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Opinião
Terça - 06 de Julho de 2010 às 09:09
Por: Alexandre Garcia

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Abro os jornais e os canais de rádio e TV e vejo explicações dos especialistas para a eliminação do Brasil na Copa: todos sabiam que não iria dar certo. Então por que insistiam em apostar no hexa? Foi assim no movimento Diretas Já. Os jornalistas sabiam que não iria passar a emenda Dante de Oliveira, mas insistiam em botar o povo nas ruas e nas praças. Depois, foi a frustração e Tancredo teve que ser eleito na indireta. Pego revistas de antes da Copa e leio as previsões: a maioria dos especialistas diz que o Brasil vai ser hexa; todos afirmam que a Argentina ficará em terceiro; muitos, que a Inglaterra será o segundo. E só o veterano Sílvio Luís se aproxima do acerto: prevê Alemanha vice-campeã. Parece que nenhum desses conhecedores de futebol tem condições de dizer que Dunga não entende de futebol.

A propósito, a culpa agora é de Dunga. Como assim? Dunga ainda entra em campo para jogar? Depois da derrota, Robinho confessou: entramos muito desatentos para o segundo tempo. Como assim, desatentos? Quem recebe uma fortuna para trabalhar não tem direito de ser displicente. Ou será que foi porque nove holandeses jogam na Holanda e apenas três, em 23 convocados brasileiros, jogam no Brasil? Aí, acabamos numa triste humilhação: a de reencontrar a alegria torcendo contra o vizinho e gozando com o pé da Alemanha.

Criou-se um mito, chamado de O Verdadeiro Futebol Brasileiro. O que é isso? Não será apenas saudosismo das seleções de 1958, 1962 e 1970? O jornal francês "Le Monde" estampou em manchete: "Holanda acaba com a síndrome brasileira". Que síndrome é essa? Tostão (esse entende) escreveu: "Temos que parar com a nossa prepotência de achar que o Brasil é sempre melhor". É mais do que uma ilusão; é um ilusionismo que alimenta a festa, que fecha o comércio e provoca prejuízos econômicos e equivale ao Coliseu romano - o circo com que os imperadores distraíam o povo.

Agora vou aproveitar os preços em queda das bandeiras brasileiras. Vou comprar duas para pôr no meu carro e ostentar durante a Semana da Pátria. E vou comprar outra, bem grande, para pendurar na janela de meu apartamento, também durante a Semana da Pátria. Porque a minha pátria, chamada Brasil, não é um time de futebol. O futebol não vai resolver nada sobre o meu futuro ou o futuro de meus filhos e netos. Pode até encher os bolsos dos cartolas, dos dirigentes da Fifa, dos profissionais do futebol. Para pôr dinheiro no bolso, tenho que trabalhar - ainda que me atrapalhem as paralisações do país em horários de futebol de torneio mundial.

Nosso presidente está na África; criaram um roteiro para que ele pudesse assistir à final do Brasil na África do Sul. Nele, um espaço reservado para assistir à semifinal com o Brasil... Ricardo Teixeira havia convidado políticos para irem de carona no avião da TAM que, na véspera da final, iria buscar os hexacampeões. Já é a segunda vez que somos hexacampeões antes mesmo de o torneio começar. Somos bi na síndrome... E vai continuar. Abro uma revista e já encontro propaganda de página dupla: "Faltam 49 meses para o hexa". Céus! Vai começar tudo de novo.


Alexandre Garcia
é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às terças-feiras. E-mail: alexgar@terra.com.br



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