Abicalil entra no jogo
A escolha de Altevir Magalhães, diretor-presidente da rede varejista Modelo, recolocou o deputado Carlos Abicalil no jogo da disputa real por uma das duas vagas ao Senado da República nas eleições deste ano em Mato Grosso. Primeiro, porque amplia a representatividade de Abicalil, que vinha sendo tragado para uma disputa menor, interna e fratricida com a atual senadora Serys Slhessarenko. Antes de Altevir, as duas suplências de Abicalil, quando muito, buscavam uma representação apenas partidária, na tentativa de contemplar os divergentes grupos internos. E todos sabemos que, sozinho, o PT mal possui votos para eleger um estadual e um federal. (A eleição de Serys, em 2002, só foi possível - e todos que vivem os bastidores políticos sabem disso - por causa da mão amiga da turma da botina).
Em segundo lugar, ao ampliar seu projeto com Altevir, Abicalil, além de sinalizar com um setor empresarial que dificilmente embarcaria na sua canoa apenas por seus predicados individuais (e que são muitos), conseguiu também chamar a atenção de Blairo Maggi, que vinha trabalhando sua candidatura como se fosse a única da coligação, ignorando retumbantemente os outros candidatos da chapa majoritária - diz-se que até mesmo Silval Barbosa.
O fortalecimento de Carlos Abicalil, por este raciocínio, reequilibra os pesos da chapa majoritária governista. Blairo, se continuar fazendo o jogo do “eu sozinho”, passará a correr riscos, porque agora vai precisar do segundo voto de Abicalil. Até então, a maior coincidência indicada pelas pesquisas era entre Blairo Maggi e Antero Paes de Barros, no PSDB.
Alguém pode ressalvar que essa coincidência dos votos Blairo-Antero era meramente casual – ou não intencional – na medida em que Blairo tem uma liderança expressiva no primeiro voto, e que o candidato que vinha pontificando na segunda colocação, numa quase-polarização com ele, é Antero. É verdade. Assim como também são inegáveis alguns esforços de ambos em não se agredirem nessas eleições, o que acabou por estimular essa coincidência.
Antero não deseja um confronto com Blairo por causa de sua grande frente nas pesquisas e também devido à aprovação de seu governo. Experiente, ele sabe que bater de frente com quem o eleitor aprova provoca um efeito contrário, impondo mais perdas do que ganhos ao aríete. Logo, preferiu a estratégia “Anterinho paz e amor” de não bater em Blairo para tentar colher o segundo voto dos eleitores que lhe são simpáticos.
Já Blairo, ao que tudo indica, não deseja o confronto porque sabe que Antero tem a mão pesada na hora de bater em seus adversários, e o “Beiçudo” – como Blairo é tratado por alguns amigos em rodas restritas, tem o coro fino, não se acostumou a apanhar. Aliás, diz-se no meio político mato-grossense que se os tucanos fossem tão bons de governo como são de campanha se perpetuariam no poder.
A entrada de Abicalil no jogo, portanto, elimina essa relação causal da pretensa polarização na coincidência dos votos de Blairo e Antero. O que deverá ocorrer de agora em diante, caso seja para valer a declaração de Blairo esta semana de que vai unificar sua campanha com a de Abicalil e Silval, é que o segundo voto de Blairo migre mais para Abicalil que para candidatos de fora da aliança.
Silval acaba sendo um beneficiário direto desse fortalecimento de Abicalil, por passar a contar com uma chapa majoritária forte na totalidade, sem ter que pender mais para um lado que para o outro. Mesmo o próprio Blairo se beneficia com a situação, porque, no mínimo, se jogar para o time todo de fato, não terá mais que ficar reafirmando a toda hora que está de corpo e alma no processo coletivo, até porque quem precisa se afirmar o tempo todo acaba perdendo a credibilidade.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
Comentários