Estrutura da Policia Civil favorece os "deslizes"

"Não se tem como justificar a atuação de um policial que se deixa corromper. Mas é preciso lembrar sim que as condições em que estamos trabalhando terminam por permitir que esse tipo de situação aconteça". A frase acima é a de uma investigadora que já esteve na Delegacia Especializada em Repressão à Entorpecente (DRE) há cerca de dez anos.

A investigadora, que já tem 23 anos de Polícia Civil, avalia que um policia em final de carreira recebe R$ 2,6 mil. "Um delegado, que está começando ganha o triplo desse valor. Onde está o reconhecimento? Trabalhamos tanto quanto um delegado, com a diferença que o salário é menor e ainda não recebemos adicional noturno, verba para alimentação e, nem mesmo, vale-transporte. Para quem está começando o salário bruto é de R$ 1,2 mil mas com o descontos chega a menos de R$ 1 mil".

Ela lembrou ainda que muitas vezes os policias saem de casa sem nunca terem certeza de que vão voltar.

Em janeiro deste ano uma decisão do Tribunal de Justiça retirou dos policias civis, presidentes de associações de bairros e entidades o benefício do passe-livre. Quanto à Polícia Militar, somente os que estiverem de farda, ou seja, os que estivessem de serviço fazendo rondas em coletivos, poderiam ter acesso ao benefício. Os sindicatos que representam as respectivas categorias já entraram na Justiça contra a decisão e aguardam uma decisão.

A policial, que hoje tem 50 anos, contou que já recebeu proposta, por telefone, para que "livrasse" um traficante de uma investigação.

"Na época o dólar valia três vezes mais que o real. Ele queria entregar uma mala com o dinheiro no Trevo do Lagarto, na saída (de Várzea Grande), e eu disse que ele seria preso no mesmo momento em que chegasse lá".

A investigadora avalia ainda que os profissionais não recebem acompanhamento de ordem psicológica. "Que tem um profissional isso tem. Mas é só um. Tem momentos em que acredito que minha cabeça vai explodir. Mas me agarro em Deus e fica tudo bem", desabafou.