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Terça - 14 de Março de 2006 às 08:11
Por: Alecy Alves

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Construída há pelo menos meio século, a praça Eurico Gaspar Dutra é circundada pelo mais antigo conjunto habitacional de Cuiabá, o Bairro Popular, mas poucos se referem ao local pelo nome original. Entretanto, muitos a conhecem e freqüentam os restaurantes de seu entorno.

Há décadas, a Eurico Gaspar Dutra virou simplesmente Praça Popular e, mais recentemente, as moradias do seu entorno passaram a ser disputadas como pontos comerciais, uma ocupação que ainda gera polêmica e que agora é tema de discussão judicial.

Na semana passada, a presidente do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano (IPDU), Adriana Bussiki dos Santos, apresentou à Promotoria do Meio Ambiente o projeto que a princípio seria a saída para a polêmica ocupação das calçadas como espaço comercial.

A apresentação aconteceu na quarta-feira, durante audiência marcada pelo promotor do Meio Ambiente, Gerson Barbosa. As propostas de intervenções sugeridas pela presidente do IPDU integram o grupo de projetos urbanísticos elaborados pela equipe do ex-prefeito de Curitiba (PR), Jaime Lerner.

A idéia, explica Adriana Bussiki, é adequar o logradouro ao seu potencial de convívio e resolver o problema da interdição das calçadas, que à noite acabam ocupadas por mesas e cadeiras dos bares, gerando queixas dos poucos moradores que permaneceram na área.

A prefeitura está propondo a elevação do piso das duas travessas entre as ruas Senador Vilas Boas e Brigadeiro Eduardo Gomes até o nível do meio fio, criando rampas nas extremidades. Durante o dia seria mantido o tráfego de veículos, mas à noite os dois trechos de rua seriam transformados em espaços comerciais, especificamente para a instalação de mesas e cadeiras.

Assim, acredita a presidente do IPDU, as calçadas ficariam livres para os pedestres. No interior da praça está prevista a retirada dos canteiros em alvenaria do entorno das árvores e a construção de uma cobertura de bambu que durante o dia seria um sombreiro e à noite delimitaria o espaço entre a praça e os estabelecimentos comerciais.

Dona Maria José Araújo, de 73 anos, é uma das mais antigas moradoras. Há pouco mais de 50 anos, estima ela, foi uma das primeiras a ocupar umas das casas da primeira Cohab (assim de refere aos conjuntos habitacionais populares) construída em Cuiabá.

Nos últimos 10 anos, porém, a tranqüilidade do bairro, que antigamente ficava longe do centro e sequer tinha meio de transporte, deu lugar aos ruídos dos motores e buzinas dos carros e dos aparelhos de som misturados ao “converseiro” de gente.

Dona Maria José acompanhou o ritmo do desenvolvimento, também transformou parte de sua casa em um ponto comercial e o alugou. Mesmo assim, está descontente com as transformações do local e pensa em se mudar de lá para um bairro mais sossegado. “Meus filhos não querem que eu saia daqui, mas penso nisso”, diz, preocupada até com a segurança da família.

“Outro dia ocuparam nossa garagem e meu filho, sem encontrar o proprietário, deixou o carro dele atrás, impedindo a saída do invasor. O sujeito ficou tão zangado que voltou para se vingar e cortou os pneus do carro do meu filho”, relatou ela. Mesmo com esses conflitos, dona Maria está em dúvida sobre o projeto da prefeitura. “Como entraremos com carro na garagem à noite?”, questiona ela.

Dona Isabel Queiroz Brandão, que mora há 30 anos numa das travessas, acha que o trânsito de veículos, que já é complicado à noite, ficará pior. “Vamos ver: se a maioria concordar, eu não serei contra”, completa.

O promotor do Meio Ambiente, Gerson Barbosa, explicou que abriu um procedimento para discutir e solucionar o problema da ocupação irregular das calçadas da Praça Popular.

Mas na audiência pública realizada na semana passada, informou ele, não houve acordo. Os participantes, entre os quais moradores e membros do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), decidiram conhecer melhor a proposta e avaliar alguns pontos das intervenções previstas antes da assinatura de um termo de ajustamento de conduta (TAC).

Em maio, no dia três, numa nova audiência pública, a ocupação da Praça Popular voltará a ser discutida. Nessa data, diz Barbosa, deverá ser formalizado o TAC adotando a proposta da prefeitura ou um outro projeto.





Fonte: Diário de Cuiabá

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