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Segunda - 07 de Março de 2005 às 08:25
Por: Danie Freitas

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Mulheres participam do 5o Acampamento de Trabalhadoras Rurais Sem Terra

Os colchões e as sacolas estão por todos os lados, no espaço coberto em frente à Biblioteca da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no campus de Ondina. Lá, cerca de 1,5 mil mulheres que estão participando do 5º Acampamento de Trabalhadoras Rurais Sem Terra dividem o espaço com uma enorme poça de água bem no meio do pátio e dão de comer às suas crianças que correm de um lado a outro. Todas vieram de diferentes regiões do estado, como extremo sul, Chapada Diamantina e recôncavo baiano. A programação do evento foi aberta, ontem à tarde, após a chegada das participantes em ônibus cedidos pelas prefeituras de suas respectivas localidades.

Pela manhã, a maioria das mulheres dormia, cozinhava ou arrumava o local para o início do evento. Cada qual com os chamados kits sem-terra nas mãos, composto de sacola de roupas, pratos, talheres, lona preta e colchão. A sem-terra Ana Néris dos Santos, 56 anos, veio do assentamento Paulo Freires, próximo ao município baiano de Camamu, para participar do evento. Junto com ela, vieram três de seus seis filhos - Sirleys, 13 anos, Wellington, 9, e Taís, 8. Enquanto cozinhava arroz e feijão num fogão improvisado em meio a uns arbustos, ela falava sobre as carências do local onde vive.

"Tem escola para os meninos estudarem, mas falta um posto de saúde lá para nos atender", disse Ana Néris, que sobrevive da venda de seus produtos na feira de Camamu, como tempero, pimenta, limão e aimpim - atividade que lhe rende algo em torno de R$100 mensais. Já Ivonete de Jesus Assunção, 35 anos, não trouxe seus dois filhos que moram com ela no assentamento Mariana, também perto de Camamu, mas sua bagagem veio cheia de disposição para voltar para lá com boas novas. "Moro lá há 13 anos e minha vida é de muito trabalho e luta. Vim aqui para aprender mais sobre como lidar com a terra e conhecer melhor meus direitos como trabalhadora rural", afirmou, enquanto uma feijoada cozinhava num caldeirão próximo.

Objetivos - O 5º Acampamento de Trabalhadoras Rurais Sem Terra foi aberto, ontem à tarde, com discursos de Isabel de Freitas, representante da Marcha Mundial de Mulheres, e de Lena Souza, superintendente municipal de políticas para as mulheres. Um dos principais objetivos do evento é fortalecer a participação feminina nas questões políticas do próprio MST, enaltecendo o papel da mulher na tomada de decisões. "Vamos discutir ainda sobre a beleza negra como identidade cultural, além de nossa identidade como trabalhadora rural e camponesa, pois nós também vamos para a roça ajudar nossos companheiros", definiu Solange Brito, representante do setor de gênero do MST.

A programação do evento prossegue até a próxima quarta-feira, no Centro de Convivência da Ufba, no campus de Ondina, onde as mulheres ficarão acampadas até então. Hoje, a professora Greice Menezes, do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, proferirá a palestra Direitos reprodutivos, enquanto uma homenagem à irmã Dorothy Stang, missionária assassinada no Pará, está prevista para as 19h30, quando também acontece uma noite cultural animada pelo grupo carnavalesco Paroano Sái Milhó. Já amanhã, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, as 1,5 mil participantes sairão em caminhada às 14h, saindo do Campo Grande até a Praça Municipal.

Às 8h30 de quarta-feira, uma mesa-redonda irá reunir Diolinda Alves, uma das maiores lideranças femininas do MST no país, e a embaixadora da Suécia Margareta Wiberg - presença ainda não confirmada. Também foram convidados para participar o reitor da Ufba, Naomar Almeida, a reitora da Uneb, Ivete Sacramento, o deputado estadual e líder do MST na Bahia, Valmir Assunção, e o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro. Ao longo da programação, as crianças filhas das mulheres participantes irão se divertir na chamada Ciranda Infantil, uma espécie de oficina que reúne brincadeiras, recreações e palestras voltadas para os pequenos, ministradas por educadores que, segundo a coordenação do evento, fizeram cursos de pedagogia.

Além disso, as mulheres passarão por diversas oficinas que abordarão temas como sexualidade e licença maternidade. Duas unidades móveis de saúde do Hospital Português também estão estacionadas em frente ao Centro de Convivência oferecendo serviços dentários e ginecológicos. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-BA), por sua vez, está disponibilizando gratuitamente os serviços de documentação básica às trabalhadoras rurais acampadas no local. A ação faz parte do Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural e emite CPFs, carteiras de identidade, carteiras de trabalho e inscrições do INSS. Em 2004, na Bahia, o programa emitiu 2.165 documentos civis para 1.300 pessoas na Bahia, na região do Vale do São Francisco.





Fonte: Correio da Bahia

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