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Esportes
Quinta - 09 de Junho de 2011 às 10:12

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Marcos Assunção diz ficar remoendo uma falta que não virou gol até altas horas da madrugada. Talvez seja essa busca implacável a responsável por transformar um jogador que estava desacreditado após dois anos atuando no futebol dos Emirados Árabes em ídolo do Palmeiras após pouco mais de seis meses.

"Só fico contente quando faço o gol. Quando erro, eu saio do estádio, chego em casa e fico pensando porque eu não fiz isso, porque eu não coloquei mais força na bola, porque não tirei do goleiro. E fico pensando até o outro dia", disse o jogador, em entrevista exclusiva à Folha, na Academia de Futebol do Palmeiras.

Com um ano de clube, Assunção é um dos líderes do elenco e homem de confiança do técnico Luiz Felipe Scolari, a quem ele considera um amigo. Além disso ele serve como interlocutor do treinador dentro de campo.

"Ele chega e fala: "nego véio, dá tranquilidade para os meninos, toca a bola, chuta". Ele sempre me chama na beira do campo para comentar uma coisa, para ver esquema de jogo", contou. "A maioria das vezes ele me chama, É uma coisa de amizade. Ele é nosso amigo", completou.

O camisa 20 credita às categorias de base do Rio Branco (SP), onde iniciou a carreira, e às temporadas na Europa, o alto índice na hora de entregar a bola aos seus companheiros de equipe --segundo dados do Datafolha, seu nível de acerto nos passes é de 89,5% nesta temporada.

De contrato renovado até o fim de 2012, ele diz que hoje a tendência é que esse seja o seu último vínculo. Mas antes, ele quer uma coisa. "Quero dar um título importante para essa torcida do Palmeiras, que me recebeu muito bem. É isso que eu quero daqui até o fim da carreira", falou. Confira a íntegra da entrevista a seguir.

Os torcedores esquecem que a sua primeira função é marcar. Você faz 12 desarmes por jogo. Como é isso, como você lida? Isso incomoda?

Não me incomoda. As pessoas me cobram não pela marcação, se está certa ou errada. Talvez eles estejam acostumados a ver os gols de falta. Muitas vezes acontece de eu sair na rua, fico um tempo sem fazer gol e eles me cobram, tenho que fazer gol. Mas eu sou um volante! Minha primeira função é a marcação. Depois os gols. Mas a culpa é minha por ter deixado eles acostumados. Agora é continuar trabalhando, treinar mais, me dedicar mais, para cada dia que passa os gols voltem, e dar continuidade no trabalho.

O Luiz Felipe disse que se você fosse embora, ele perderia um amigo e uma pessoa para quem ele passa certas mensagens. O que ele conversa com você, especificamente?

Talvez por ser o mais experiente, o Marcão é o mais experiente, mas está lá no gol, muito longe. Eu estou no meio de campo, então antes do jogo a gente sempre conversa. Ele chega e fala: "nego véio, dá tranquilidade para os meninos, toca a bola, chuta". Ele sempre me chama na beira do campo para comentar uma coisa, para ver esquema de jogo, fala para atacar mais pelo lado esquerdo, pede para um jogador fechar mais, marcar mais. Fazer uma linha de 4, coisas de jogo, mudar posicionamento, porque muitas vezes não dá pra escutar com o campo lotado. A maioria das vezes ele me chama, É uma coisa de amizade. Ele é nosso amigo.

Com um ano de Palmeiras, você já é um dos líderes do grupo. Como é isso para você?

Me sinto bem honrado de ser um dos capitães do Palmeiras. Eu pensei, quando eu voltei para o Brasil, em jogar em um time grande. Voltar a jogar em um time como o Palmeiras, ser capitão e ter esse carinho da torcida, esse respeito dos jogadores, da diretoria das pessoas que trabalham aqui, é muito importante para mim, gratificante. Estou muito feliz. Por isso que eu tento sempre fazer o máximo, sempre as coisas certas, no limite, para que continue mantendo esse respeito entre o Marcos Assunção a torcida e diretoria. O importante é você viver e saber que você vai chegar onde trabalha e as pessoas vão te respeitar. Isso não tem preço.

Você acabou de renovar até o fim de 2012. Encerra a carreira depois?

Acho que acaba. Vou estar com 36, quase 37. É uma idade boa. Apesar de me cuidar, quero parar num nível bom. Não quero ficar aqui só por causa de um salário. Quero ajudar. Vamos ver.

O Palmeiras vai ser campeão brasileiro?

Cara, a gente vai tentar fazer de tudo para ser. Sabemos de todas as dificuldades que teremos no caminho, mas o Palmeiras entra no Campeonato Brasileiro para ser campeão. Porque se não entrar com esse pensamento, não precisava nem jogar. Eu não entraria nem em campo, por exemplo. O pensamento é ser campeão independentemente do time que vamos enfrentar, temos que entrar sempre a mesma motivação. Vamos trabalhar sério para conseguir o máximo de vitórias possível e ser campeão.

Qual é a característica que melhor define esse time do Palmeiras?

A amizade. É um grupo que é amigo. Que se doa para o companheiro o tempo inteiro. E é o que tem que ter dentro de campo, ser unido, como se fosse uma família de irmãos. E levar isso para dentro de campo. Só assim a gente vai conseguir as vitórias. Se tem um probleminha com um companheiro, vai lá e dá a mão para ele, tira do fundo do poço, do momento ruim que ele esteja vivendo no jogo, ou mesmo durante o campeonato.

Qual derrota doeu mais, contra o Goiás [eliminação na semifinal da Sul-Americana do ano passado], contra o Corinthians ou contra o Coritiba?

Acho que foi contra o Goiás. Não, foi contra o Coritiba. Porque eu nunca tomei de 6 a 0. Essa foi a que doeu mais. Nunca tomei de 6 a 0 na minha vida e essa doeu bastante. Contra o Goiás nós perdemos aqui em casa, são duas eliminações em casa praticamente [juntando a do Corinthians]. Mas contra o Coritiba....Na volta, era impossível fazer 6 gols. O time deles podia jogar com os juniores, se colocasse todo mundo atrás ia ser impossível fazer 6 gols. 6 a 0 é muito, são muitos gols, é muita desatenção pra um jogo só. Você não vê isso sempre. É uma coisa que acontece raramente, me doeu bastante. Me senti envergonhado contra o Goiás, mas contra o Coritiba me senti muito mais por causa do número de gols que sofremos.

E o que aconteceu naquele jogo?

Desatenção, sei lá. Sabe, é até difícil falar, você pergunta para todos os jogadores, ninguém consegue explicar, ter uma análise completa do que foi aquele jogo. Nós, tentávamos, corríamos de todas as maneiras, mas parecia que estávamos com o freio de mão puxado e os caras estavam com o acelerador no máximo. Foi difícil.

Vocês foram crucificados depois da derrota. A pressão que vocês sofrem é exagerada?

Não digo exagerada. O que acontece é o seguinte. O torcedor tem todo o direito de cobrar, no estádio, porque ele paga ingresso e ele tem todo o direito de querer que o time vença. Mas antes de jogadores de futebol, somos seres humanos. Temos as nossas famílias, como os torcedores têm. É normal, temos uma profissão que não pode errar, na nossa profissão você não pode errar. Se errar você está morto. Em um jogo normal, tudo bem, mas em uma final você não pode errar, porque você sabe que se errar, vai ter um problema sério. Então nós temos que estar o máximo possível serenos, tranquilo. O futebol é estressante por isso. É gostoso de se jogar. Mas quando tem uma derrota ruim, uma semifinal, uma final de campeonato, você fica com vergonha de sair na rua. Teu filho te pedir para ir ao parque, e você falar que não quer sair na rua com vergonha de olhar o torcedor palmeirense. Digamos que eu desconto nas pessoas na minha casa. Eles ficam lá em casa esperando, e muitas vezes eu volto de cara amarrada. E por uma derrota, os planos têm que ser mudados. Por isso o futebol é estressante às vezes.

Dos 12 gols que você fez no Palmeiras, nove foram de falta. Como você se prepara, como é a concentração. A torcida atrapalha?

Eu me concentro o máximo. Não só nas faltas para fazer o gol, como nos escanteios. No escanteio até dá [para ouvir a torcida], porque eu encosto perto da torcida. Quando a torcida está ao nosso favor é bom. Mas nas faltas eu me concentro, não escuto nada. Parece que tampo o ouvido. Consigo absorver tudo, consigo me concentrar. O nível de concentração tem que ser 100%. Senão não entra.

E tem diferença entre uma falta em um jogo decisivo ou não?

Não tem diferença. A concentração é a mesma, a dedicação, a vontade de fazer o gol é a mesma, independente do time que eu estou jogando contra, a minha motivação é sempre a mesma.

E o que faltou para você na carreira?

Faltou disputar uma Copa do Mundo. Era meu sonho desde criança, sempre quis. Mas os treinadores fizeram outras opções.

E daqui até o fim da carreira, o que você quer, o que falta?

Quero dar um título importante para essa torcida do Palmeiras, que me recebeu muito bem. É isso que eu quero daqui até o fim da carreira.






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