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Cidades/Geral
Quarta - 09 de Março de 2005 às 22:30
Por: Paulo Montoia e Érica Sato

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São Paulo - O físico e pesquisador brasileiro César Lattes, que morreu ontem e será enterrado nesta quarta-feira, em Campinas (SP), é "um exemplo do Brasil que dá certo", na opinião do professor Gil da Costa Marques, diretor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). Foi nesse instituto que Lattes primeiro estudou e se formou e onde lecionou antes de ajudar a fundar a Unicamp. Marques deu entrevista à Agência Brasil e Rádio Nacional, da Radiobrás, de seu gabinete na USP.

ABr - Há como traduzir a importância do trabalho de César Lattes? Seu trabalho pode ser percebido ou beneficiou diretamente o cidadão de alguma forma?

Marques - Diria que atingiu o cidadão de uma maneira mais indireta, na medida em que ele criou as agências que proporcionaram o crescimento científico do Brasil. Por exemplo, ele esteve por trás da criação do CNPq, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e da Universidade de Campinas (Unicamp). Então, é nessa dimensão, do indivíduo de visão que ajuda a promover o desenvolvimento científico, que acho que ele é relevante. Do ponto de vista de coisas práticas que levem até o cidadão comum um benefício, você sabe que na pesquisa básica é sempre mais difícil apontar. Lattes colaborou no sentido de promover o desenvolvimento, de criar grupos, fazer discípulos. E acho que essa é a dimensão de um cientista típico.

ABr - A atuação de César Lattes na criação do CNPq e das outras instituições foi direta?

Marques - Veja, um indivíduo como ele, que muito cedo ganhou um prestígio enorme, tinha as portas abertas. Era recebido pelo presidente da República, pelas mais altas autoridades. Quando o indivíduo chega à posição em que ele chegou, de certa maneira tem uma capacidade enorme de exercer influência, dando sugestões, propondo, participando. Então, em cada uma dessas instituições, tanto na Unicamp quanto no CBPF e no CNPq teve uma participação, em alguns casos, crucial. No caso da Unicamp e do CNPq houve um movimento maior, mas no caso do CBPF diria que veio exclusivamente como resultado da repercussão do trabalho de Lattes. Em alguns casos a influência dele foi direta e em outros, é claro, foi participando da formação de uma consciência, digamos, nacional para a necessidade de fazer pesquisa. No caso de Lattes era pesquisa científica, era a energia nuclear ou atômica, como era conhecida no seu tempo. Ele ajudou muito para a conscientização da importância da pesquisa.

ABr - É possível situar de alguma forma a importância do trabalho de pesquisa dele no exterior?

Marques - O Lattes é uma dessas pessoas que mudou muito pouco ao longo da vida. Ele sempre atuou realmente, até sua morte, com seu grupo na Unicamp, um grupo relativamente grande e que ainda trabalha na área na qual começou, que é a área de física de raios cósmicos. O interesse do Lattes sempre foi entender os constituintes últimos da matéria das partículas elementares, de utilizar as fontes dessas partículas, porque os raios cósmicos que estão perambulando pelo universo são fontes naturais de ultra-alta energia. Foi nessa área que seu trabalho lhe deu projeção internacional e nela trabalhou até o final de sua vida. Coincidência ou não, é a área na qual iniciamos a física no país. Lattes deu uma grande contribuição a esta física conhecida como física dos raios cósmicos

ABr - É possível resumir o que o trabalho dele representa?

Marques - Lattes reflete, antes de mais nada, um esforço do governo de São Paulo, nos anos 30, de promover o desenvolvimento científico e tecnológico do país, quando foi criada a Universidade de São Paulo e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Lattes foi um dos primeiros alunos da faculdade, fazendo o curso de Física no início dos anos 40. De forma que ele é fruto desse esforço que se fez no Brasil para desenvolver a ciência. Logo se percebeu que dava certo, porque o que se criou aqui foi dar condições para gente inteligente brilhante e criativa como ele, pudessem frutificar. O Lattes é o primeiro exemplo grande de que um esforço nesse área vale a pena. Ele demonstrou isso. Diria para o Brasil inteiro, gostaria de ressaltar esse lado: de que temos gente competente no Brasil, gente inteligente e muitas vezes falta apenas oportunidade. César Lattes se interessou pela área de Física, foi estudante, virou fundador da Física na USP, criou grupos e abriu espaço para esse pessoal dentro da instituição. Foi professor aqui do Instituto de Física. Acho que ele é um exemplo para nós, é o Brasil viável, é o Brasil que dá certo, é o brasileiro que dá certo porque se dedicou, era uma pessoa extremamente inteligente. Acompanhou o trabalho das equipes que criou até o fim da vida.





Fonte: Agência Brasil

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