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Cidades/Geral
Segunda - 18 de Abril de 2005 às 06:53
Por: Keka Werneck

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Menos de R$ 1 per capita. É o que a Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, enviou de recursos para as administrações e núcleos de apoio do órgão em Mato Grosso atenderem as etnias, que somam 25.123 nativos. Com este dinheiro, a única ajuda possível a ser dada às aldeias é com alguma ferramenta, como enxada, ou combustível.

Ainda é abril, mas entre as 11 unidades existentes nas seis com quem a reportagem conseguiu falar, a verba, considerada insuficiente, já acabou ou está escasseando. Em algumas regiões, como a de Tangará da Serra, cerca de 720 índios, entre homens, mulheres e crianças, estão passando fome. "Este é um primeiro levantamento que fizemos", diz o administrador substituto do Núcleo de Apoio, Martins Toledo de Melo. Em Campinápolis, este ano, seis crianças morreram, sendo duas de desnutrição.

Na região de Rondonópolis, os Bororo plantaram roça de arroz, mandioca, milho, mas conforme o administrador substituto do órgão - que esteve fechado por duas semanas - Aluísio Gomes de Araújo, se não chover urgentemente perderão todas as lavouras, porque não contam com sistema de irrigação. "Nesta região passa-se muita necessidade. Consegui, no momento, cestas básicas junto à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para as famílias", diz.

O administrador da unidade de São Félix do Araguaia, Georton Aurélio Lima, responsável por 3 mil índios Karajá e Tapirapé, recebeu R$ 200 mil este ano da Funai. Mas após pagar luz, telefone, aluguel do prédio, o que restou para a assistência direta ao índio, segundo ele, é, de fato, menos de R$ 1. "Precisávamos de mais que isso para darmos um atendimento digno", reconhece.

O mesmo aconteceu no núcleo de apoio de Juína, que recebeu R$ 100 mil para quitar dívidas administrativas e atender 3,5 mil índios das etnias Kaiabi, Rikbatsa, Arara, além de índios isolados do rio Pardo e, de maneira indireta, os Cinta Larga. "Só pagamos contas. Tenho sentido na pele a redução de recursos", reclama o administrador, Antônio Carlos Ferreira de Aquino. "Para usar o dinheiro, temos que fazer milagre, magia negra, sei lá, colocar os índios para acenderem cachimbo", brinca.

Recursos poderiam ser pleiteados em outros órgãos federais, como o Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ministério da Assistência Social. Mas, para isso, os interessados devem apresentar projetos. "Nossa comunidade, por exemplo, não tem habilidades", justifica o administrador substituto de Tangará da Serra. "Seria o caso de se mudar esta regra para favorecê-los", sugere. Mas, segundo ele, "entra governo, sai governo, e as coisas só pioram".

A reportagem não conseguiu informações com as unidades de Cuiabá, Barra do Garças, Campinápolis, Primavera do Leste e Nova Xavantina, na última sexta-feira (15).




Fonte: A Gazeta

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