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Opinião
Segunda - 09 de Agosto de 2010 às 17:01
Por: Bruno Peron

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A natureza, cedo ou tarde, devolve à humanidade aquilo que esta tirou daquela. Enquanto a tragédia das inundações pluviais afetou desta vez o Paquistão, o oeste da Rússia assistiu à declaração de estado de emergência devido ao calor excessivo e incêndios florestais.

O homem não se volta somente contra a natureza, mas encontra animosidades dentro da mesma espécie. Numa declaração de que vizinhança não implica necessariamente amizade, o líder venezuelano Hugo Chávez rompeu relações diplomáticas com a Colômbia de Álvaro Uribe.

Até que Juan Manuel Santos assumisse a presidência da Colômbia em 7 de agosto de 2010 e antes da dispersão das incertezas, o vizinho petroleiro tem levado a sério as declarações do governo colombiano sobre o apoio de Chávez a guerrilheiros no território venezuelano. Abriu-se mão do recurso da diplomacia, que já evitou muitas guerras.

Em cada lado deste mundo há demonstrações de que o homem não tem vocação de liderança sobre outras espécies como acreditou por muitos séculos, inclusive antes do período das "luzes". Ao contrário, as maiores virtudes limitam-se a mitos que encontram poucos correspondentes em qualquer sociedade. Ao maior deles, deram-lhe pouco mais de três décadas de vida!

Toda sociedade manifesta formas e expressões de poder que visam a organizá-la, mas quase sempre geram estruturas hierárquicas e opressoras que escravizam os homens e oferecem-lhes poucas possibilidades de auto-conhecimento e reforma sistêmica.

É só ver a bandalheira em que está o Brasil.

Um caso notório de que é possível adequar um modo de produção ao anseio de parte da população ocorre em Cuba. O governo cubano de Raul Castro flexibiliza o sistema produtivo da ilha ao prever a abertura de pequenos negócios e a comercialização de alguns bens após longas décadas de domínio da propriedade estatal.

Poucos países latino-americanos apresentam processos de grande envergadura que ocorrem de dentro para fora. Geralmente se apropriam de modelos (culturais, econômicos, políticos, etc) que emergiram no ultramar e, antes de que dessem certo por lá, já se enquadravam por aqui. Quando e se dessem errado, quebrariam lá e aqui ao mesmo tempo.

Assim tem sido com a religião, o idioma, os estrangeirismos, a alimentação, os filmes, o capitalismo e a democracia. Que "passione" nos causam!

Mas nem tudo é culpa da globalização.

Haverá de aparecer um culpado mais pertinente, travestido de cidadão!

Neste ínterim, seguem os esforços de cooperação e integração entre os povos da América Latina, que têm culminado nos encontros da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e o aperfeiçoamento do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Ainda tem gente séria e preocupada com os rumos da região para evitar a venda de nosso patrimônio abaixo do preço de custo.

Ambos processos demonstram o compromisso dos países da América Latina de escutar as partes envolvidas e trocar experiências.

Para citar alguns objetivos derradeiros, a UNASUL tenta reaproximar os governos de Colômbia e Venezuela, no tempo em que o MERCOSUL desembaraça o comércio fronteiriço e conquista o Paraguai com o atendimento de suas demandas energéticas com o Brasil.

O desafio ainda é grande devido ao excesso de equívocos do passado, alguns irreversíveis.

Chamam os anos 1980 de "década perdida" na América Latina, mas penso diferentemente. Foi a década em que ainda havia esperança, já que a escolha que a região fez e entrou de cabeça nos anos 90 foi a de um consumismo decrépito, um neoliberalismo essencialmente desleal com o desenvolvimento humano, uma aposta cega no mercado.

Basta ver o que a empresa SIGEL, com sucursal no estado do Pará, Brasil, fez para aumentar seus lucros sobre a venda de barbatanas de tubarão aos chineses, que as consomem nas sopas. Limitados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) quanto ao número de tubarões autorizados para abate, contrataram mercenários para retirar estes seres do mar, cortar suas barbatanas e lançá-los novamente ao acaso das ondas, à morte certa, porque ninguém verá seu destino fúnebre no fundo do mar. É o mesmo que mutilar uma pessoa, cortar todos os seus membros, e jogar ao acaso. Canalhas, cruéis, frios, vis e impunes!

Por isso as desgraças têm sido abundantes e a resposta da natureza chega lancinante. Nunca fez tanto calor, nunca choveu tanto ou se teve estiagem tão duradoura, nunca houve tanta gente (sobretudo as más), o trânsito nunca esteve tão ruim nem o ar tão fedido.

O estancamento destes fenômenos não depende só de nossos "representantes" que se réunem em volta de uma mesa gigante de mármore nalgum palácio governamental, mas da atuação de cidadãos engajados e preocupados com o rumo deste país e do mundo.

Não se subestime porque acredita que aparece menos que fulano de tal ou falta em você uma virtude que vê noutra pessoa.

Encontre em si mesmo uma característica que poderá enaltecê-lo como um cidadão. Tenho certeza de que encontrará!

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