao protesto.

Neste sábado, o governador Blairo Maggi esteve no distrito e se emocionou ao ver a situação de desespero de pessoas que, há menos de dois anos, estavam felizes e com a esperança de terem, enfim, encontrado um lugar para fincar suas raízes, por ocasião da inauguração do asfaltamento da MT-170.

O distrito de Marechal Rondon, fundado em 1990, fica a 42 quilômetros de Campo Novo dos Parecis e nele moram pessoas que vivem do trabalho de plantio e colheita nas fazendas. Estima-se que as fazendas produtoras de soja já tenham fechado 70% de seus postos de trabalho. Por causa disso, a escola da região já viu um quarto de seus alunos pedirem transferência ou desistirem do ano letivo.

O trabalhador Tenivaldo Santos do Prado, por exemplo, chegou há 6 anos no distrito e logo conseguiu um emprego na fazenda Bom Jesus, que produz soja. Há seis meses, porém, por conta da crise, está desempregado. "Tenho esposa e três filhos para cuidar. Mas eu sei por que fui mandado embora da fazenda e é por isso estou aqui hoje, fechando a estrada", afirmou ele, por telefone.

Em discurso dirigido aos trabalhadores, o governador Blairo Maggi prometeu que vai mostrar a situação pela qual eles atravessam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião em Brasília, na próxima terça-feira (16). "Vou mostrar ao presidente esse outro lado da crise. Vou dizer a ele que, se a situação não mudar, o desemprego vai se tornar um problema ainda maior, com reflexos em todo o país", disse.

Com o prefeito de Campo Novo dos Parecis, Sérgio Costa Beber Stefanello, o governador Blairo Maggi fechou uma parceria para que as famílias do distrito Marechal Rondon, em situação mais crítica, recebam bebidas e alimentos. Maggi também pediu aos produtores que evitem ao máximo dispensar trabalhadores. "Façam acordos, diminuam um pouco os salários, que seja, mas evitem mandar gente embora", pediu.

Falta de rentabilidade

De acordo com o vereador de Campo Novo e produtor rural, Chico Klein, se a rentabilidade da atividade agrícola não melhorar, não haverá fazendeiro que vai conseguir manter seus funcionários. "Aqui na região estamos gastando em média R$ 1.100 para produzir um hectare, ou cerca de 35 sacas de soja. Mas o problema é que nosso custo já está em 73 sacas por hectare e a única saída é parar de plantar", afirmou.

Segundo ele, nesta safra os produtores de soja da região enfrentaram todo tipo de problema: a falta de chuva na hora do plantio, a praga da ferrugem asiática no período de crescimento das plantas e o excesso de chuvas durante a colheita. "O nosso prefeito chegou a decretar Situação de Emergência no município diante de tantos problemas", disse.

Chico Klein chegou há 20 anos à região e, segundo relatou, nunca tinha passado por tamanha crise. Ele planta soja numa área de 1.800 hectares e, assim como outro produtor, Júnior Utida, está pensando seriamente em não investir na próxima safra.

Júnior Utida cultivou na última safra 5,2 mil hectares de soja e 600 hectares de algodão. Já teve 90 funcionários e hoje, para a colheita do algodão, mantém apenas 32. "Daqui a alguns dias, se a coisa não melhorar, vou manter apenas um ou dois empregados, o suficiente para fazer a guarda da propriedade".

No final da tarde, a pedido do governador Blairo Maggi, que falou da importância da comemoração do Dia das Mães neste domingo (14), os trabahadores liberaram o tráfego na rodovia. Na segunda-feira (15), véspera do encontro dos governadores de Estados produtores com o presidente Lula, a rodovia será novamente fechada.





Fonte: Da Redação

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