O vigarista do ano
Caso morasse nos Estados Unidos, o deputado Percival Muniz (PPS) inspiraria um belo roteiro para Hollywood, e com certeza concorreria ao Oscar, senão de melhor filme, ao menos de melhor ator. Afinal, precisa-se de muita habilidade política, sangue frio e de uma boa dose de astúcia (para raposa nenhuma botar defeito) para construir essa armação que envolveu sua participação na construção da candidatura de Mauro Mendes - uma verdadeira arapuca para pegar pardais -, e ficar de fora, garantindo sua reeleição de modo confortável e até lucrativo.
Todos sabem que foi Percival o maior entusiasta da saída de MM do PR, no prazo final das filiações, em outubro do ano passado, e sua conseqüente migração para o PSB. Vendeu a MM a ilusão de que, fora do PR, na medida em que Silval Barbosa naufragasse na construção da sua candidatura, Mendes seria ungido a única alternativa de toda a base governista ao Governo do Estado.
Certamente não contava com a capacidade de Silval de construir uma coligação com mais de 10 partidos, como de fato ocorreu, e também não calculou direito que as militâncias dos quatro partidos envolvidos no projeto inicial se rebelariam pelos enormes sacrifícios que o projeto lhes implicaria, como acabou acontecendo.
Quando Mauro Mendes estava prestes a desistir do projeto, aceitando a oferta para ser vice de Silval - e diante de todas as reviravoltas já conhecidas -, Percival quase foi tragado para dentro da arapuca que ele mesmo havia armado, quando MM exigiu que todos os principais líderes do Movimento Mato Grosso Muito Mais (MMTMM), incluindo ele próprio, fossem candidatos nas chapas majoritárias ao governo e senado, dividindo, desta maneira, o sacrifício em partes iguais.
Foi essa, ao certo, a explicação para Otaviano Pivetta aceitar ser o candidato a vice, e de Percival aceitar a segunda vaga de Senador na coligação. Aí surgiu de novo a admirável habilidade política de Percival. Foi para Rondonópolis, deu um gás na sua militância local, lançou um desafio de que ganharia de Blairo Maggi no seu próprio colégio eleitoral. Blairo, segundo fontes rondonopolitanas, acreditou na bravata, chamou o concorrente, e dois dias depois Percival renunciou à candidatura de Senador para ser candidato à reeleição – e como franco favorito entre todos os nomes inscritos pelo MMTMM. Oficialmente, abriu da vaga para acomodar o PV que, curiosamente, jamais havia reivindicado qualquer participação na chapa majoritária.
Ao longo dos oito meses em que brincou de líder do MMTM e do próprio Mauro Mendes, Percival ficou na crista da onda, apareceu na mídia mais que o próprio pré-candidato ao Governo, reforçou seu nome às custas do incautos noviços que formavam o Estado Maior da coligação, e acaba como o único entre os líderes do grupo com uma eleição inolvidável, segura, garantida e praticamente de graça, enquanto todos os demais se encaminham para o patíbulo, tal qual o sapo encantado pelo guiso da cobra assassina se dirige à morte. Em síntese, Percival deu uma aula prática para um curso de pós-graduação em Ciência Política. É um craque da política.
Essa jogada de mestre de Percival Muniz me fez lembrar o filme “O vigarista do ano”, estrelado pelo Richard Gere. No filme, o personagem de Gere, o fracassado e quebrado escritor Clifford Irving, forja uma autorização do bilionário excêntrico Howard Hughes para biografá-lo, e com isso consegue uma bolada de uma editoria que lhe compra os direitos da história por um milhão de dólares, o que na época era uma fortuna. Hughes é o homem mais rico dos Estados Unidos desde a segunda guerra, mas é absolutamente polêmico, controverso, tem fobia social, raramente é visto e não dá entrevistas há 15 anos (sua história é contada em outro badalado filme americano: O Aviador). Logo, sua biografia seria sucesso garantido e absolutamente lucrativo.
Acontece que depois do livro impresso, e com o anúncio de seu lançamento, Howard Hughes, num dos melhores momentos do filme, concede uma entrevista coletiva, por telefone, e desmascara o vigarista Clifford Irving, que pegou alguns meses de cadeia e teve que devolver grande parte do dinheiro. Curiosamente, depois desse escândalo, Irving passou a ser um escritor de sucesso, e finalmente se consagrou. Irving e Percival precisam ser mais conhecidos pelos políticos mato-grossenses, senão continuarão levando bola no vão das pernas por muito mais tempo.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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