Uma conversa sobre pesquisa
Uma vez mais a pesquisa de intenção de votos oxigena a disputa para o governo do Estado de Mato Grosso. Isso é muito bom. Sobretudo em um cenário que aparecia um tanto "morno", sem qualquer "jogada" estratégica, própria inclusive da fase que antecede a campanha propriamente dita. Daí a importância que se dá aos resultados registrados. Tanto pelos políticos, quanto pelos analistas. Especulações e o diz-que-diz-que, portanto, alimentam as desconfianças.
O desconfiar, aqui, faz parte do jogo. Jogo que tem a participação de pessoas que não são necessariamente os atores da política. Mas que influenciam bastante. Inclusive os candidatos que não se encontram à frente das pesquisas. Entende-se, então, o porquê um dos postulantes questionou os números divulgados pelo instituto Mark, que traziam o peemedebista com 38,2%, o tucano com 26,2% e o socialista com 16,1% (maio). Quadro bem distinto do apresentado pelo Ibope, cujo resultado registra um empate técnico entre o candidato a reeleição e o peessedebista, seguidos de longe pelo empresário-candidato (junto). Confrontá-los não é tarefa deste texto. Até porque cada um deles foi montado em cenário completamente diverso. E mesmo que se pudesse compará-los, dificilmente se acreditaria que o peemedebista caiu de 38,2% para 29%. Ainda que se leve em consideração o superfaturamento das máquinas e a operação Jurupira. Pois estas denúncias não foram exploradas pela oposição. O que dificilmente se poderia imaginar que tais denúncias provocaram tamanha queda político-eleitoral.
Por outro lado, não se deve, aqui, colocar em xeque uma dada pesquisa de intenção de votos. Nem, contudo, descartá-la só porque não trouxe índice percentual favorável à candidatura "A" ou "B". Afinal, todas elas adotam metodologias e procedimentos científicos, e são realizadas por amostragem. Isso explica porque uma porção de brasileiros "nunca foi entrevistada". Não é preciso entrevistar a todos, ou uma grande percentagem da gente da terra para saber com precisão o que pensa a população pesquisada sobre determinado assunto. Nesse sentido, as críticas contra as pesquisas carecem de fundamento científico.
Agora, não é preciso ser ingênuo para acreditar na lorota de que é impossível manipular os resultados de certa pesquisa. Sempre há. E existem inúmeras formas para fazê-lo, tais como a de direcionar o entrevistado para a resposta que se quer, a de desenvolver a pesquisa tão somente nos bairros onde o candidato "A" tem forte aceitação, enquanto o "B" sofre com a rejeição e o "C" não conta com número significativo de simpatizantes, ou a de divulgar os dados sem o índice correspondente a rejeição de cada um deles.
Mesmo nesses casos, as manifestações dos que se sentirem prejudicados deverão ser sustentadas cientificamente. Aliás, a própria opinião requer fundamentação, sem a qual aquela inexiste ou será considerada puro "achismo", chute ou coisa parecido. Erro que nenhum analista ou estudioso deva cometer, ainda que tenda a torcer por certa candidatura, uma vez que esta traz as cores do partido "do seu coração", ou esteja ligada a mesma raiz partidária. O papel de torcedor é desaconselhável para o eleitor e abominável para quem se atreve a analisar o jogo político.
Jogo que tem na pesquisa de opinião um componente relevante. Capaz, inclusive, de apimentar a disputa. Necessária igualmente em períodos que antecedem as campanhas, e bem mais no início e durante a fase do horário político eleitoral e dos debates.
Torna-se, portanto, um instrumento valiosíssimo. Valioso para todos, políticos, estudiosos e eleitores. Sempre no sentido de tê-la como auxiliar na avaliação e na reflexão, especialmente por parte do eleitorado. Porém, jamais como uma bússola a apontar em quem se deve votar, sob o batuque de que "não se pode perder o voto". O eleitor perdedor é aquele que escolhe mal, não porque o candidato escolhido foi derrotado.
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br
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