Burros e caminhos
Domingo passado estive na casa do amigo Bilo, ex-prefeito de Acorizal. Ele é um desses papos memoráveis em qualquer ocasião. E lembramos o papel dos burros na abertura dos caminhos por esse Mato Grosso histórico. Mas é preciso antes lembrar uma conversa com o empresário João Bosco Linhares Nunes, da Dunorte Papelaria. Ele tem uma fazenda na região de Bom Jardim, próximo a Cuiabá. A casa fica num vale belíssimo, mas tem uma serra na chegada. Ele teve dificuldades para abrir a estrada até que alguém da região lhe disse pra soltar um burro e seguir a trilha dele, porque burro tem a sabedoria dos GPS modernos. Não deu outra. A estrada está lá, certinha.
As duas estórias servem na verdade para ilustrar um raciocínio. Quero falar dos “burros”, como Bilo, João Bosco, e outros que abriram os caminhos em Mato Grosso quando não havia picadas e nem estradas em qualquer área da sociedade. Vou lembrar alguns, na esperança de que eles simbolizem dezenas de “burros” que abriram picadas em momentos que nada se via no horizonte de nosso estado.
Lembro de Gabriel Muller, o gigante do Pantanal, de Bento Lobo e Eucário Queiroz, na assistência rural, de Maria Lygia Borges Garcia, na organização da assistência social e do artesanato, de Nhonhô do Tamarineiro, de Zelito Monteiro, de Fernando Correa da Costa, de João Ponce de Arruda, de Silvio Curvo, de Helio Palma de Arruda, de Enio Vieira, de João Vilasboas na política histórica, de Garcia Neto, de Joaquim Nunes Rocha, e de Júlio Campos na política moderna, de Rodrigues Palma, insuperável prefeito de Cuiabá, de Heronides Araújo, de Sebastião Bilego, e de Valdon Varjão, fundadores de Barra do Garças e do Araguaião. De Sebastião Otonni, prefeito de Aripuanã que não tinha prefeitura lá, mas em Cuiabá.
Fui amigo do escritor Rubens de Mendonça, do ex-governador Cássio Leite de Barros, o último governador de Mato Grosso, de Lúdio Coelho, de Mendes Canale, de Ramez Tebel, de José Fragelli, de Maria de Arruda Muller, do extraordinário Archimedes Pereira Lima. Sou amigo de Pedro Rocha Jucá, de Adelino Praeiro, de Aline Figueiredo, de Humberto Espíndola. Fui amigo de Enio Pipino, de Ariosto da Riva, de Ludovico da Riva, de Zé Paraná, de Norberto Scwhants, de André Maggi, de Hilton Campos, de Rômulo Vandoni, de Frederico Campos, de Edgar Nogueira Borges, de Sinjão Capilé, de Íris Capilé, de Vasquinho, de Gabriel Novis Neves, de Benedito Pedro Dorileo, de Dunga Rodrigues, do mestre China, de Atílio Ourives, de Zelito Dorileo, de Vicente Leão, de José Villanova Torres, de Gabriel de Matos, de Oscar Ribeiro, de Afro Stefanini, de tanta e de tanta gente que já nos deixou, e de tanta gente que vive e circula anonimamente pela sociedade atual.
Nem vou citar mais nomes. Mas o que gostaria de simbolizar citando esses nomes e sabendo que deixei de citar dezenas de outros com os mesmos méritos, é que eles representam os “burros” que acharam e construíram caminhos em momentos que não haviam caminhos para si, para os seus e para a sociedade que representavam.
O curioso é que a maioria deles está realmente anônima ou nem sequer é lembrada, apesar de tudo. Muitos, nem mesmo a História se dignará a dar-lhes crédito. Mas Bilo e Bosco tem razão: os burros sabem do melhor caminho e sabem como chegar lá no horizonte...!
*ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso
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