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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Sexta - 27 de Maio de 2005 às 09:52

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Desesperados, parentes ainda não sabiam se o barco achado pela Marinha era dos familiares

Depois de três dias de angústia, expectativas e apreensão, o presidente da Colônia de Pescadores de Arembepe, Ajax Tavares, tocou o sino, ontem à noite, convocando todos os pescadores à praça para avisar que a embarcação Brasil e os seus quatro tripulantes haviam sido encontrados. Tavares informou que recebeu uma ligação do comando da operação da Marinha confirmando que o barco foi encontrado à deriva, no extremo sul baiano, a 18km da costa do Espírito Santo. A localização foi possível através da busca aérea, por isso, não havia ainda informações sobre o quadro de saúde dos tripulantes. A Capitania dos Portos da Bahia confirmou que, de fato, havia sido localizada uma embarcação semelhante, mas não garantiu ser a dos pescadores de Arembepe. A embarcação Brasil saiu por volta do meio-dia de domingo, de Guarajuba, com previsão de retorno a Arembepe no dia seguinte, mas não regressou.

Os pescadores Eugênio da Silva, 38 anos, Emanoel Souza Araújo, 18 anos, Evaldo de Santana e Luís Carlos Nascimento saíram com destino ao pesqueiro denominado Dente, que fica a aproximadamente sete milhas de Guarajuba. No barco, levaram apenas 80 litros de água e mantimentos suficientes para apenas uma noite em alto-mar. A demora do retorno dos pescadores alertou a comunidade da Colônia Z-14 para a necessidade de iniciar as buscas logo na terça-feira pela manhã. Embora o desaparecimento tenha ocorrido desde a segunda-feira, a Capitania dos Portos da Bahia só foi acionada na quarta-feira pela manhã e comunicou o fato ao Comando do Segundo Distrito Naval. Desde então, foram realizadas inúmeras buscas.

Ao ser acionada, a Marinha acionou o navio de serviço, Navio Patrulha Gravataí, para dar início ao procedimento de buscas ao pequeno barco de pesca. Paralelamente, foi comunicado o ocorrido ao Salvaero Recife, para providenciar o acionamento de uma aeronave da Força Aérea, para efetuar buscas em toda a região. Até o final da tarde de ontem, as buscas já haviam se estendido da Praia do Forte a Morro de São Paulo. Ainda sem nenhuma pista que indicasse o que pode ter ocorrido com os pescadores, na Colônia Z-14, em Arembepe, há diversas especulações sobre as causas da demora dos companheiros.

Uma delas é a de que os pescadores tenham perdido a corda da âncora. A outra é a de que, como a viração de vento está ao Norte e a maré ao Sul, o barco pode ter sido arrastado pela correnteza na direção Sudeste, saindo para uma área mais profunda. "Não acreditamos que tenha ocorrido um acidente mais grave", diz o presidente da colônia de pescadores de Arembepe, Ajax Tavares.

Desde segunda-feira à noite, amigos e familiares ficaram de plantão na colônia na expectativa de receberem notícias dos desaparecidos. Irmão de Eugênio, Jorge da Silva soube do desaparecimento na quarta-feira à tarde e, ontem, passou o dia inteiro de plantão na sede da colônia de pescadores na expectativa de boas notícias. "Passam tantas coisas pela cabeça da gente, que fica difícil supor o que pode ter ocorrido", disse. O barco desaparecido mede 8,5m e é de propriedade de Antonio Carlos Pereira Tavares, mas há seis meses está alugado a Samuel do Nascimento da Silva.

Desprovido de importantes equipamentos de segurança, a embarcação possui 25 anos e, segundo pescadores, vinha apresentando problemas no casco. "Aqui os barcos não possuem bússola, rádio de comunicação, material de salvatagem, entre outros itens previsto pela legislação. Os proprietários não investem em segurança. Há a omissão dos órgãos de fiscalização e a conivência dos pescadores", critica Ajax Tavares. Responsável pela embarcação, o mestre Samuel da Silva informou que ela possui bóias e coletes salva-vidas.

A colônia Z-14 reúne cerca de 800 pescadores distribuídos em 32 embarcações. Eles trabalham em parceria com os proprietários dos barcos. Em troca, recebem 25% dos pescados. Já os proprietários ficam responsáveis por custear o combustível, o gelo, a isca e a alimentação dos pescadores. Em contrapartida, os pescadores entram com anzol, linha e mão-de-obra. Geralmente, eles costumam sair até duas vezes na semana e passam, em média, três dias em alto-mar pelas 27 zonas pesqueiras cadastradas pela colônia, que se estendem de Jauá até Subaúma. O último naufrágio envolvendo pescadores de Arembepe ocorreu em 13 de julho de 1960, com o barco Passarinho. Nele estavam quatro tripulantes, sendo um deles tio de Emanoel. Todos morreram.





Fonte: Correio da Bahia

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