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Opinião
Quarta - 09 de Junho de 2010 às 19:20
Por: Kleber Lima

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Auguste Bouché-Leclercq dizia que na Roma antiga os plebeus "tinham o domicílio, mas não a pátria". Uma forma original para designar que naquele tipo de sociedade - o embrião do Estado, assim como a Grécia representa o embrião da democracia contemporânea -, alguns “cidadãos” tinham mais direitos que outros. Na monarquia, os plebeus tinham o direito de trabalhar, ter posses, servir ao exército, mas não podiam votar nem ser votados e nem se casar legalmente. Eram semi-escravos. Já na república, a plebe conquistou alguns direitos políticos e civis, e até assento no parlamento, com os Tribunos da Plebe, mesmo assim em número inferior ao que realmente representavam.

Os séculos que nos separam daquela época ainda não foram suficientes para eliminar a diferença entre plebeus e nobres. Seja qual nome se dê em cada tempo histórico (plebeu x nobre; servo x senhor; proletário x capitalista; pobre x rico; etc), o fato é que, para muita gente ainda não rompemos os domínios da plutocracia. Os ricos de hoje ainda se comportam como os nobres, senhores ou capitalistas de sempre, e tentam transformar o jogo democrático numa brincadeira só deles.

Essa recente discussão puxada pelo José Serra (logo ele, figura intelectualmente admirável que se trai pelas mal-fundadas estratégias eleitorais) de que o Brasil não pode ficar no antagonismo pobres x ricos, na verdade revela que esse tema nunca saiu de moda, e talvez seja a incapacidade de determinados setores de governar para os pobres que tenha feito com que Lula entre para a história do Brasil como o primeiro ou o maior presidente do país.

Descendo para a nossa aldeia, vimos esse filme nas eleições de 2008, quando Walter Rabello foi sacado da disputa à prefeitura de Cuiabá por não saber usar blacktie; assim como Valtenir Pereira, que insistiu em entrar na festa dos grã-finos e ficou isolado no canto escuro do salão, sem direito a bebericar nem um drink e muito menos a tirar uma dama do hy society para uma valsa.

Entre os inúmeros motivos que os analistas já elencaram para traduzir as eleições de 2008 em Cuiabá, certamente o fato de os dois únicos candidatos que representavam os setores mais populares terem sido esmagados naquela disputa revela a verdade indigesta de que na democracia que certos setores desenham para Cuiabá e para Mato Grosso, pobres só servem como eleitores e carregadores de bandeiras.

O fenômeno se repete nas eleições de 2010. A aliança formada por partidos de centro-esquerda, pasme, isola os militantes de origem humilde para colocar no centro do palco apenas os ricos. Quem dá as cartas é Mauro Mendes, Otaviano Pivetta Percival Muniz, que têm em comum o título de novos ricos desse maravilhoso estado de oportunidades - mais para eles do que para outros, ao que parece.

Mauro se vale de relações comerciais e econômicas que possui aqui e alhures para prevalecer no PSB, ignorando sua direção e os responsáveis por tê-lo aceito num partido já pronto, com suas virtudes e suas imperfeições. Pivetta age no PDT como patrão de peões na colheita de soja, ralhando com dirigentes em público e dando-lhes carraspanas pelos jornais. E Muniz, embora tenha origem de aldeão, como novo rico prefere mesmo as companhias dos salões e dos barões.

Não há outra forma de enxergar o que esse trio e alguns poucos serviçais de luxo tentam fazer com a militância mais humilde de seus partidos, em especial a pecha de vendilhão e traidor que tentam colar no deputado Valtenir Pereira, cujo crime, até o momento, foi o de ousar discordar desses senhores que vêem seus partidos como feudos ou reles propriedades para seus joguetes eleitorais.

Já disse aqui deste espaço que essa chapa tendo Mauro Mendes para governador e Pedro Taques para o Senado representa o sacrifício de toda a militância para satisfazer os caprichos de meia dúzia de afortunados. Não tem densidade, não tem projeto coletivo, e – agora o sabemos – nem respeito por seus partidos tem.

P.S: Antes que me acusem, não sou crematofóbico nem ricofóbico (se é que existe essa fobia). Apenas acho curioso e até engraçado os que pensam que podem comprar tudo.


(*) KLEBER LIMA
é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.



Autor

Kleber Lima

KLEBER LIMA é jornalista e secretário de Comunicação da Prefeitura de Cuiabá

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