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Segunda - 18 de Abril de 2005 às 13:30

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O sertanista Sydney Possuelo vai aproveitar a festa dos 400 anos de publicação do livro "Dom Quixote", nesta semana na Espanha, para denunciar a organismos internacionais o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por entregar a grileiros e madeireiros a posse de 166 mil hectares na região do Alto Rio Pardo, entre Mato Grosso e Amazonas, onde vive um grupo de 20 índios isolados, que não fala nem entende português.

O sertanista se disse desapontado com a política indigenista do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Homenageado pelo governo espanhol no aniversário da obra de Miguel de Cervantes, Possuelo repassou à reportagem um dossiê que contesta a avaliação aceita pelo STJ de que não existem índios isolados na área localizada nos municípios de Colniza e Novo Aripuanã. "Vou dizer que a Justiça foi arbitrária e permitiu a entrada de madeireiros e grileiros e a matança de índios nas terras", criticou.

Apoiados por prefeitos e parlamentares, grileiros e madeireiros argumentam que não existem isolados nas terras. Possuelo contestou e mostrou uma série de fotos com indícios e provas da presença dos isolados na região. "Tenho 40 anos de trabalho nessa área. Só peço tempo e tranqüilidade para fazer o contato." Ele deixou claro que, independentemente do êxito da denúncia contra o STJ na Espanha, não ficará quieto. Sydney Possuelo, que faz aniversário terça-feira (19), Dia do Índio, é o mais destacado indigenista da atualidade. Seu trabalho é reconhecido por governos e entidades da Europa e Estados Unidos, daí a força de suas denúncias.

Em 2001, a Fundação Nacional do Índio (Funai) publicou uma portaria interditando a área cortada pelos rios Paxiúba, Água Branca e Serra Morena para tentar fazer contato com o grupo de isolados. No Brasil, o contato com índios isolados só é feito em situação extrema, quando há risco de morte. Desde a interdição da terra do Alto Rio Pardo, várias instâncias da Justiça aceitaram recursos de madeireiros contra a portaria, interrompendo o trabalho dos sertanistas. Agora, em março, o STJ derrubou a portaria de interdição, garantido o livre acesso de caminhões, tratores e motosserras numa área onde os indigenistas encontraram malocas intactas, com fogueiras, redes, arcos e flechas.

"Quando a gente chega lá para fazer contato, os índios já correram, amedrontados pela violência dos madeireiros", explicou Possuelo. O sertanista acusou o STJ de não ouvir os argumentos da Funai. Ele disse que vai centrar fogo na Justiça no exterior por uma questão estratégica. Apesar de demonstrar respeito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Possuelo criticou as ações dela na Amazônia, especialmente por implantar projetos sustentáveis em terras que seriam dos índios.

Ele não poupou nem mesmo as organizações não-governamentais da área ambiental. "Os índios estão fora das agendas das ongs", avaliou. "Fora algumas exceções, o governo, incluindo a Funai, a Justiça e as ongs não estão defendendo os povos indígenas." Possuelo avalia que os cortes no orçamento de órgãos como Funai e Polícia Federal, a "bagunça" na Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e as "incoerências" do Ministério do Meio Ambiente estão permitindo o desaparecimento de etnias na Amazônia.

"Esperava mais de um governo que é regido por um homem vindo das portas das fábricas", reclamou. A política da Funai de evitar contato com isolados começou em 1987, quando Possuelo criou um departamento voltado para esses índios. O contato é feito apenas quando não é possível impedir confrontos com brancos. No caso dos índios do Alto Rio Pardo, a Frente Madeirinha, um posto da Coordenação de Índios Isolados da Funai, conta com dois funcionários e outros seis contratados temporariamente para garantir a sobrevivência dos isolados.

Ao avaliar o trabalho indigenista, Possuelo avalia que hoje está mais difícil atuar na selva do que nas décadas de 80 e 90, quando a Amazônia estava "muito mais na moda" no Exterior. "O grande problema continua sendo a falta da presença do Estado." Mas, nem tudo é crítica. Possuelo observa que nos últimos anos as Forças Armadas se aperfeiçoaram no trabalho de defesa da Amazônia. Na avaliação de Possuelo, outros órgãos do Executivo, o Legislativo e a Justiça não acompanharam as mudanças.





Fonte: 24 Horas News

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