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Opinião
Sexta - 11 de Junho de 2010 às 14:37
Por: Antonio Cavalcante e Vilson Nery

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Nunca consegui entender a plenitude do significado da frase de Marx, encartada no Manifesto Comunista, e que deu origem a obra mais famosa do filósofo estadunidense contemporâneo Marshall Berman (BERMAN, Marshall. [1986] Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras).

Entretanto, à vista da queda dos ‘santos de barro’ do poder judiciário de Mato Grosso, cujo andor foi impulsionado pelo CNJ e por setores corajosos da imprensa, começo a entender o porquê de que “tudo o que é sólido se desmancha no ar”.

Vez em quando ainda encontro um desses juízes ‘cassados’, zanzando pelos corredores do fórum, próximo à presidência do Tribunal de Justiça, e até na assembléia legislativa. São tais quais zumbis; são fantasmas que morreram e recusam-se a desencarnar, abandonar o fétido (apodrecido) perispirito. Procuro uma explicação mediúnica, recorro a Chico Xavier e, à luz do Livro dos Espíritos (de Alan Kardec) descubro que “No instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente... Para uns é bastante rápido... Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até meses e anos.”

Ah, bom, o sólido se desmancha ... devagar, mas se desmancha ...

Os magistrados (e também alguns deputados) sentem-se deuses, inatingíveis, acima do bem e do mal. Mas a realidade histórica mostra o quanto estão equivocados.

O Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010), a grande manifestação de indignação popular atual, se propõe a desnudar reputações construídas sobre mentiras, retirando do convívio sadio da democracia e da representação popular aqueles que se valem do sagrado mandato para esconderem delitos antigos e praticarem novos crimes. Tudo sob a graça e proteção de maus juízes.

A reação da sociedade mato-grossense e da imprensa (aquela parte que não tem medo e que não se vende) tratando com naturalidade a descoberta da venda de mandatos eleitos por preço certo e determinado (R$ 100 mil, R$ 500 mil etc.), da negociação (compra e venda) de decisões judiciais, atestam que isso já estava incorporado à nossa cultura. Mas havia um desejo de punição. E ela (a condenação) veio. E nem adianta os semideuses (e seus bem pagos adEvogados) tentar corromper o julgador (o povo), corretar uma ‘decisãozinha’ a seu favor. Desencarna, morto vivo!

Por certo, para que eu possa compreender um pouco mais da frase marxista (‘Tudo que é sólido desmancha no ar’) ainda falta alguma coisa. Primeiro, que o povo entenda o sentido real do Ficha Limpa (LC 135). Segundo, que a OAB puna os maus adEvogados. E terceiro, que o CNJ decrete afastamento de (maus) magistrados e que o Ministério Público (será que terão coragem?) peça a perda de cargo, cassação de aposentadoria e devolução do dinheiro roubado.

Acho que esse é o significado da mensagem marxista: tudo o que é sólido, transmuda, esfarela, deixa de existir. Sei que incorro em sacrilégio, ao combinar a teoria marxista (pagã, para alguns, embora Jesus Cristo tenha sido o maior Comunista da História da humanidade) com a doutrina espírita. Chico Xavier que nos perdoe, mas o Evangelho segundo o Espiritismo (Capitulo XX item 21) diz: “Há casos nos quais é útil revelar o mal do outro? Essa questão é muito delicada, e aqui é preciso fazer um chamado à caridade bem compreendida. Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, não há utilidade alguma em fazê-las conhecidas. Mas se elas podem causar prejuízo a outros, é preferível o interesse da maioria ao interesse de um só”


*Vilson Nery e Antonio Cavalcante Filho
são militantes do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) Comitê de Mato Grosso



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