Institutos e instituições
As convicções e manifestações políticas dos brasileiros dançam de acordo com os números e porcentagens dos candidatos nas pesquisas. Tudo muito bem pesado, pensado, não importando idéias, posturas e projetos apresentados. Essa é nossa frágil democracia, que não resiste a mais doméstica pesquisa.
Para cada candidato, um instituto entrincheirado atrás das verbas federais e institucionais, maquiando números, arquitetando abordagens, realizando tendenciosas perguntas, sugerindo uma realidade. Na margem de erro, os números fraudados, para cima ou para baixo, como um álibi, uma resposta ao proposital equívoco.
Não é de hoje que esse mal é praticado Brasil afora, com sérios prejuízos para a nossa inocente democracia. Em larga escala, em proporção nacional, beneficiando sempre os grandes grupos, os grandes candidatos, as grandes corporações. Os pequenos partidos, depois de soterrados por esse ou aquele instituto, ficam calados, recolhidos a sua democrática insignificância. Assim é o Brasil, um país que acredita mais em referendo que em eleições, mais em mandatos acordados que na manifestação espontânea de uma futura liderança.
As eleições em nossa terra de Cabral se transformaram em um jogo de cartas marcadas, de eleitos pela decisão dos poderosos e aferidos pelo poder do voto, tudo costurado com os institutos de pesquisa, que servem sempre a apenas um senhor, o contratante.
É lamentável constatar que depois do voto de cabresto temos o voto induzido, tão eficaz quanto o silêncio aprovador que paira sobre ele. Não é exagero dizer que após o voto eletrônico, teremos uma possível eleição virtual, pois a credibilidade que se consolidou em torno das pesquisas nos faz pensar em uma futura substituição do voto pelo cadastro. O voto se tornou tão secreto que até sumiu e o outro pode ser conferido, pois foi todo ele respondido e quantificado. Que inversão de valores.
Ainda assim, como se fossemos abduzidos pelos números das pesquisas, o eleitor vai depositando seu voto naquele que lidera, sem nunca analisar o processo que o fez chegar ali. Como parte integrante desse jogo, os grandes veículos de comunicação dão em destaque as últimas enquetes, aferindo a nova realidade que muitas vezes produziram.
Bom, diante disso tudo, o eleitor, que deveria ser consultado e conquistado, é apenas abduzido pelas pesquisas, pelo marketing dos candidatos, pelos programas produzidos, pelos discursos maquiados. Depois de eleito, a grande surpresa se revela, pois tudo aquilo em que se acreditava votar era apenas uma encenação, uma criação midiática, um tempo de campanha, que não tem nada que ver com a realidade e as convicções dos escolhidos. Talvez por isso, tantos nomes figuram hoje nas listas apresentadas.
*Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor.
www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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