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Público Diferente do Privado
O lidar com os negócios públicos é bem diferente de tocar uma empresa privada. Todos sabem disso, ou deveriam saber. Embora, em época de campanha, um ou outro candidato ao Executivo teima em dizer do contrário. Pois vem com o discurso de que “o bem sucedido no particular” tem tudo para ser “um grande gestor público”.
Não se tem dúvida que um empresário pode ser um bom administrador público. Ninguém duvida dessa proeza, nem nega que tenha ou possa existir o dito exemplo. Tal possibilidade, entretanto, está muitíssimo distante de ser gerada unicamente no ventre empresarial. Isso porque o espaço do particular em nada se assemelha com o espaço onde se origina e encorpa o bem comum. Este se contrapõe aquele, o qual, por sua vez, se distancia do interesse da coletividade, reforçando assim as peças publicitárias, que “socializam” o consumo e personalizam o lucro. Mesmo sob a argumentação de que tem proprietário que distribua parte dos dividendos.
Distribuição essa que nada tem a ver com a promovida pelo poder público. Sobretudo porque a segunda tem como norte a ampliação do campo político. Neste, os iguais se cruzam e se entrelaçam. Misturança toda que transforma desejos em reivindicações, e, estas, em direitos.
Por isso se diz, e não sem razão, que qualquer falha no cumprimento da responsabilidade número um do governante, descarrila a democracia e faz empobrecer o Estado, pois este perde, ainda que temporariamente, seus sustentáculos, entre os quais o republicano.
Percebe-se, então, que o negócio público diferencia do privado. Neste, a vontade do proprietário é a regra, e, por conta disso, faz tudo que lhe convier ou agradar; ao passo que naquele, o desejo que brota não é de um, nem de dois ou do grupo de sócios de um dado empreendimento, mas, sim, de toda a população, cuja satisfação se dá com as realizações de obras que garantam o seu bem-estar. Daí a necessidade de se combater a impunidade, fonte maior da violência e da corrupção. Se bem que a corrupção é uma forma de violentar o que é público e agredir o bem comum, e, entre essas agressões encontra-se o de transformar o público em extensão do privado. Muitíssimo presente na história do país. Até mesmo pelo modelo que se adotou para formar o Estado nacional, sustentado pelo patrimonialismo e cartorialismo.
Quadro complicado. Tanto que gerou o “se dar um jeitinho” e “você sabe com quem está falando?” Frases que realçam, e bem, os contornos de uma enorme fotografia, na qual, ainda hoje, infelizmente, os ditos “homens bons” ou “de sociedade” se encontram em destaque.
Explica-se, portanto, o porquê o país continua bastante desigual. A despeito de projetos sociais do tipo Bolsa Família e do discurso, sempre para cima, do presidente da República, que teima em empurrar uma porção de sujeiras para debaixo do tapete - o mensalão, por exemplo – como se estivesse administrando um negócio particular. Crença que o faz debochar das multas que lhe são aplicadas pela Justiça Eleitoral, sem que nada lhe aconteça.
Apesar disso, vale reafirmar, o lidar com as coisas públicas é bastante diferente do administrar um negócio privado.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
Não se tem dúvida que um empresário pode ser um bom administrador público. Ninguém duvida dessa proeza, nem nega que tenha ou possa existir o dito exemplo. Tal possibilidade, entretanto, está muitíssimo distante de ser gerada unicamente no ventre empresarial. Isso porque o espaço do particular em nada se assemelha com o espaço onde se origina e encorpa o bem comum. Este se contrapõe aquele, o qual, por sua vez, se distancia do interesse da coletividade, reforçando assim as peças publicitárias, que “socializam” o consumo e personalizam o lucro. Mesmo sob a argumentação de que tem proprietário que distribua parte dos dividendos.
Distribuição essa que nada tem a ver com a promovida pelo poder público. Sobretudo porque a segunda tem como norte a ampliação do campo político. Neste, os iguais se cruzam e se entrelaçam. Misturança toda que transforma desejos em reivindicações, e, estas, em direitos.
Por isso se diz, e não sem razão, que qualquer falha no cumprimento da responsabilidade número um do governante, descarrila a democracia e faz empobrecer o Estado, pois este perde, ainda que temporariamente, seus sustentáculos, entre os quais o republicano.
Percebe-se, então, que o negócio público diferencia do privado. Neste, a vontade do proprietário é a regra, e, por conta disso, faz tudo que lhe convier ou agradar; ao passo que naquele, o desejo que brota não é de um, nem de dois ou do grupo de sócios de um dado empreendimento, mas, sim, de toda a população, cuja satisfação se dá com as realizações de obras que garantam o seu bem-estar. Daí a necessidade de se combater a impunidade, fonte maior da violência e da corrupção. Se bem que a corrupção é uma forma de violentar o que é público e agredir o bem comum, e, entre essas agressões encontra-se o de transformar o público em extensão do privado. Muitíssimo presente na história do país. Até mesmo pelo modelo que se adotou para formar o Estado nacional, sustentado pelo patrimonialismo e cartorialismo.
Quadro complicado. Tanto que gerou o “se dar um jeitinho” e “você sabe com quem está falando?” Frases que realçam, e bem, os contornos de uma enorme fotografia, na qual, ainda hoje, infelizmente, os ditos “homens bons” ou “de sociedade” se encontram em destaque.
Explica-se, portanto, o porquê o país continua bastante desigual. A despeito de projetos sociais do tipo Bolsa Família e do discurso, sempre para cima, do presidente da República, que teima em empurrar uma porção de sujeiras para debaixo do tapete - o mensalão, por exemplo – como se estivesse administrando um negócio particular. Crença que o faz debochar das multas que lhe são aplicadas pela Justiça Eleitoral, sem que nada lhe aconteça.
Apesar disso, vale reafirmar, o lidar com as coisas públicas é bastante diferente do administrar um negócio privado.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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