Vítima acorda para a última viagem

Pouco antes de fazer a última viagem da madrugada, o taxista Luiz Carlos da Conceição dormia no banco do carro, enrolado em um cobertor. O primo Eronides da Luz disse que nos últimos meses Luiz vinha pensando em mudar de ramo. Mas se preocupava com o sustento da família, já que não sabia fazer outra coisa. Há um mês havia sido assaltado. Foi abandonado com o veículo no bairro Altos da Serra. Na época ele ficou muito assustado e contou que já tinha sofrido pelo menos cinco assaltos na carreira. Há cerca de 8 anos escapou de assaltantes quando trafegava pela avenida 15 de Novembro. Como era madrugada, policiais militares passaram muito próximos ao veículo e suspeitaram quando Luiz piscou para um deles. A viatura fechou o táxi e os assaltantes foram rendidos, contou o primo da vítima.

Mas desta vez não havia policiais para salvar a vítima da execução. Taxistas revoltados reclamaram que as blitze que eram realizadas com freqüência pela Polícia Militar não acontecem mais.

Bairros como o Jardim Vitória, Florianópolis e Três Barras, são os de mais alto risco para taxistas. A negativa de Luiz em atender um grupo de jovens há um mês, na festa do Cafofo, no CPA, pode ter selado seu destino. Colegas disseram que na ocasião ele foi ameaçado pelos supostos passageiros.

O presidente do Sindicato dos Taxistas, Antônio Bodnar, diz que são pelo menos 30 assaltos mensais que a categoria enfrenta na Grande Cuiabá. Mas poucos chegam a ser registrados. A lentidão da polícia até para ouvir as vítimas faz com que muitos desistam da queixa. É o caso do taxista Antônio Junior. Assaltado às 2h da madrugada do dia 1º deste ano, deixou a delegacia sem dar queixa, às 10h30, já que até aquela hora não conseguiu ser ouvido pelo delegado. A proibição de armas e a obrigatoriedade de usarem o cinto de segurança é criticada pela classe que se sente muito exposta.