Existência de "currais" em Várzea Grande revela prática do coronelismo
A derrapada eleitoral
Dos bairros, se tem a melhor visão do cenário político-eleitoral várzea-grandense. Não é para menos. Pois, há muito, a área central da cidade perdeu a condição de termômetro da política local. Isso, aliás, ficou claro nas últimas eleições, quando a periferia forneceu os retratos fiéis das campanhas eleitorais de 2004 e 2008.
Detalhe, entretanto, ainda não percebido pelas equipes de trabalho dos candidatos a prefeito, e, pior, tampouco por estes. Não percebido porque se recusam a andar além da linha que divide o centro da periferia. Atitude que leva aos erros, os quais podem trazer prejuízos, a exemplo da derrota.
Derrota é claro, que candidato algum quer sofrer. Alerta que vale tanto para o atual prefeito, quanto pelo peemedebista e até para a democrata. Ainda mais quando se sabe que cada um deles pertence a uma dada facção, e, o conjunto desta, traz embutido o retrato coronelístico municipal. Inclusive o peessedista que, a toda hora, diz “não ter comandado a prefeitura por trinta anos”. Não comandou, é verdade.
Porém, vale lembrar que o seu nome está ligado hoje aos coronéis estaduais do PSD, e saiu, em 2008, do seio de um grupo e lançado a condição de vice-prefeito na chapa do republicano-prefeito, cuja trajetória – a partir daí – esteve vinculada ao do titular, pelo menos até a cassação do mandato deste.
Situação não diferenciada do agora peemedebista que, a bem pouco tempo, compunha a ala de frente da agremiação liderada pelo senador democrata. Só a deixou quando foi retirado da disputa de 2008. Ingressou, então, no PMDB – partido historicamente atrelado a coronéis que hoje têm as rédeas da administração pública do Estado.
Embora seja, no dito município, uma sigla de médio porte, sem grandes páginas históricas, nem por passagens memoráveis tanto no Parlamento quanto no Executivo da cidade. Talvez atropelado que fora, ao longo das décadas, pela Arena, PDS, PFL e pelo DEM.
Estes sempre estiveram no QG das decisões da cidade. Inclusive quando não tinham o leme, pois, volta e meia, se depara em uma secretaria alguém bastante próximo da família Campos. Família que tem novamente um de seus membros na disputa pela prefeitura.
Disputa que deveria estar mais quente. Sobretudo em função da desorganização da vida urbana, provocada pela instabilidade jurídica e política, a ponto de se ter dois ou três prefeitos em curto espaço de tempo. Quadro, como já era esperado, que levou o distanciamento de grande número de munícipes. Estes não têm acanhamento algum em dizer que perderam “a fé na política e nos políticos”. Resposta bastante frequente, por exemplo, no bairro “Cidade de Deus”. Seus moradores – pelo menos os contatados por esta coluna – se recusam a conversar sobre a briga pela cadeira central do Paço de Couto Magalhães.
Isso é bastante sugestivo. Capaz ainda de proporcionar lances que podem mexer com a atual estampa fotográfica das eleições. O que relembra muito o cenário de 2008, não no sentido de negociatas de candidaturas. Foi uma reação quase silenciosa do eleitorado espremido entre os bairros periféricos. Os democratas não souberam ler aquele desenho. O mesmo se pode dizer com relação ao deste ano. Talvez embevecidos que estão pelos índices publicados pelas pesquisas, cuja ressaca poderá ser indigesta.
Pena, entretanto, que também o peemedebista-candidato se derrapa na esteira de seus próprios desacertos; enquanto o prefeito-candidato continua a patinar na pista improvisada de suas ações desconectadas da realidade vivida pelos moradores do lugar.
O que facilita as coisas para o adversário político em comum. Ainda que este esteja igualmente perdido nas sombras das fotos de quem seja o verdadeiro candidato democrata.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista político.
lou.alves@uol.com.br
Comentários