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Repórter News - reporternews.com.br
Saúde
Sexta - 10 de Agosto de 2012 às 22:25

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Caminhar, respirar com facilidade, atos simples. Não pra todo mundo. A asma é uma doença tão comum que nem sempre recebe a atenção que merece. As crises, no entanto, podem ter desfechos inesperados, trágicos. Só no Brasil, a asma mata por ano duas 2,5 mil pessoas.

Mãe e filha não esquecem o sofrimento que a asma pode causar. Há cinco anos, morreu o único filho homem da doméstica Miriã Sousa Pereira, o irmão de Rosenilda. Aos 26 anos, quando saia do trabalho, Rosenilton teve uma crise tão grave que não conseguiu chegar com vida ao hospital.

“A senhora alguma vez imaginou que as crises que ele tinha de asma poderiam ter essa consequência?”, perguntou a repórter Tatiana.

“Não, não tinha mesmo”, respondeu Miriã.

“Como é que a senhora tratava o seu filho?”, questionou a repórter.

“Com chá de beterraba, fazia xarope caseiro, então eu achava que ia melhorar. Passei a infância toda dele assim. Toda a adolescência, tratando com receitas caseiras”, disse Miriã.

“Infelizmente, hoje com todos os recursos que nós temos a asma ainda mata. E isso não se aceita de uma doença que é considerada passível de controle por todos os sistemas de saúde pública no mundo inteiro, então algo está errado”, afirmou Fátima Emerson, alergista da Associação Brasileira de Alergia - RJ.

A professora Rosenilda Pereira Rocha e o irmão tinham asma desde criança. Cresceram entre crises e idas ao hospital.

“Muitas idas ao hospital, quase toda a semana”, contou Rosenilda.

“você lembra de crises sérias em que você achou que iria morrer?”, perguntou Tatiana.

“Lembro, eu tive uma crise uma vez que eu até desmaiei, meu marido me levou pro hospital praticamente desmaiada. Não tinha ar nenhum, eu procurava o ar pra respirar sufocada”, contou Rosenilda.

“Você tinha medo de morrer ou achava que isso não acontecia com a asma?”, questionou a repórter.

“Realmente eu achava que isso nunca acontecia. Na minha cabeça, você tinha aquela crise, ia no pronto socorro, tomava o remédio e melhorava”, explicou a professora.

Desconhecimento e falta de cuidado são alguns dos equívocos que os asmáticos cometem.

“Acho que o maior pecado é só tratar quando está em crise. Este é de longe. Eu acho que é o número um”, afirmou doutora Fátima.

“Então, é aquela história, quando ele está com falta de ar, quando ele está com chiado no peito, ele procura um pronto socorro. Saiu da crise, quatro a cinco dias depois, ele muitas vezes até esquece que tem asma e só volta a tratar de novo numa crise”, disse Clóvis Galvão, alergista do Hospital das Clínicas / USP.

“A asma permanece, o brônquio está inflamado mesmo quando você não sente nada”, explicou a doutora Fátima.

A morte de Rosenilton foi um choque. A irmã, sobrevivente, se deu conta de que precisava do tratamento.

“Foi aí que a ficha realmente caiu que a asma realmente mata. Uma morte que poderia ser evitada. Se ele tivesse o tratamento que eu estou tendo hoje eu acho que ele não teria morrido não”, ressaltou Rosenilda.

Segundo os especialistas, os medicamentos evoluíram. E hoje oferecem mais segurança.
Principalmente a imunoterapia, que é o tratamento com vacinas para diminuir a sensibilidade dos alérgicos.

“Na verdade, os trabalhos científicos mostram pra gente, é o único tratamento que é capaz de alterar o curso natural da doença, que é capaz de alterar essa predisposição que o paciente tem de inflamar as vias respiratórias por conta de uma alergia”, destacou o doutor Clovis Galvão.

“É que antigamente os tratamentos eram dirigidos para crises, então você só tinha remédios de alívio. Hoje nós temos medicações que servem não apenas para aliviar, mas para tratar”, afirmou a doutora Fátima.

“Se naquele tempo, eu soubesse, eu tinha levado. Não tinha deixado acontecer até esse ponto que chegou”, disse Miriã.

“Se a senhora soubesse que havia tratamento, se a senhora tivesse tido essa orientação? Isso é muito sofrido pra senhora ainda?”, perguntou Tatiana.

“É, é sofrido, sofrido mesmo”, respondeu dona Miriã.

Deve ser mesmo difícil, doído lembrar. Dona Miriã, Rosenilda e as filhas agora querem pensar é no futuro.

“É comum que se escute que asma não tem cura. É uma verdade. Porém, você pode ser um asmático saudável ou um asmático doente. E essa escolha é possível”, disse a doutora Fátima.

Se pudessem, quantos brasileiros não escolheriam o verão ao inverno? Tem muita gente que gosta, mas, na estação fria, sair de casa cedinho não é das tarefas mais fáceis. É preciso se proteger. A chuva incomoda mais. A umidade ameaça.

As alergias são traiçoeiras, surgem de repente. E em determinados períodos os pacientes não sentem sintoma algum. Os pacientes muitas vezes esquecem que são alérgicos até o inverno chegar e as crises voltarem.

É quando os ambulatórios ficam cheios, como o do Hospital das Clínicas da USP em São Paulo. Todo mundo em busca de tratamento. E de ar.

“Como saber se é gripe, resfriado ou alergia?”, perguntou a repórter.

“A pessoa com rinite alérgica, ela tem alguns sintomas importantes que são os espirros frequentes, a gente chama de espirros em série, a coriza que é aquela aguinha que sai do nariz, bastante frequente, obstrução nasal, entupimento do nariz, e a coceira, coça o nariz, coça os olhos. Diferente da gripe, a gripe normalmente vem com mal estar, febre acompanhando. Gripe é infecciosa”, respondeu Fábio Morato Castro, professor de Imunologia Clínica e Alergia / USP.

Gripe ou alergia. Não importa. É no frio que a situação piora. Quando o assunto é mudança de tempo, o nariz é um dos alvos principais.

“Ele umedece o ar, ele aquece o ar, ele filtra o ar, então ele tem que está funcionando bem. Na rinite alérgica, o nariz está muito inflamado, está bem irritado, então quando você respira o ar, e às vezes com as mudanças de temperatura, ele não funciona tão bem e acaba desencadeando os sintomas”, ressaltou o doutor Fábio Morato.

Para a agente de saúde Elissandra Vieira de Almeida, não tem tempo bom ou ruim. Ela é agente de saúde na baixada fluminense, no Rio de Janeiro. Faça sol, frio ou calor encara a poeira e as mudanças de temperatura. Vai de casa em casa visitar os pacientes.

Há menos de um ano, Elissandra sofria muito com as crises de rinite, que quase sempre evoluíam para a sinusite. Tinha que trabalhar passando mal e ainda encarar a desconfiança dos moradores.

Foi quando ela decidiu procurar ajuda e encontrou o "Brasil Sem Alergia". Um projeto voluntário feito em parceria com a Cruz Vermelha na Baixada Fluminense. Informação e atendimento de graça. E vacinas a preço de custo.

“Passei a tomar dois tipos de vacina”, contou Elissandra.

“De novembro pra cá, você teve muita crise?”, perguntou Tatiana.

“Olha, eu não sei nem te dizer quando é que eu tive crise. Sinceramente. Não lembro”, respondeu Elissandra.

Mas no primeiro teste que fez, Elissandra era alérgica a praticamente tudo, bem diferente do resultado de hoje.

“A única coisa que a gente ainda deu um pouquinho positivo ainda é a questão do ácaro, mas com certeza houve uma diminuição do teste anterior pro teste atual, havendo uma dessensibilização do processo alérgico. Nós sabemos que o paciente alérgico é um paciente que não fica curado, e um paciente que fica controlado. Isso já é um grande sinal”, afirmou Marcello Bossois, coordenador do Brasil Sem Alergia.

Um alívio e tanto. Já são nove meses sem os sintomas.

“Pra trabalhar era horrível porque eu ia pedalando e ia chorando de tanto que meu olho ardia e era horrível”, contou Elissandra.

“Qual e a sensação agora com teu nariz, na tua respiração?”, questionou a repórter.

“Olha que beleza. Apesar da poluição estou respirando melhor. Muito bom. Dá pra usar perfume, porque eu adoro perfume, não deixei de usar perfume por causa da alergia”, respondeu Elissandra.

“Agora está usando perfume?”, perguntou Tatiana.

“Estou. Só ando cheirosa agora”, completou Elissandra.






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