Jornalista de diploma
Sou insuspeito, porque tenho diploma de jornalista. Fui primeiro lugar no vestibular e em todo curso. Lecionei em duas faculdades de jornalismo, na PUC e no Ceub, e num curso de jornalismo em Montevidéu. Sei que ninguém precisa de oito semestres para ser jornalista. O que é preciso é ter vocação - faro para a notícia e capacidade de contá-la -, talento - para saber contar - um grande conhecimento de tudo, sobretudo História, a ciência básica do jornalista. E uma bagagem sem fim de conhecimentos gerais, com humildade de saber que sempre sabe pouco e com curiosidade bastante para sempre querer saber mais. E conhecer a ferramenta, a Língua. A manchete idiota que abre este texto é exemplo de quem não sabe que a comunicação se dá com a simplicidade e objetividade, como resumiu Churchill, ainda jornalista na Índia, em 1898: Das palavras, as mais simples; das mais simples, as mais curtas.
Pois bem, o que interessa para a sociedade a quem os jornalistas servem? Se eles têm ou não têm diploma de jornalista, ou a qualidade da informação? Não importa a opinião de comentaristas ou de editorialistas e colunistas. O que importa é se a notícia é verdadeira, expressa numa linguagem simples, clara e objetiva para todos entenderem e com a credibilidade conferida pela isenção e neutralidade de quem a transmite. Ou seja, o que dá credibilidade à notícia é a imparcialidade com que ela é produzida e o conhecimento que tem o jornalista do fato e de suas causas e consequências. Assim, não é a exigência de diploma de jornalista que está em questão e, sim, a competência do jornalista. E nenhum jornal, revista, TV ou emissora de rádio vai cometer a bobagem de contratar alguém incompetente. Quando fui diretor da TV Manchete e depois da TV Globo em Brasília e alguém pedia emprego mostrando currículo e diplomas, antes de olhar os diplomas eu o mandava para a rua e voltar com uma reportagem.
Pode-se exigir diploma para médico, engenheiro, mas não para jornalista, ou economista. Imagine-se exigir diploma de administrador de empresa para promover alguém a gerente. A exigência do diploma de jornalista nada mais é que criar um cartório para proteger medíocres. E proteger escolas superiores de jornalismo que proliferam sem qualidade, em que professores são, às vezes, gente que não deu certo nas redações e nos microfones.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br
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