Repórter News - reporternews.com.br
Polícia Brasil
Quarta - 03 de Maio de 2006 às 08:08

    Imprimir


Acompanhe na íntegra a entrevista concedida por João Arcanjo Ribeiro ontem pela manhã: Pergunta – Pode nos dar alguns detalhes sobre como ocorreu a fuga, como consegui se livrar do cerco policial de dezembro de 2002, contra Operação Arca de Noé? Arcanjo - Não houve fuga. Eu não estava aqui. Eu acompanhei essa situação toda e o que aconteceu? Fiquei distante. Pensava que era questão de dias para se resolver. Pergunta – O senhor é acusado em ter chefiado o crime organizado em Mato Grosso durante 20 anos. Chefiou o crime organizado ou apenas gerenciava os negócios a mando de um grupo superior? Arcanjo – Vou lhe fazer uma pergunta. O que seria crime organizado? Pergunta – Crime organizado é quando pessoas se reúnem e praticam ações delituosas, contravenções, evasão de divisas. Arcanjo – Se isso é crime organizado, nunca mexi com crime organizado. Eu simplesmente fui, até 2002, o dono do jogo do bicho. Isso não quer dizer que é o crime organizado. Para ser mais preciso até 5 de dezembro de 2002. E agora eu estou ausente. Pergunta – Temos notícias de que foi um policial civil. Queremos entender como uma pessoa que tinha essa posição conseguiu se tornar detentor de tantos poderes em tão curto prazo de tempo. E como conseguiu comandar o jogo do bicho por tanto por tanto tempo, mesmo em se tratando de uma contravenção, sem a interferência do poder público? Arcanjo – Houve sempre interferência, houve sim. Só no Nordeste é ‘mar de rosas’, é calmo, não há turbulência. Em todo o Brasil o jogo do bicho funciona, em toda cidade. Pergunta – Como conseguiu driblar a interferência das autoridades? Arcanjo – Sempre houve interferência. Pergunta – Mas se manteve o jogo? Arcanjo – Mas em todo lugar se mantém. Aqui não é exceção, não. Pergunta – Mas como mantinha isso? Fazia acordo, pagava propina para a polícia? Fazia acordos? Arcanjo – Lógico que não. O dinheiro não dava para pagar. Se tivesse que pagar era melhor parar. Pergunta – Comenta-se que seu faturamento com o jogo do bicho era de R$ 40 mil por dia. Quanto era? Arcanjo – Gostaria que fosse. Não era nem próximo disso aí. O jogo de bicho é um jogo de lavadeira. É um jogo pequeno, não chega a esse valor. Pergunta – Disse que não estava aqui naquele dia 5 de dezembro de 2002. Arcanjo – Por sorte minha Pergunta – Estava onde? Arcanjo – Em Goiás. Pergunta – A negócios? Arcanjo – Não, eu tenho família em Goiás. Tinha acabado de chegar lá quando aconteceu. Aí, no mesmo dia, eu saí. Pergunta – E dali foi para o Uruguai? Arcanjo – Não. Aí eu fiquei em um hotel no meio do caminho, porque eu achava que em uma semana isso se resolveria. Depois foi prorrogando, prorrogando... Pergunta – Ficou sabendo da operação Arca de Noé antes de sua deflagração? Arcanjo – Jamais. Pergunta – O senhor estava na fazenda de um político aguardando este desfecho? Arcanjo – Gostaria, porque aí ficava até hoje. Pergunta – No dia da operação Arca de Noé, a Polícia Federal foi até sua casa e lá encontrou alguns documentos, entre eles uma cópia de uma reportagem que nunca foi publicada na revista Isto É. E essa reportagem dizia detalhes de como seriam suas ações delituosas. A Isto É recebeu dinheiro para não publicar a entrevista? Arcanjo – Isso foi plantado na minha casa. Eu não tinha essa reportagem. Eu nem tinha conhecimento dessa reportagem. Então se falarem que isso foi encontrado dentro da minha casa, lá não foi, porque não tinha conhecimento disso. Eu vi depois na imprensa. Pergunta – E ofício do Ministério Público para o ex-secretário de Segurança Pública, Benedito Corbelino, pedindo investigação com relação às suas empresas? Arcanjo – Não foi em minha casa, foi no meu escritório. Pergunta – Havia algum informante que lhe passou este documento? Arcanjo – Isso chegou. Chegou lá um envelope e a pessoa não quis se identificar. Pergunta – Tinha ambição política? Arcanjo – Nunca tive, todo mundo sabe disso. Pergunta – Agora ninguém lhe conhece. Como reage a isso? Saber que tantos amigos políticos que freqüentavam suas rodas, suas festas, hoje viraram as costas? Arcanjo – Isso é normal. Isso não é novidade. Pergunta – Por que foi para Uruguai? Tem negócios naquele país ou pretendia abrir negócios ali? Arcanjo – Se eu fosse ficar lá, é lógico que eu ia montar um negócio para subsistir. Eu fui pra lá porque eu achei mais fácil, poderia ser o Paraguai, a Argentina. Pergunta – O senhor exercia uma certa influência no Uruguai, porque tinha negócios lá, tinha uma offshore lá? A Roanoake? Arcanjo – Não, essa eu não conheço. Todo mundo sabe, a que eu tinha lá era a Lyman. Pergunta – Tinha planos de construir um cassino no Uruguai, chegou até a comprar uma área grande para esse empreendimento? Arcanjo – Não, não comprei e nem pensei nisso. Pergunta – Por que usou nome falso no Uruguai? Arcanjo - Nunca usei nome falso no Uruguai. Pergunta – Mas foi preso por falsidade ideológica. Arcanjo – Ao sair do Brasil, para evitar que fosse preso na barreira, eu saí (com documento falso). Pergunta – E lá, a identidade era sua? Arcanjo – Era minha. Aí o que aconteceu: buscaram por onde eu entrei e viram que entrei com outro nome. Pergunta – O dono do jornal Folha do Estado, Sávio Brandão, em 2000 colocou na manchete do jornal dele: João Arcanjo, o Al Capone de Mato Grosso. Isso o incomodou? Arcanjo – Muito pelo contrário. Jamais. Pergunta – Pelo contrário? Quer dizer que concordava com a situação? Arcanjo – Não. Quando isso incomoda, incomoda, quando não incomoda, pelo contrário, não incomodou. Pergunta – O Sávio Brandão chegou a ser seu amigo? Arcanjo – Não amigo, conhecido. Sempre quando a gente se encontrava, cumprimentava, mas não era amigo. Pergunta – O senhor disse em depoimento à Polícia Federal que os deputados José Riva e Humberto Bosaipo lhe devem R$ 15,4 milhões. Arcanjo – Sem ser corrigido. Por favor, não vai falar que é só isso aí porque aí a turma chega aqui pra me pagar. Pergunta – Eles dizem que nunca existiu essa dívida, que o Riva nunca foi até sua factoring, que nuca houve negócio algum. Poderia dizer como Riva e Bosaipo contraíram essa dívida? Arcanjo – Ele pegou o dinheiro e ficou devendo. Pergunta – Mas ele pegou para pagar servidores da Assembléia Legislativa, para campanha, ou o governo não tinha passado do duodécimo e o senhor bancou? Arcanjo – Eu era o dono, mas tinha o diretor, o gerente, tinham vários gerentes e as pessoas que faziam negócio diretamente. Eu não ia lá para falarem assim: vai fazer operação, Arcanjo. Não. A pessoa central era Nilson (Teixeira), o Joaquim. Pergunta – Mas para emprestar R$ 15,4 milhões tem que haver uma causa. Arcanjo – Eu tinha um diretor que avaliava risco. Então ele é quem sabia certinho, analisava tudo. Pergunta – Mas o senhor emprestou? Arcanjo – Que foi emprestado, foi, sem dúvida. Pergunta – Inclusive empréstimo para outros políticos? Arcanjo – Houve várias operações, mas muitas vezes operações legais, pequenas, para vários políticos. Pergunta – E quem deve o senhor hoje, tem clareza disso? Arcanjo – Não, tenho que pegar a documentação, ter acesso a documentação. Pergunta – Os deputados Riva e Bosaipo é certeza? Arcanjo – Sim. Pergunta – Antero Paes de Barros? Arcanjo – Eu nem sei se ele operou. Pergunta – Riva e Bosaipo dizem que o senhor mentiu. Arcanjo – Menti onde, sobre o dinheiro? Pergunta – E que eles tentaram resgatar as notas promissórias já pagas e que disseram que tinham sumido. Arcanjo – Uma pergunta aí: você tem coragem, você vai pagar a mim R$ 100 e não vai pegar o cheque de volta. Você tem coragem de fazer isso? Essa é a minha pergunta. Cem reais só. Você me deve cem reais: “ah, eu vim pagar Arcanjo, cadê o cheque? Ah, eu perdi. Então, me dá aqui o dinheiro, vou guardar o dinheiro aqui e depois eu te pago quando você achar o cheque. Se não achar, pra mim é melhor. Eu acho que seria a lógica. Agora, eu tenho certeza disso aí. Se ele mostrar a contrapartida que pagou, eu não vou discutir. Eu quero o que é certo, se não deve, não deve. Se deve, eu quero receber. Pergunta – Arcanjo financiou ou não as campanhas de 98 e 2002 do PSDB? Arcanjo – Ninguém que ia pegar o dinheiro e dizer: ‘isso aqui é para campanha’. Ninguém falava isso. Geralmente na véspera de campanha, na época, ninguém fazia operação. Na época era muito difícil. Pergunta – Eram quantos meses antes? Arcanjo – Eles é que sabiam certinho. Se eu for fazer uma campanha, eu vou saber a programação. Pergunta – E outras campanhas, antes de 98, e a de 2000, que está entre 98 e 2002? Algum político te procurou para financiar campanha? Arcanjo – Nunca político me procurou falando que era para financiar campanha. Dizendo: ‘olha isso aqui é para campanha’. Se por acaso tivesse alguma operação com essa finalidade, ninguém explicava. Até se você perguntasse, a pessoa teria resposta para dizer que não. Pergunta – Fez alguma doação de bens pessoais para campanha? O que e para quem? Qual partido? Arcanjo – Sim, uma coisa pequenininha. Foi assim, cinco mil. Mas não lembro pra quem. Pergunta – Mas no depoimento à Polícia Federal o senhor diz vários nomes? Arcanjo – É ao inverso. Eu confirmei que fizeram operações pequenas, de cinco mil, dez mil. Eu não sabia quem ia lá, o Nilson é que cuidava. Algumas vezes eu encontrei político lá. Esse pessoal às vezes fazia operações que eu ficava sabendo. Não é que eu tinha certeza, mas eram operações pequenas, dignas de qualquer pessoa fazer. Pergunta – Como o senhor passou do mercado do jogo do bicho para o ramo de empréstimo? E aproveitando: sua fama era de agir com truculência com as pessoas que lhe deviam. Há rumores de que as pessoas apanhavam, eram maltratadas. Isso é verdade? Se não é, de onde acha que surgiu essa fama? Arcanjo – Isso é mentira. Agora, como saiu a fama eu não sei. Vê se você encontra alguém que sofreu violência, que eu mandei fazer. Nunca mandei fazer. Pergunta – Mas poderiam ser os seus cobradores? Arcanjo – Eu nunca tive cobradores. Eu terceirizava minha cobrança. Pergunta – O sargento Jesus (José Jesus de Freitas), por exemplo? Arcanjo – Ele tinha uma empresa constituída. Pergunta – Coronel Lepesteur? Arcanjo – Nunca fez cobrança para mim, ele sempre fez cobrança, mas nunca pra mim. Agora, o Jesus fez, mas o Lepesteur é meu amigo. Pergunta – Que outros serviços o sargento Jesus fazia? Só de cobrança? Arcanjo – Só. Ele tinha uma empresa, parece que está no nome da esposa dele, não tenho certeza. Só fazia cobrança. Tinha uma empresa de assessoria e cobrança, só podia fazer cobrança empresa constituída. Pegava cópia do documento e anexava na pasta de cobrança. Pergunta – E ele prestou serviço durante quanto tempo para suas empresas? Arcanjo – Exato assim eu não sei não, mas eu sei que foi algum tempo. O Nilson é quem mexia com isso. Ele era o diretor, era o encarregado. Chegou lá e falou: ‘a partir de agora só com empresa de cobrança’. Antes não tinha essa exigência. Pergunta – Que tipo de relação o senhor tinha com Rivelino Brunini? Constam nos autos que ele foi morto em decorrência de tentar roubar o espaço dentro de um esquema de exploração de máquina caça-níqueis. O senhor foi indiciado como mandante. Além da morte do Rivelino, o Valdir Pereira também teria morrido em decorrência dessa briga de espaço. Arcanjo – Vou explicar. Eu nunca mexi com caça-níquel. Pergunta – Mas as máquinas tinham a marca da Colibri? Arcanjo – Quando eu vi o selo da Colibri pregado, eu comecei a brigar para tirar. Não era minha. Inclusive todo mundo sabe, a polícia sabe que depois da investigação chegou-se à conclusão de que não era minha. Pergunta – A irmã do Rivelino Brunini prestou depoimento na Justiça Federal. Ela afirmou que foi o Brunini quem trouxe o pessoal do Rio de Janeiro a Cuiabá a fim de conversar com o senhor e pedir essa autorização. Arcanjo – Ele foi a única pessoa que pediu. Eu não queria deixar que entrar aqui para que não surgisse esse tumulto das máquinas igual tinha lá. Pergunta – Afetava seus negócios? Arcanjo – Não. Pergunta – Então por que o impedimento? Arcanjo – Para evitar que tivesse esse tumulto, igual há no Rio de Janeiro e em outros lugares. Briga por espaço de máquinas. Pergunta – Como impediu isso? Arcanjo – Há um respeito com quem mexe com jogo do bicho. As pessoas respeitam. Então, as pessoas pedem para você. O Brunini pediu, o Jesus pediu. Pergunta – E o Mauro Manhoso pediu para começar a loteria eletrônica? Arcanjo – Ele não mexia com isso. Eu acho que é engano seu. Ele nunca mexeu com loteria eletrônica. Pergunta – Conheceu-o pessoalmente? Arcanjo – Ele fazia um sistema de bingo bem perfeito. Pergunta – E bingo, já atuou nessa área? Em Brasília? Arcanjo – Não. Pergunta – Qual relação o senhor tinha com (o cabo) Valdir Pereira? Arcanjo – Eu o conhecia, mas nunca tive amizade. Cumprimentava de longe, mas nunca fui amigo, nem inimigo. Pergunta – O senhor disse que quem mexe com jogo de bicho as pessoas respeitam. Por quê? Arcanjo – Todo mundo respeita todo mundo. Pergunta – E essas pessoas: Jesus tinha ligação com o vereador, que tinha ligação com Rivelino. De repente essas pessoas são todas assassinadas. Arcanjo – Uma pergunta: o Jesus tem ligação com o Brunini? E com qual vereador? Pergunta – Valdir Pereira. Arcanjo – Eu não sabia. Pergunta – Que tinha ligação com o Rivelino por conta das máquinas. E eles são todos assassinados. O Jesus o senhor disse que era seu amigo. Arcanjo – Correto. Pergunta – Sendo amigo, o senhor sabe o que está se passando. Hércules o matou. Arcanjo – Eu pensava que era o pessoal do Rio que tinha matado ele. Agora eu sei que não, mas tinha minhas dúvidas. Eu achava que era o pessoal de fora, pessoal do Rio. Pergunta – Ainda na questão do Sávio Brandão, o senhor nega, desde o primeiro dia. Arcanjo – E a verdade vai aparecer e conto com vocês, que são certinhos. Perguntas – Mas o senhor sabe quem teria mandado matar Sávio Brandão? De quem suspeita? Arcanjo – Vocês é que têm que me ajudar, vocês que estão de fora. A verdade a gente sempre descobre. Pergunta – Passa pela sua cabeça algum nome? Arcanjo – Jamais. Pergunta – A partir daquela fita? Arcanjo – Eu acho que aquela fita vai abrir uma visão, vai clarear um pouco, acho eu. Pergunta – O que está sendo dito agora é que o filho de um membro do Poder Judiciário teria sido o mandante do assassinato de Sávio Brandão? Por que motivo teria sido? Houve um processo de investigação a partir do momento em que aquela fita chegou até vocês, não? Arcanjo – Esse é o meu objetivo, o que estou buscando é a verdade. Eu quero que a imprensa investigue. Nenhuma verdade escapa da imprensa. Eu conto com vocês: que achem a verdade. Pergunta – O senhor conhecia alguma informação sobre inimigos de Sávio Brandão? Arcanjo – Não. Pergunta – Ou alguém que quisesse mandar o senhor para a cadeia e ele para o cemitério e aproveitar e dominar o mercado? Arcanjo – Pode ser. Gostaria que vocês dessem uma força, me ajudassem. Pergunta – Ainda sobre a questão do PSDB. As investigações estão dizendo que havia R$ 5,7 milhões e houve uma quebra de sigilo bancário do dono do jornal A Gazeta, João Dorilêo Leal, que o senhor era amigo dele. O dinheiro ia para campanha por meio do dono deste jornal. Arcanjo – Isso aí, já quebrou o sigilo, já comprovou isso aí? Pergunta – Está nas investigações. E algumas vezes o senhor já foi visto lá na Gazeta. Por quê? Arcanjo – O Dorilêo é meu amigo, achava, era meu conhecido, não sei. Pergunta – O senhor emprestou dinheiro para ele pagar a campanha do PSDB? Arcanjo – Eu não. Pode ser até que ele fez operações na empresa. Mas nunca falou comigo. Ele sabia que era com o Nilson, nunca falou comigo sobre operações. Pergunta – Qual o nível de amizade de vocês dois? Arcanjo – Vou explicar. Conheci ele há muito tempo. Ele não era nem jornalista. Então, a gente era conhecido, velho conhecido. Não sabia se era amigo. Eu dava cascudo nele, ele dava em mim. Pergunta – Desse pessoal da ‘velha guarda’, quem são os políticos hoje que freqüentavam suas rodas, que tomavam dinheiro emprestado? Quem eram seus amigos naquela época e que hoje são políticos importantes no Estado? Arcanjo – Não tem político. Pergunta – Não existe por exemplo alguma dívida do (ex-governador) Júlio Campos? Arcanjo – Eu tenho que ver certinho, eu acho que não. Pergunta – O Júlio Campos não era seu amigo? Arcanjo – Ele sempre foi uma pessoa muito importante. Eu era amigo dele, agora não sei se ele era meu amigo. Pergunta – Mas vocês sempre tiveram uma relação próxima? Arcanjo – Sim. Pergunta – Ele ajudou em algum momento alavancar seus negócios? Arcanjo – Não. Ele (apontando para o repórter da Folha do Estado) investigou lá na Caixa Econômica. Eu mexi com garimpo muito tempo. Fala aí agora, rapaz, você investigou e agora fica calado. Cheguei vender até 480 quilos de ouro por ano. Investiga primeiro. Eu vendia ouro. Eu não era garimpeiro, mas não é que eu mexia lá na terra. Eu tinha máquina, várias dragas. Pergunta – Como o senhor se tornou o grande poderoso, que emprestava dinheiro para todo mundo, partindo do jogo do bicho? Como foi essa transição? Arcanjo – Poderoso! Fiquei até surpreso. Pergunta – Mas sabe que é. Tem um patrimônio de R$ 2 bilhões. Arcanjo – Vamos então agora cobrar essa diferença, né?! Pergunta – Como foi a transição do bicho para o mercado de empréstimo de dinheiro? Arcanjo – Eu fui montando várias empresas. Não sei se você sabe. Era o maior produtor de peixe do mundo. Não, o segundo, porque o primeiro era um americano. Vendia 500 toneladas de peixe por mês. Pergunta – Então o que alavancou os seus negócios foi a piscicultura? Arcanjo – Não, o que alavancou foi o garimpo, que foi forte. Depois fui formando outras empresas. Agora, as factorings foram importantes, muito importantes. Pergunta – Como o senhor conseguiu ser o dono do jogo do bicho em Mato Grosso? Arcanjo – Porque não tinha dono. Pergunta – Tinha dono sim, Edvaldo Ribeiro. Arcanjo – Eu já era dono antes dele. Pergunta – Então ele era um ‘laranja’? Arcanjo – Não, ele não era. Depois ele entrou como parceiro. Pergunta – É verdade que ainda mantém R$ 10 milhões na praça para emprestar a juros de 6%? Arcanjo – Meu dinheiro é maior do que esse aí. Pergunta – Mas para empréstimo? Arcanjo – Não, não tem. Pergunta – Sabe quem mantém o jogo do bicho hoje? Arcanjo – Ele está bem fraco. Mas não estou sabendo não. Pergunta – Seria alguém da sua família, seu genro ou seu irmão? Arcanjo – Não sei. Meu objetivo hoje é buscar a verdade e sair dessa situação. Aí é que vou buscar outras coisas. Pergunta – Voltando a história das máquinas caça-níqueis, quem era Júlio Bachs? Arcanjo – Era um rapaz que estava trabalhando aqui com máquina caça-níquel. Pergunta – Ele era seu sócio em uma empresa? Ele tinha 10% de uma empresa sua? Arcanjo – Que empresa que é? Essa empresa não existe. Pergunta – Era uma empresa de explorar jogos eletrônicos, a Mundial Games? Arcanjo – Nunca mexi com game, com caça-níquel, fliperama. Nunca mexi. Pergunta – Além de ouvir falar, conhece Célio Alves, conhece o Hércules, João Leite e Fernando Belo? Arcanjo – Nunca conheci o Célio, vi na imprensa, nunca vi antes. Pergunta – Mas ele fazia cobrança para suas empresas? Arcanjo – Nunca fez cobrança. Nunca. O João Leite sim, eu sabia que fazia cobrança para a empresa, não para mim. Eu o vi algumas vezes. Eu tinha o hábito de chegar na empresa. Ele ia lá, quem estivesse lá eu cumprimentava, todo mundo. Pergunta – E essas pessoas que são sempre citadas nos assassinatos, o senhor teve alguma tipo de relação com alguma delas, a não ser o João Leite? Arcanjo – Não. É Deus, porque eu sou filho de policial, todos os policiais aqui sempre me cumprimentavam, paravam, me davam atenção. E por sorte eu nunca falei com eles. Eram policiais, mas eu nunca conversei com eles. Se já tivessem falado comigo, já tinham me pregado na parede. Pergunta – O senhor teve alguma relação com as fugas do Célio e do Hércules aqui desta penitenciária? Arcanjo – Não, porque você não investiga quem os patrocinou. Pergunta – Tem alguma suspeita? Arcanjo – Não, não sei. Pergunta – O senhor diz que o senador Antero Paes de Barros o procurou em uma fazenda sua em 2002 e lá ele disse que estava atrás de dinheiro. Aí o senhor disse a ele: vá procurar o Nilson, que isso aí é com o Nilson. Isso de fato ocorreu? Arcanjo – Não. Não foi em 2002. Ele esteve lá sim, não me lembro a época. Ele esteve lá na fazenda com mais duas pessoas, dois empresários, não sei quem são os empresários. Já tentei lembrar quem são. Ele falou que eram donos de uma piscicultura, mas que não foi lá atrás de dinheiro. Arcanjo – Ah, então ele já admitiu que falou, antes ele falou que nem me conhecia, que nunca foi lá. Agora ele já falou que foi lá conversar em 99, mas não foi atrás de dinheiro. Arcanjo – Eu não lembro que época que foi não, mas ele esteve lá sim. Ele é que era o homem do chapéu. Arcanjo – Não, ele até tirou o chapéu e jogou. Ele esteve lá. Havia pessoas minhas que saíram quando ele chegou para ficar mais à vontade. E na conversa, ele falou que ia enfrentar uma campanha e que queria dinheiro. Aí eu falei: não é comigo não. E dinheiro não pode ser empréstimo, tem que ser... Aí ele disse: não, isso não é problema. Ele admitiu que precisava de dinheiro para campanha? Arcanjo – É, mas não chegou a falar o valor. Eu falei que não era comigo e ele ia procurar a pessoa de direito. Ele está dizendo que nunca pediu e que isso é mentira. O senhor tem uma testemunha, que pode fazer uma acareação? Arcanjo – Que foi lá, tem. Dizem que as visitas eram gravadas. Arcanjo – Aí eu tinha muita prova hoje, né?! Nos autos da morte de Sávio Brandão, há o depoimento de um funcionário dele dizendo que o senhor teria enviado um emissário até o jornal para pedir que parassem de publicar as matérias. Isso aconteceu? Arcanjo – Nunca aconteceu. O próprio Nilson foi à Justiça para dizer que isso nunca aconteceu. O que é verdade e o que é mentira sobre esses crimes que lhe são atribuídos? Arcanjo – A verdade é que sou dono do jogo do bicho, que era o dono. Agora, que eu mandei matar, nunca mandei matar ninguém. Isso é a única verdade, a verdade vai aparecer, quando ela chega tudo vai caindo. O senhor acha que está aberta uma ‘caça às bruxas’? Quem teria interesse em fazer isso? Arcanjo – Talvez no começo foi um erro, depois alguém talvez teve algum interesse, mas não sei explicar quem. O senhor não tinha inimigos? Arcanjo – Eu achava que não. Há a história de que, certa vez, um de seus empregados lhe deu um tiro no abdômen. E logo em seguida seus seguranças o mataram. Confirma isso? Arcanjo - Nunca levei um tiro, não tenho nenhuma cicatriz no corpo, nem tatuagem. O senhor acredita que a prisão e todo processo foram em decorrência de ter negócios fora do Brasil, o que começou a contrariar interesses internacionais? Arcanjo – Pode ser. Quais são seus negócios no exterior? Arcanjo – Eu só tenho negócios em Orlando. O hotel. Nenhum cassino? E a offshore no Uruguai? Arcanjo – É. E meu hotel está (declarado) no Imposto de Renda. Tenho uma casa em Orlando também, que está no Imposto de Renda. Guarda mágoa de Pedro Taques, Julier Sebastião da Silva e Mauro Zaque? Conheceu essas pessoas mais intimamente? Arcanjo – Não, não tenho mágoa. Eu conheço o Pedro Taques, mas na minha roda não. Se estiveram, não lembro. Conheço o Pedro Taques pela imprensa, a televisão. Conheço o Julier porque tive com ele aqui na audiência, mas antes não conhecia. Não tenho mágoa nenhuma, eles erraram. Acredita que esteja pagando pelo erro deles? Arcanjo – A verdade vai aparecer. Uma das acusações é que as factorings não poderiam fazer operações com pessoas físicas, só com empresas. Qual é a sua explicação para isso? Arcanjo – As factorings fizeram, era o Nilson, mas eu que sou o dono. Quais as justificativas? Pode ou não pode? Arcanjo – Não é legal, não. Suas factorings funcionavam como um banco, o que contrariava a legislação. Arcanjo – Só podiam operações, não empréstimos. Chegou a fazer empréstimos para as empresas Amaggi, Grupo Maggi? Arcanjo – Eu tinha sempre um diretor, um gerente. Que eu saiba, nunca. Conhece o atual governador pessoalmente? Arcanjo – Conheço. Já teve algum relacionamento de negócios com ele, por conta dos seus empreendimentos em Rondonópolis? Arcanjo – Não. Hidrelétrica? Arcanjo – Com ele não. O senhor é dono do Pantanal Shopping? Arcanjo – Pantanal! Rondon Shopping, sim. Conhece Ronan Maria Pinto? Sérgio Gomes, o “Sombra”? Arcanjo – Não. O senhor sabe que vai ser ouvido pela CPI dos Bingos e pelo promotor que apura a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Acha que pode acrescentar alguma informação? Arcanjo – Não. Isso aí talvez saiba menos que você. Nunca teve negócios com Ronan Maria Pinto? E no ramo de transportes em Mato Grosso? Arcanjo – Não, nunca, em lugar nenhum. A CPI tem a informação de que uma funcionária, uma cozinheira, num certo dia em seu cassino, ouviu o senhor conversando com alguém dizendo que um político importante seria assassinado em São Paulo. Arcanjo – Eu vi na imprensa o seguinte: eu estava num buffet, uma funcionária do buffet, não era no meu cassino, que escutou uma conversa assim. Isso não aconteceu. Sérgio Gomes nunca esteve na sua casa? Arcanjo – Nunca. Acho que nem em Mato Grosso ele esteve, nem em Cuiabá. O senhor foi proprietário da Estância 21 e o cassino de Rondonópolis. Arcanjo – Abria, fechava... Completando, o senhor disse que nunca pagava propina para ninguém. Como manteve um cassino aberto por tantos anos? Arcanjo – Ele não foi aberto assim tanto tempo, não. Quando ficávamos sabendo de alguma coisa, fechava, e depois abria de novo. E o de Rondonópolis? Arcanjo – Também abria e fechava. Como conseguia driblar as autoridades? E elas freqüentavam, tinha deputado estadual, federal. Arcanjo – Sim, mas eles não eram as autoridades que executavam. As autoridades eram coniventes? E como se tornavam coniventes? Exercia alguma influência sobre essas pessoas? Arcanjo – Jamais. Havia o pagamento de propina? Arcanjo – Não. E à polícia, nenhum tipo de propina? Arcanjo – Nunca ninguém me pediu. Mas por que o senhor distribuía peixe nos batalhões da PM? Arcanjo – Não é que distribuía peixe. Aconteceu uma vez só. O senhor presenteava os delegados de polícia com cestas de Natal? Arcanjo – Isso foi há algum tempo e nem fui eu. Foi uma atitude do gerente. Eu estava até viajando na época. O que tem a dizer sobre as remessas ilegais de dinheiro ao exterior, lavagem de dinheiro e crime contra o Sistema Financeiro? Sente-se culpado em algum momento por estes crimes? Arcanjo – Remessa de dinheiro ilegal, você pode falar, mas tem que ter prova. Se não tem prova, não houve remessa. Ou mesmo sem prova tem remessa ilegal? Considera-se inocente desses crimes? Arcanjo – A pergunta é outra: se fala que remeteu, não basta pensar e escrever e está valendo? Não, nunca. Tem que pensar, sonhar, escrever e provar. Você não pode falar uma coisa. Tem que provar por onde mandou, tem que ter alguém. Existe conta no exterior? Arcanjo – Tenho, está (declarada) no Imposto de Renda. Posso falar, está em Orlando. E na Suíça? Arcanjo – Nem fui na Suíça ainda. E no Uruguai? Arcanjo – Tive conta no Uruguai, não tenho mais há muitos anos. Agora, pegaram quem são os donos nessas contas da Suíça e do Uruguai, cadê? Eu nunca tive. Sabe quem é o dono da offshore Roanoake? Arcanjo – Nem sei. Como vou saber quem é o dono, nem sei dessa offshore. Lá existem milhares de offshore. Que tipo de ligação o senhor tinha com (o ex-secretário de Segurança) Hilário Mozer? Arcanjo – Eu conheço ele. Mas tinha amizade? Arcanjo – É difícil falar amigo. Eu o conheço. Teve algum negócio com ele? Foi sócio dele em uma offshore? Arcanjo – Sócio dele? Não, não sou não. Qual é o valor aproximado hoje do seu patrimônio? Arcanjo – Eu acho mais ou menos que é R$ 400 milhões, mais ou menos. Quatrocentos milhões de reais? Arcanjo – É reais, rapaz, aqui no Brasil a gente não pode falar em dólar, não. Mas a Advocacia Geral da União está fazendo um levantamento e estima que já passou de R$ 1,2 bilhão. Arcanjo – Falar é fácil. Mas eles estão comprovando. Arcanjo – Comprovando? Eles têm os documentos para comprovar que os bens são seus. Arcanjo – Eles falaram que eu mandei dinheiro para o exterior. Mas isso não é investigação, é um levantamento da Receita Federal. Arcanjo – Todos os meus bens estão declarados, estão no Imposto de Renda, e isso é a verdade. O senhor fez alguma negociação por delação premiada para ter os bens de volta e para que sua esposa (Sílvia Shirata) possa voltar para o Brasil? Tem alguma negociação? Alguém já lhe fez essa proposta? Arcanjo – Eu não tenho o que gravar. Esse negócio que fazia, talvez, empréstimo, já está claro. Fazia mesmo. O senhor tem 49 anos de condenação e mais oito processos para enfrentar. Como está passando por essa turbulência em sua vida? Arcanjo – Com serenidade, porque confio na verdade e confio na Justiça. Já foi filiado a algum partido político? Arcanjo – Nunca. Todo o seu dinheiro está confiscado hoje em uma conta na Caixa Econômica. Como o senhor está vivendo, como paga seu advogado, como pagou os advogados no Uruguai? Como é a vida se o dinheiro está confiscado? Arcanjo – Meu genro está dando uma força. Ele toca os seus negócios? Arcanjo – Não, meus negócios estão todos apreendidos. Toca os negócios dele. E como ele dá essa força? É dinheiro do bolso dele? Arcanjo – Das empresas dele. O senhor chegou no Brasil com 900 dólares. Como conseguiu esse dinheiro? Arcanjo – No Uruguai, tem esposa lá, tem filho. Ela sobrevive do que? De dinheiro. Ela está trabalhando? Arcanjo – Está fazendo um curso de culinária. Há quanto tempo não vê sua esposa? Lá no Uruguai conseguia vê-la sempre? Arcanjo – Lá, era quatro vezes por semana. Falam que vocês se separaram. Arcanjo – Nós estamos separados, sim. Judicialmente? Arcanjo – Judicialmente não, mas estamos separados. De fato. O senhor arrumou uma namorada lá no Uruguai? Arcanjo – Não, não. Ela é que tem marido já. Há dois anos. E isso te magoa? Arcanjo – Não. Ela não tem marido, assim. Ele é casado, então ela tem homem. É um policial? Arcanjo – Não. O senhor teve alguém no Uruguai? Arcanjo – Não. Há alguma empresa no Uruguai em nome da Silvia Shirata? Arcanjo – Não. O senhor confirma o depoimento de Nilson Teixeira sobre a triangulação do PSDB para captar empréstimos, que eram pagos com cheques do DVOP (Departamento de Viação e Obras, hoje Secretaria Estadual de Infra-estrutura)?

Arcanjo – Eu não sabia que acontecia dessa maneira, então não posso falar. Fiquei sabendo depois, pela imprensa.

Mas o senhor confirmou isso à Polícia Federal?

Arcanjo – Eu falei para ele que não sabia disso aí.

Mas o senhor endossou o depoimento de Nilson?

Arcanjo – O que disse foi o seguinte: que o Nilson tinha conhecimento e que ele poderia declarar. Aí ele falou sobre o DVOP. Eu disse que não tinha conhecimento.

O senhor tem filhos pequenos?

Arcanjo – Dois. Um vai fazer 15 anos agora e outro 11. Agora estão estudando no Uruguai.

E filhas?

Arcanjo – Tenho mais duas filha e um outro filho no Estados Unidos. Faz Direito.

Como sua família está reagindo a isso tudo? Está abalada?

Arcanjo – Sim, minha família está muito atingida.

Diante da turbulência que aconteceu em sua vida, o que aprendeu?

Arcanjo – Nós não valemos nada e a vida é tudo. Hoje podemos estar bem e amanhã não estar.

v Se pudesse voltar na década de 70, quando era um policial, faria tudo de novo?

Arcanjo – Tudo.

Inclusive sabendo que iria ser preso?

Arcanjo – Sim, mas o que eu fiz foi... Isso aí vai cair, eu confio na Justiça.

O senhor tem convicção disso?

Arcanjo – Sim, porque a verdade tem que prevalecer. Então, a Justiça é acima de tudo, abaixo de Deus.

Pretende escrever um livro?

Arcanjo – Por agora, eu quero é sair, resolver toda essa situação.

Mas tem isso em mente?

Arcanjo – Depois eu vou pensar certinho e vou chamar você para me orientar.

Tem muita coisa a revelar?

Arcanjo – Não, eu tenho muita a coisa a resolver. Revelar, nada.

O senhor está poupando muita gente.

Arcanjo – Exemplo?

Pessoas que estariam operando contigo no jogo de bicho, por exemplo, ou ilegalmente. Algum sócio, uma pessoa muito importante, uma autoridade?

Arcanjo – Não tem isso, não.

Acredita que vai retomar sua vida de antes da operação Arca de Noé?

Arcanjo – Tenho certeza disso. Porque a vida continua e eu sou empresário ainda. Minha vida vai ser devolvida, quero continuar a vida.

O senhor exerce alguma influência sobre as autoridades de Mato Grosso?

Arcanjo – Nunca exerci influência, nunca.

Vamos supor então que apareça a verdade e o senhor conquiste a liberdade.

Arcanjo – Amém.

Como está sendo sua vida dentro do Pascoal Ramos?

Arcanjo – Igual todo mundo preso.

Como está sendo o dia-a-dia aqui? Tem momentos de desespero? Depressão?

Arcanjo – Normal. Não tenho desespero. Eu sou muito católico. Acredito muito em Deus. Não conheço depressão, conheço Deus. Quem tem Deus...

O que faz para passar o tempo?

Arcanjo – Leio.

A Bíblia?

Arcanjo – Também. Tenho diversos livros, já li, reli, mas a Bíblia eu leio todo o dia.

Em 2002, Antero Paes de Barros e Blairo Maggi disputaram o governo. Em quem o eleitor João Arcanjo Ribeiro votou?

Arcanjo – Não lembro. Se lembrasse, ia falar, mas não lembro.

O senhor acompanha as notícias do Brasil? Sabem o que ocorreu no governo Lula? Sabe como está sendo conduzida a política brasileira?

Arcanjo – Mais ou menos.

Acha que Lula deve ser presidente novamente?

Arcanjo – Quem vai disputar com ele?

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, do PSDB.

Arcanjo – Acho que Lula vai ganhar.

Tem idéia de onde surgiu o comentário de que o senhor mandava e desmandava no Estado?

Arcanjo – Não. Nunca, mentira. Nem na minha casa eu mandava, lá eu era casado, minha mulher que mandava.

O senhor disse que espera brevemente sair da cadeia, morar em Cuiabá. O que tem para dizer para sociedade mato-grossense que pensa que o senhor é um criminoso? E para a população pobre, que faz o jogo de bicho, que gasta o dinheiro na banca?

Arcanjo – É porque acredita em mim, mandam mensagens para mim, acreditam em mim. A população está comigo. Ao contrário, eu recebo mil recados, orações. E o que eu posso dizer para eles: continuem, Deus é acima de tudo.

E para a população que o considera um assassino frio, o que tem a dizer?

Arcanjo – Para eles eu digo: vamos aguardar a Justiça, as provas. Aí depois vamos mostrar para eles a verdade. Eu estou buscando a verdade, e tenho certeza que não estou sozinho. Tenho vocês (imprensa) para ajudar, tem outras pessoas. Não estou sozinho.

O senhor se considera um arquivo vivo, uma pessoas que tem muitas informações? Arcanjo – Não me

Tem medo de morrer? De ser assassinado?

Arcanjo – De morrer eu tenho, de ser assassinado, jamais. Eu vou morrer um dia, quem conhece Deus não tem medo de morrer. Agora, assassinado, não tem porquê.

Tem mágoa dos políticos que se diziam seus amigos no passado e hoje negam que o conheceram?

Arcanjo – Não tenho. A vida é assim. Eles estão fazendo o papel deles.

E esse braço político de que as pessoas que acusam o senhor tanto falam. Poderia dizer que braço é esse, quem são essas pessoas?

Arcanjo – Para criar uma imagem ruim da pessoa, aí começam a divulgar várias mentiras. Que existe crime organizado, que tem braço político. Essa imagem já está demonstrando que não tem, que não há braço político. Uma mentira falada muitas vezes vira verdade. Então aí é o seguinte: eu poderia ter ficado no Uruguai por mais um ano. Porque o Uruguai não extradita quem foi julgado a revelia. O meu caso foi uma exceção. Quando eu percebi que ia ser extraditado, que podia ficar mais um ano, doze, quinze meses, eu disse não, se vou ser extraditado, eu prefiro ir embora. Enfrentar.

A Justiça do Uruguai foi injusta com Arcanjo?

Arcanjo – Não, não posso classificar assim.

Quando o senhor chegou em Cuiabá, estava com a quantia de 954 dólares e declarou na vinda para o Brasil que tinha muito menos. Por que essa discrepância?

Arcanjo – Na vinda, eu não declarei em lugar nenhum.

A Secretaria de Justiça informou que quando o senhor chegou no presídio declarou que estava com 44 dólares.

Arcanjo – Não declarei nada. Ninguém perguntou para mim: tem alguma coisa aí? Declarar é quando você pega e diz eu declaro que aqui tem isso e isso. Eu não declarei nada.

O Ministério Público Federal diz que o senhor sonegou algo em torno de R$ 840 milhões.

Arcanjo – Como é que você vai sonegar uma coisa maior que seu patrimônio?

Com base nos lucros. Admite esses crimes financeiros?

Arcanjo – Tem que provar. Como eu posso estar devendo uma coisa que é quatro vezes o meu valor financeiro? Não tem lógica.

Como está o movimento do hotel em Orlando? O dinheiro de lá está confiscado também?

Arcanjo – Lá, não.

Eles mandam quanto para o senhor por mês, já que é um dinheiro legal?

Arcanjo – Dez mil dólares. Ficam para a minha família.

Tem negócios em outros estados?

Arcanjo – Não, não tenho.

Voltando a questão do assassinato do Sávio Brandão. Existe uma linha de investigação que diz que a causa não teria sido as matérias que a Folha do Estado publicava contra o senhor, mas uma disputa de mercado entre as construtoras do Sávio Brandão e a sua. Existiu isso?

Arcanjo – Nunca houve. Nunca peguei obra pública. Nunca tinha interesse de concorrer a obra pública.

Algum outro negócio de Sávio Brandão já lhe importunou?

Arcanjo – Nunca.

A usina, por exemplo?

Arcanjo – Não. Eu comprei uma parte da usina, a usina ia ser nossa. Antes dele publicar, a Justiça não deu. Não houve interferência. E se houvesse também, não é motivo. Não é que se perdeu dinheiro, apenas se deixou de ganhar.

Foi o relatório de impacto ambiental?

Arcanjo – Não, esse aí já estava aprovado. Ela estava a 80 quilômetros da aldeia indígena. Aquilo lá foi má vontade mesmo.

Perdeu muito dinheiro lá?

Arcanjo – Não, nada, não tinha começado a construção. Tinha o dinheiro liberado para construir. Não deu em nada. O dinheiro voltou. E não é pouco não.

Quanto?

Arcanjo – Em torno de R$ 30 milhões, mas não me lembro.

É mais que Riva e Bosaipo lhe devem?

Arcanjo – Quanto eles me devem hoje?

Quarenta milhões, segundo seu advogado. Acha que vai receber esse dinheiro?

Arcanjo – Por que você acha que não?

Porque eles estão dizendo que não devem nada. E que se devessem, o senhor já teria cobrado?

Arcanjo – Pode ser que ele estivesse falando de outras dívidas, mas dessa aí eu tenho certeza.

Não tem amizade com político nenhum hoje? Amizade mesmo?

Arcanjo – Hoje não.

E antes? E o (ex-governador) Júlio Campos?

Arcanjo – Júlio Campos sempre foi uma pessoa simpática, certinha, conhece todo mundo. Cumprimenta. Respeito muito ele.

Por que as pessoas têm tanto medo do senhor?

Arcanjo – Não acredito que as pessoas tenham medo de mim.

Até o padre tinha medo quando o senhor chegava lá (na igreja do Rosário) para rezar. As pessoas não queriam chegar perto por medo dos seguranças.

Arcanjo – Ao contrário: quando eu chegava lá, todo mundo queria ficar perto de mim. Quando eu sentava, havia disputa para ver quem ficava perto de mim. Todo mundo vinha pra perto.

Por que havia tantos seguranças?

Arcanjo – Não tinha tanto, não. Tinha um para dirigir e o outro segurança. É muito?

Tinha medo de roubo ou seqüestro para justificar toda essa segurança?

Arcanjo - Não, eu sabia que não iam acontecer essas coisas.

Como sabia?

Arcanjo – Cuiabá ainda era pequena, não acontecia isso aqui.

Será que é porque tem muitos amigos na polícia também?

Arcanjo – Pode ser também, mas Cuiabá ainda não tinha esse tipo de males.

Qual era sua relação com o Judiciário no Estado antes de ser preso? Desembargadores freqüentavam suas rodas?

Arcanjo - Poucos.

Há desembargador que emprestou dinheiro. Consta no Banco Central.

Arcanjo – Não sabia. Não me recordo. Eu era o dono, mas não era eu que administrava. Talvez operação pequena.

O senhor só opinava nas grandes negociações?

Arcanjo - O Nilson avaliava tudo, ele que calculava risco. A cada dez dias, me passava um relatório dos negócios.

Nilson era bem pago?

Arcanjo – Ele ganhava bom salário e ainda participação. Buscava só ganhar, não buscava empatar.

Sabe que ele está livre?

Arcanjo – Sim, ótimo. Eu acho que na cadeia não devia estar preso por trabalhar, acho eu.

O Dondo (Luiz Alberto Dondo Gonçalves) foi ouvido agora em abril e disse que não ia responder nada sobre financiamento de campanha, relação com políticos, se o senhor não autorizasse. Dia 5, agora, ele vai ser ouvido de novo pela Polícia Federal. Deu alguma autorização para ele abrir o jogo?

Arcanjo – Pode falar a vontade. Não quero impedir nada. Não falei isso para ele. Ele não falou comigo não, mas a verdade tem que ser dita.

O senhor é acusado de não pagar IPTU em 11 cidades mato-grossense? Reconhece a dívida?

Arcanjo – De 2002 para cá, realmente houve.

Pegando o seu CPF e entrando no site da Receita Federal, vi que está legal, está tudo ok. Quem faz suas declarações?

Arcanjo – É meu advogado. Você acha que ele está dormindo, rapaz?!

Mas seu contador está preso.

Arcanjo – Mas meu advogado não.

Já pediu a visita de algumas pessoas que não sejam da sua família?

Arcanjo – Vamos pedir agora, inclusive, eu vou querer assim uma visita íntima.

Tem alguém especial que o senhor queira ver, além da visita íntima?

Arcanjo – Meus amigos, se puder.

Há algum político que queira ver?

Arcanjo – Se quiser vir, as portas estão abertas. Mas eu não vou falar assim: vem fulano. Se não o cara vai falar: eu não.

Sobre a visita íntima. Já tem alguém ou vai contratar?

Arcanjo – Contratar? Não, eu não quero contratar, quero conhecer, conversar. Para contratar, vou chamar você pra contratar. Aí você analisa para mim (risos). Fiquei muitos anos sem fazer isso.

Pode dizer quanto está pagando ao seu advogado?

Arcanjo – Isso aí só depois, só depois que terminar.

Ele está trabalhando fiado? Quantos por cento vai levar?

Arcanjo – É fiado.

Há rumores de que ele vai levar 20% dos seus bens que forem devolvidos.

Arcanjo – Vinte por cento? Ele vai ficar rico então. Rico ele já é.

Quando chegou a Cuiabá algemado, o que sentiu naqueles momentos?

Arcanjo – É o seguinte: eles querem me humilhar e eu aceito a humilhação. Aliás, não conseguem me humilhar.

Quem é João Arcanjo Ribeiro?

Arcanjo – Um empresário do povo, que está aí. E quem me conhece, quem me conhecia sabe que eu não sou essas pessoa que disseram aí, que falam de mim. Você acha que eu era dessa maneira, truculento, que fazia violência com as pessoas? Quando eu chegava lá na igreja, todo mundo queria ficar perto de mim. Eu sempre tive a humildade de abraçar todas as pessoas.

Não conhece ninguém que queira tanto prejudica-lo?

Arcanjo – Não, não conheço não.

Por que o senhor acha que o juiz Julier Sebastião da Silva foi até o Uruguai trazê-lo?

Arcanjo – Foi a vontade dele e ele tem poder para isso.

O que mais sente falta em Cuiabá, de quando estava em liberdade?

Arcanjo – Dos meus filhos, só.





Fonte: Diário de Cuiabá

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/303455/visualizar/