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Cidades/Geral
Sexta - 05 de Maio de 2006 às 19:40

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O jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, 69 anos, foi condenado a 19 anos, 2 meses e 12 dias de prisão, em regime fechado, pelo assassinato de sua ex-namorada Sandra Gomide, no dia 20 de agosto de 2000. A sentença foi conhecida às 17h desta sexta-feira (5/5), após mais de 34 horas de julgamento, realizado no Tribunal do Júri de Ibiúna, e cinco anos, oito meses e 15 dias depois do crime.

Antes de os jurados se reunirem, no início da tarde desta sexta-feira, defesa e acusação realizaram os últimos debates, em sigilo, devido ao fato de os autos conterem peças que estão sob segredo de justiça. Somente o juiz, os jurados e as partes permaneceram na sala. O pai de Sandra, João Gomide, disse achar "uma vergonha" a decretação do sigilo sobre o debate, porque sua família queria acompanhas as discussões. "Não sei se será feita justiça."

Os debates começaram na noite de ontem, também em sigilo, e o juiz Diego Mendes decidiu suspender a sessão de madrugada, por volta da 1h15, a pedido de dois dos sete jurados, que alegaram cansaço.

Segundo o assistente da acusação, Sergei Cobra Arbex, ele e o promotor Carlos Sérgio Horta Filho defenderam que o crime foi premeditado, se deu por motivo fútil (ciúme) e sem possibilidade de defesa da vítima. Ainda de acordo com ele, a advogada do jornalista, por sua vez, procurou demonstrar que seu cliente agiu “sob forte emoção”. "Não houve violenta emoção porque ele (Pimenta Neves) não tem emoção", disse Arbex à imprensa, na madrugada de hoje. A advogada de Pimenta Neves não falou com os jornalistas.

Ontem, segundo dia de julgamento, foram ouvidas, entre as 10h10 e as 19h20, oito testemunhas. As de acusação procuraram afirmar que o crime foi premeditado e que Pimenta Neves maltratava Sandra. As testemunhas de defesa se dedicaram a destacar que o réu tem qualidades éticas e que estava abalado emocionalmente à época do crime.

Antes dos debates, por mais de nove horas, oito testemunhas prestaram depoimento. As de acusação procuraram afirmar que o crime foi premeditado e que Pimenta Neves maltratava Sandra. As testemunhas de defesa procuraram destacar que o réu tem qualidades éticas e que estava abalado emocionalmente à época do crime.

Acusação O primeiro a depor ontem foi o pai de Sandra, que disse acreditar que o crime foi premeditado, que Pimenta Neves maltratava Sandra, que ele mostrava constantemente sua arma e que o julgamento só demorou quase seis anos para acontecer porque o jornalista tem mais dinheiro do que sua família.

"A minha mulher me culpa porque eu não fiquei com a minha filha no dia do crime. Saí do haras às 14h, e ele a assassinou às 16h. Ele estava premeditando há muito tempo. Por que não a assassinou enquanto eu estava por perto?", disse João Gomide, ao ser interrogado. "Seis anos esperando só porque ele tem dinheiro e eu não tenho. Ela era a melhor coisa que eu tinha na vida. Fiquei arrasado, passei a não acreditar em nada." João Gomide disse ainda que o jornalista chegou a agredir Sandra e que maltratava os funcionários do haras em que tinha cavalos. "Ele se sentia o próprio governador."

Em seguida, prestou depoimento Delmar Setti, dono do haras em que o crime ocorreu. Ele falou ao júri que não presenciou o assassinato, mas que ouviu os tiros. Após depor ao júri, Setti disse à imprensa que não tem dúvidas de que o crime foi premeditado e que Pimenta Neves ficou conversando com ele até a hora do crime, perguntando sobre quem chegava e quem saía do haras. O dono do haras afirmou aos jornalistas que chegou a ver Pimenta Neves guardando a arma.

Ao depor, Marlei Setti, mulher de Delmar, disse ao Tribunal do Júri ter ouvido de Sandra Gomide que ela estava sendo ameaçada de morte por Pimenta Neves. Marlei, que também contou aos jurados ter presenciado o segundo e último disparo, contra o ouvido de Sandra, nunca havia falado à Polícia Civil nem ao Ministério Público sobre a conversa com Sandra. Ela afirmou que inicialmente queria se preservar, mas que resolveu revelar as ameaças devido à demora para a realização do julgamento.

Marlei disse que conversava com Sandra, que teria lhe dito: "Eu já gostei muito dele, mas estou magoada". Segundo Marlei, no dia em que contou sobre as ameaças de morte, Sandra tinha um hematoma no pescoço, o que seria uma evidência de agressão física sofrida. De acordo com a testemunha, "depois do segundo tiro, ele (Pimenta Neves) ficou calmo, nem parecia que tinha cometido um crime", disse ao júri. Defesa

O psiquiatra Marcos Pacheco, que recebeu Pimenta Neves em sua clínica nos dias compreendidos entre o assassinato de Sandra Gomide e a prisão preventiva do acusado, disse que o jornalista "é racional, mas tem dificuldade para lidar com a emoção" e que não acredita que o crime tenha sido premeditado. Outras quatro testemunhas (três jornalistas e a irmã de Pimenta Neves) também procuraram mostrar que o réu era uma pessoa ética e que viveu um período de forte emoção.

"Tenho uma convicção: Pimenta Neves não tinha a intenção de matar. Minha sensação é de que foi do encontro da perda de controle com o porte de arma", disse Pacheco ao júri. De acordo com ele, 90 dias antes do crime, Pimenta Neves apresentava um quadro depressivo. Ao ouvir o depoimento do médico, Pimenta Neves limpou os olhos e o nariz com um lenço, demonstrando estar chorando. O réu permaneceu todo o tempo de cabeça baixa. O pai de Sandra se mostrou contrariado ao ouvir o depoimento do médico. O psiquiatra preferiu não dar declarações à imprensa por estar sob "sigilo profissional".

A pedido da defesa também prestaram depoimento a irmã do réu, Isabel Pimenta, e os jornalistas Roberto Müller, pai da advogada Ilana Müller, Maria Luiza Pastore Gonzales e Valkíria Campos, todos ex-colegas de redação de Pimenta Neves.

Todos os depoimentos da defesa procuraram mostrar que o réu era uma pessoa ética, mas que teve uma crise emocional muito forte provocada pela separação, imposta por Sandra. Mas Müller confirmou que Pimenta Neves costumava andar armado.

O primeiro dia do júri O julgamento de Pimenta Neves começou às 9h20 de quarta-feira, e o primeiro dia foi tomado pela leitura dos autos do processo, de 11 volumes, prosseguindo até as 23h. A advogada de Pimenta Neves não abriu mão da leitura, apesar dos insistentes pedidos do promotor Horta Filho para que o andamento do júri pudesse ser acelerado.

À noite, o próprio juiz Diego Mendes fazia a leitura dos autos, após ter dispensado o oficial de justiça, exausto, por volta das 20h. Por alguns minutos, por volta das 17h40, um dos jurados chegou a cochilar. Ele abaixou a cabeça e fechou os olhos, levantando o pescoço de repente, assustado, após um burburinho da platéia de 40 pessoas, entre jornalistas, familiares e curiosos que acompanham o júri em Ibiúna.



Antes da leitura dos autos, após a apresentação dos jurados e os pedidos, negados, de decretação de nulidade do júri, Pimenta Neves deveria ser interrogado pelo juiz, mas preferiu não responder a nenhuma questão levantada pelo magistrado. Seguiu orientação de sua advogada, autora da tese “Direito ao silêncio no processo penal brasileiro: direito de permanecer calado e não se auto-incriminar”.





Fonte: Só Notícias

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