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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Terça - 04 de Abril de 2006 às 08:56

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O pantaneiro Oélio Falcão de Arruda, o “Fião”, tinha oito anos de idade quando viu sua primeira onça. Aquela também seria a primeira que ele veria morrer, depois de um disparo certeiro da espingarda de seu pai. Um animal de grande porte que oferecia perigo até mesmo depois de morto.

“Nós matamos a onça e meu pai falou: vamos comer a costela dessa onça. E mandou eu carregar o pedaço. Eu fui todo contente, tinha matado onça, estava famoso... Só que, para chegar em casa, tinha que atravessar um corixo fundo. Eu quase morri afogado, mas não deixei cair a carne”, relembra.

Começava ali, naquele episódio quase traumático, uma vida de muitas caçadas pelo Pantanal a fora. E nem de encontros sempre amistosos com a pintada. Fião e seus dois irmãos cresceram se especializando nas técnicas para atrair e seguir a “batida” do animal. Sem uma ponta de receio, garante.

“Eu e meus irmãos saíamos para caçar direto. Não tinha remorso nenhum. Tudo era festa para nós. Na verdade, parecia que a gente estava lidando com uma coisa natural, sem perigo. Até porque não sabia do perigo”, admite o ex-caçador, que calcula ter matado “umas 30” onças ao longo deste período. “Hoje eu sei”.

Agora, 48 anos depois da primeira caçada, Fião é funcionário do Ibama e trabalha utilizando quase todas as técnicas de caçador que aprendeu – e algumas que desenvolveu por conta própria. Seu objetivo, porém, é completamente distinto: a preservação.

Desde 1983, o pantaneiro auxilia equipes de pesquisa de campo em trabalhos de observação e captura. Estudos importantes, como o que mensurou o impacto do ataque de onças sobre os rebanhos bovinos da região da transpantaneira, teriam sido mais trabalhosos sem a sua colaboração.

Para ser “imitador de onça”, ensina ele, não é tanto uma questão de coragem. “Tem muitos que falam que é coragem, mas eu acho que é a malícia. Onça é um bicho que você tem que trabalhar na certa, porque ela é traiçoeira. Quando você vai chegando no mato e vê ela, ela já te viu faz tempo. Então tem que saber chegar nela, a posição que ela está, porque senão ela vem veloz para o teu lado. E vem para te castigar mesmo".

Segundo ele, a capacidade de enganar as onças com o esturro falso foi desenvolvida por acaso. ”Ouvia elas urrando perto. Aí pegava cabaça ou mesmo balde e tentava fazer o mesmo barulho. Com o tempo elas começaram a responder e a chegar perto".

Sobre o último encontro com o bicho, relatado nesta reportagem, Fião diz não ter sentido a mesma emoção dos demais. "Para mim, que já sou acostumado a ver, não é grande coisa. Eu fico contente é de conseguir encontrar. Para mim fica bom e para vocês também. É ruim quando a gente não encontra. Aí eu fico mais aborrecido que o próprio interessado".





Fonte: Diário de Cuiabá

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