Bola na trave altera o placar
Depois da classificação do Paraguai para as oitavas da Copa do Mundo da África, provavelmente a canção “Partida de Futebol” terá outro significado para os fãs do Skank e também para os torcedores do Japão. Foi uma bola na trave do zagueiro Komano que alterou tanto o placar que o jogo ficou 5 x 3 para nossos vizinhos sul-americanos, sendo que os nipônicos sequer chegaram a cobrar o último pênalti.
Embora o mote e a glosa da canção sejam uma partida de futebol, a frase “bola na trave não altera o placar” é uma metáfora apropriada para muitos domínios da vida, especialmente em época de Copa do Mundo.
Vamos usá-la em alguns lances dessa reta final da pré-campanha das eleições deste ano em Mato Grosso. Veja, por exemplo, a vitória de Pirro conquistada ontem pela ala maurista do PDT, que poderá representar uma bola na trave da coligação Movimento Mato Grosso Muito Mais (MMTMM). Ganharam a legenda, mas é fato que não terão o partido, tampouco a militância. Há, no PDT, duas dissidências, sendo uma pró-Silval e outra pró-Wilson.
Embora com menos barulho, o MMTMM também acertou uma bola na trave do PPS. Lá, levaram a legenda e a base do partido em Rondonópolis. Em Cuiabá, os pepessistas são Wilson (com direito ao vereador Ivan Evangelista praticamente carregar o tucano nas costas na convenção peessedebista do último sábado) e os vereadores e prefeitos do interior são Silval.
O problema da bola na trave é que ela representa um quase-gol. Se o segundo colocado é o primeiro perdedor, como disse algum dia Nelson Piquet como “incentivo” ao filho na Fórmula 1, o quase-gol provoca aquele grito de “ohhhhhhhhhhhh” na torcida, que significa um misto vibração e frustração. Se a bola na trave altera favoravelmente o placar, prevalecerá a vibração. Em caso contrário, a frustração será inevitável. Ficará esse enigma para a esfinge do MMTMM decifrar: as convenções de ontem que homologaram as candidaturas de Mauro Mendes ao governo; Otaviano Pivetta de vice; Pedro Taques e Percival Muniz como senadores, afinal, foi um gol de placa ou uma bola na trave?!?
Já no bloco governista, o governador Silval Barbosa, depois de revelar no Twitter que acertara o placar do jogo no dia em que a Seleção Canarinha despachou o Chile por 3 x 0, alcunhou a seguinte frase: “Não se mexe em time que está ganhando”.
Metido a conhecer de política e de metáfora - a melhor linguagem para a comunicação de massa, na minha modesta opinião -, conclui que Silval mandava ali um recado discreto para o MMTMM, descartando Mauro Mendes de vice, afinal o Dunga mexeu bastante no jogo contra o Chile. Ontem, todavia, vi um adesivo em uma caminhonete velha com a mesma frase, sobre outra mais intrigante ainda: “Verdade x Mentira”.
Se tem alguma relação entre o adesivo e a twitada do Silval não sei. Mas, é provável. Em política não há coincidência. E quando há, ela serve sempre a um dos lados em disputa, nunca é neutra.
Como metáfora, a frase, acrescida do “verdade x mentira”, revela uma estratégia ofensiva do peemedebista, pressionando os tucanos no seu campo de deseja, tentando anular o que eles acham que possuem de mais forte: a comparação entre o governo de Dante de Oliveira com o de Blairo Maggi / Silval Barbosa. O problema é que quem julgará quem fala a verdade e quem mente é o eleitor. Ou seja, a estratégia realizada apenas com base no seu potencial, desprezando o adversário, já disse certa vez Mané Garrincha ao técnico Feola, só combinando com os russos. Nesse caso também fica o enigma se a estratégia balançará a rede ou ricocheteará no pau da meta.
Voltando a canção do Skank, antes que se tenha a chance de chutar ao gol, há que se pensar no time todo, especialmente os maestros da partida, afinal “o meio campo é o lugar dos craques”, e temos poucos Romários e muitos Lúcios jogando nas eleições deste ano em Mato Grosso.
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.
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