Entre o velho e o viciado
Pelos jornais os principais candidatos à presidência da República se digladiam, em um dantesco big brother político e midiático. No paredão, o futuro da nação assiste a inexistência de programas de governo, quando é eliminada a esperança de mudança em um futuro próximo. Tudo, uma sucessão de ataques desnecessários, pueris, que acrescentam nada à democracia, à política e a consciência cívica de um povo.
O descompromisso é tanto, que eles assinam plano de governo, protocolam e depois retiram todas as prioridades propostas, revelando como é barata e mutável a sua compreensão, seu sentimento de estado, seu comprometimento com o futuro do país. Vergonhoso!
Vivem a política não para mostrar uma forma nova de ver o mundo e de pensar uma nação, os destinos de um povo. Mas para manter os cargos comissionados, os contratos acertados, a velharia da velhacaria institucionalizada em que fundamentaram a sua vida pública. Cada um representando o continuísmo, a perenização de um grupo, sem nada de novo para acrescentar ou sugerir. Tudo velho e viciado.
A democracia só se justifica pela renovação do poder, da oxigenação da administração pública, pela necessidade de discutir planos, apresentar propostas, apontar caminhos, um novo enfoque nos destinos e anseios de um povo. Se fosse apenas para continuar, muito mais fácil e barato dar um mandato vitalício para esse ou aquele governante, acreditando ser a vida pública apenas administrar os avanços conquistados, pavimentar ruas e direcionar verbas para pobres programas sociais. Não apresentam o que farão, mas gritam aos quatro ventos o que vão manter. É a total falta de mobilização, de participação popular, de inspiração, como se não fosse mais preciso sonhar. É o apagão ideológico que se abateu sobre o Brasil, uma profunda prostração civil.
Ainda assim, com toda essa pasmaceira política vivida até aqui, o eleitor assiste calado ao big brother protagonizado nas páginas dos jornais e nas telas das tevês. Os atores são tão fracos, tão ruins, tão medíocres, que não despertam sentimento algum nos espectadores, que diante da indiferença, declaram calados seu mais profundo desprezo. Tudo tão rasteiro quanto nossa consciência cívica, que aceita submissa os arranjos e acordos políticos repetidos e reeditados em plena luz do dia, ano a ano.
O pior disso tudo é que vamos permitir o adiamento, por mais quatro anos, do sonho de divisar um país novo, calcado em novos valores, em uma nova mentalidade de nação e povo.
*Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor – www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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