Só supercomputador não refaz inverno
As recentes catástrofes climáticas que assolam o Brasil expõem a fragilidade de nosso sistema de defesa. O país tem investido em algumas áreas, embora necessite investir mais e constantemente, também é preciso organizar a sociedade. Será que em caso de uma catástrofe geral, estaríamos preparados? Podemos pensar em algumas mais comuns como uma nova epidemia de gripe, terrorismo nuclear, outras mais raras como uma atividade solar intensa, vulcanismo (como o de 1783 ou o de 1816), e ainda as mais raras como o impacto de asteróide.
Enquanto nossos políticos averiguam nossas defesas, boas e más notícias nos chegam: o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) vai cortar a verba do INPE para coleta de dados climáticos na Antártida, que é feito há 25 anos. São três estações meteorológicas que serão desativadas. As estações coletam dados como temperatura, precipitação e velocidade do vento, importantes não só para a própria logística das operações brasileiras, como também para o estudo de como o clima está mudando na Antártida. Isso é essencial para os modelos computacionais que avaliam o impacto do aquecimento global no degelo e no nível do mar. Uma das estações brasileiras tem uma série de dados contínua desde 1940.
Já o novo supercomputador adquirido pelo INPE mostrou desempenho maior que o esperado, conforme observaram os especialistas que estiveram na fábrica da Cray Inc., nos Estados Unidos. Esse supercomputador melhorará as previsões meteorológicas e o desenvolvimento de cenários climáticos. O INPE deve receber a máquina no fim de julho, mas somente deve estar funcionando em dezembro. A potência computacional estava estimada em 15 TFlops (15 trilhões de operações aritméticas por segundo) mas os testes mostraram que atinge 16,6 TFlops. Isso significa mais de 50 vezes a capacidade atual do INPE e vai permitir avanços em modelagem numérica e de mudanças climáticas, assimilação de dados, o que deve melhorar as previsões.
Pelo menos, cientistas o INPE possui, até que se aposentem, já que o governo não tem reposto na quantidade necessária. E do INPE foram escolhidos seis dos 25 cientistas que representarão o Brasil na elaboração do quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de um total de 831 especialistas do mundo todo.
Enquanto isso um estudo do INPE e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) prevê para o terceiro trimestre mais chuvas para o extremo norte da Região Norte do que chove normalmente. Isso se deve ao fenômeno La Niña, provocado pela diminuição da temperatura das águas superficiais na região do Pacífico Equatorial. O INPE ainda divulgou os primeiros resultados do mapeamento dos biomas Floresta e Cerrado no Mato Grosso, feitos a partir de imagens de satélites. Informações disponíveis no site: www.inpe.br.
Mario Eugenio Saturno, de Bariloche - Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. (mariosaturno@uol.com.br)
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