Não escandalizar o irmão
Desde que deixei o ateísmo, tornei-me cristão e, por opção, seguidor da doutrina católica, tenho observado o "modus operandi" dos inimigos da Igreja: falar mal. Talvez não tenham do que falar (bem) de si mesmos... o fato é que sempre inventam, aumentam ou distorcem. Nos últimos meses, a prática é a generalização, de alguns casos, como se todo o clero fosse criminoso. Isso é um crime, uma afronta à inteligência, um pecado grave, do escândalo.
Paulo já havia ensinado que não se deve escandalizar: Quanto às carnes oferecidas aos ídolos, somos esclarecidos, possuímos todos a ciência... Porém, a ciência incha, a caridade constrói. Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não conhece nada como convém conhecer. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele. Assim, pois, quanto ao comer das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que não existem realmente ídolos no mundo e que não há outro Deus, senão um só. Todavia, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, habituados ao modo antigo de considerar o ídolo, comem a carne como sacrificada ao ídolo; e sua consciência, por ser débil, se mancha. Não é, entretanto, a comida que nos torna agradáveis a Deus: comendo, não ganhamos nada; e não comendo, nada perdemos. Pelo que, se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão, jamais comerei carne, a fim de que eu não me torne ocasião de queda para o meu ir
mão (1 Cor 8, 1-13).
Para a Igreja, o escândalo está associado à falta de respeito pela alma do próximo, um dos itens que compõem o respeito pela dignidade das pessoas que, por sua vez, é um derivado do quinto mandamento, "não matarás" (Ex 20, 13), aperfeiçoado por Cristo: "ouvistes o que foi dito aos antigos: `não matarás e aquele que matar terá de responder em juízo`. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão, será réu perante o tribunal" (Mt 5, 21-22).
A vida humana é sagrada porque, desde a sua origem, postula a ação criadora de Deus e mantém-se para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é senhor da vida, desde o seu começo até ao seu termo: ninguém, em circunstância alguma, pode reivindicar o direito de dar a morte diretamente a um ser humano inocente (Catecismo da Igreja Católica 2258).
O escândalo é a atitude ou comportamento que leva outrem a fazer o mal. O escandaloso transforma-se em tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e a retidão, podendo arrastar o irmão para a morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por ação ou omissão, levar deliberadamente outra pessoa a cometer uma falta grave (2284). O escândalo reveste-se duma gravidade particular conforme a autoridade dos que o causam ou a fraqueza dos que dele são vítimas (2285). Para esses, fica esta maldição de nosso Senhor: "mas se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar" (Mt 18, 6).
Mario Eugenio Saturno, de Bariloche - Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
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