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Opinião
Segunda - 02 de Agosto de 2010 às 01:01
Por: Bruno Peron

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Seja a luz que raia sobre tanta treva, que obscurece o mundo. Não tenha receio de reciclar quando o vizinho não move uma palha para fazê-lo, de criticar um governante quando discorde de suas decisões, ou de assumir hábitos inócuos de seu gosto quando fogem do lugar-comum.

O povo cala-se no Brasil, país que deveria estar em guerra civil. Aqui o absurdo vira consenso. Todos querem tirar o seu ganho por mais abjeto que seja o meio de consegui-lo. Amadurece um fruto podre num território onde proliferam assassinos, bandidos, corruptos, covardes e vigaristas.

Faz-se a fita do Brasil no exterior, prepara-se um cenário de conto de fadas para a recepção de dois eventos mundiais (a saber: Copa em 2014 e Olimpíadas em 2016) e aquecem-se as refeições dos bichos-papões (corsários, ladrões, oportunistas, etc). Enquanto isso, a cidadania do tupinica vive seu pior pesadelo.

O óleo flui no Golfo do México na proporção em que os verdugos da cana-de-açúcar temperam as casas e vias públicas com o condimento de sua queimada (irracional, inconsequente, inescrupulosa) no interior paulista. Ninguém faz nada para contê-los e puni-los a despeito da mácula subjacente.

O melhor do etanol (e do leite, da carne, etc) é exportado ao fetiche do "mercado internacional" por um custo (logo dívida) social muito grande no Brasil. Somos enganados com preços exorbitantes de produtos que deveriam ser baratos e nos sobra, ainda, o que é de segunda linha ou o que outros países barram por não cumprir as exigências sanitárias mínimas. Só querem enxugar o nosso suor.

O combustível é caríssimo num país que é auto-suficiente em petróleo (extração da Petrobrás) e baluarte do uso de fontes alternativas de energia (etanol, biodíesel) nos veículos automotores, que crescem astronomicamente e na contramão do preparo das cidades tupinicas de sustentar este logro das montadoras. É difícil aceitar a versão de que o setor foi um dos mais afetados pela crise financeira, como nos fizeram crer.

Muitos canalhas e corruptos que estão no poder governam para todos menos o povo, que lhes atribuiu provisoriamente a prerrogativa de "representação" e defesa dos interesses coletivos, hoje decadentes e olvidados. Piores do que eles são os cidadãos inertes, que esperam um retorno das "autoridades" ou de médiuns impostores das relações políticas em passividade.

Na mesma tendência escatológica, há emissoras de televisão assumindo o papel, que não é evidentemente delas, de órgãos governamentais, como o de fiscalizar políticas públicas, julgar e punir criminosos, e definir pautas de debates políticos. Se fosse somente como um complemento da atividade de cidadãos ativos, seria aceitável. As pessoas têm comprado, porém, aquela ideia. É o fim.

Temas políticos complexos estão na ordem do dia como se pudessem ser resolvidos sem embaraço. O embargo criminoso a Cuba imposto pelos EUA há décadas e a crítica ao sistema político da ilha demandam atenção e debate. O caso cubano é objeto constante de manipulação da opinião pública, no entanto.

Cada aparição de Fidel Castro em público rende alguma matéria de agência de notícia renomada. Suspeita-se de que um dia falarão de seu fantasma. Disseram que Castro tem aparecido para desviar a atenção da onda de greve de fome como forma de protesto, cujo último ator foi Guillermo Fariñas.

Conquanto o sistema comunista de Cuba não tenha líderes ingênuos ou inteiramente comprometidos com a estratosfera divina, a ilha tem levantado constantemente o debate acerca da viabilidade do modo de produção excludente e acumulativa de riquezas, que não convence mais se é que já foi convincente.

México e Colômbia, de tão sufocados que estão com a fama do narcotráfico, decidiram passar a vez a Guatemala, que virou rota de cocaína sul-americana aos EUA. O tráfico de entorpecentes impulsiona a economia de alguns países latino-americanos como poucos outros produtos seriam capazes de fazer. A Guatemala de Álvaro Colom tem sido apontada como país à beira do colapso de seu sistema estatal. Da incapacidade de fazer valer suas leis advém o apetite da corrupção e a desconfiança que assola o país.

Ao longo da América Latina, o que se conhece por "violência" sofre matizes. A Jamaica ostenta o segundo maior índice mundial de homicídios. As ilhas caribenhas pedem ajuda policial estrangeira, como já o fizeram do Canadá e da Inglaterra, para conter o aumento de violência.

Seria ingenuidade culpar somente o capitalismo pelas desgraças individuais e prejuízos coletivos porque o homem, desde que lascava pedra, já matava seu semelhante com cascalho. Estes últimos séculos correspondem à culminação da tendência destruidora do ser humano como espécie e do planeta, que, se não fizermos nada, será irreversível.

A corrida de titãs exclui a maioria porque só envolve os pujantes, quase todos ardilosos e ensimesmados. A contraposição entre fracos e poderosos é um tema atávico, recorrente, pegajoso. Aos seres de bem, portanto, resta protestar para não colher somente as migalhas que deixam os estrategistas da "terra arrasada".

O interior de São Paulo, no Brasil, onde já prosperaram florestas exuberantes e ares saudáveis, hospeda hoje uma injúria desmedida ao meio ambiente e o ser humano. Outros estados também assistem à degradação ambiental voraz pela agricultura e a pecuária voltadas à exportação.

Em luto pela contaminação do Golfo do México!

Em luto pela destruição ambiental!

Em luto pela degradação dos entorpecentes!

Em luto pelo desrespeito ao cidadão!


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