Escola, empresa e mercado de trabalho
Recentemente, ouvi, de uma estimada pessoa, com poucas letras mas de muita sensibilidade, a seguinte observação: “O grande problema do Brasil está no que fazer com as crianças dos 12 aos 16 anos. É nessas idades que elas pegam o rumo na vida, podendo ir para o lado certo ou, sem perspectivas, enveredar para o crime e as drogas. Bem que as escolas poderiam estar aparelhadas para socorrer essa moçada”. Sugere ainda que as escolas trabalhem em tempo integral, em convênio com empresas que nelas realizem cursos para formar seus futuros trabalhadores e, até, instalem pequenas unidades movidas a bolsa-trabalho, que dessem algum estímulo e rendimento ao aluno.
Interessante a idéia, principalmente partida de alguém que participa da grande massa de migrantes que luta para viver bem na cidade grande. Depois de devidamente estudada e contextualizada, uma proposta destas pode ser a solução para diversos problemas que afligem a sociedade brasileira. Primeiro poderia representar uma luz no fundo do túnel para os jovens no momento em que passaria a qualificá-los e treiná-los para o mercado de trabalho da comunidade onde vivem, e ainda os incentivaria a continuarem na escola, sem a necessidade de parar de estudar para trabalhar. Seria a solução para a controversa proibição do trabalho infanto-juvenil hoje prevista em lei.
As empresas poderiam implantar pequenas unidades de seus negócios dentro das escolas ou transportar os alunos para suas plantas de trabalho para ali ministrar os cursos e preparar sua mão-de-obra do futuro. Por serem profissionalizantes, os ensinamentos também se integrariam à pauta de produção, gerando alguma renda. Mas teriam incentivos fiscais e ainda gerariam o importante residual de pessoal qualificado para suprir o mercado de trabalho. Para montar esse esquema poderia se aproveitar em parte a experiência do Sistema S, especialmente do Sesi e do Senai.
O governo investe grandes somas na distribuição de “bolsas”, muitas delas tidas como clientelistas por não possuírem um sistema de avaliação e deixarem de exigir contrapartida do beneficiário. Parte desses recursos poderia ser destinada ao bolsa-escola-trabalho, com a certeza de beneficiar ao mesmo tempo a escola (que aumentaria sua presença na vida do alunado), as empresas (que poderiam contar, em condições legais, com a mão-de-obra juvenil e ainda a qualificaria para suas futuras necessidades) e a sociedade (estaria encaminhando e oportunizando a juventude hoje desassistida).
Durante as últimas décadas, em vez de criar oportunidades para os jovens, os governos os abandonaram, sucatearam o ensino e deixaram de atender importantes quesitos sociais. Mas investiram pesado na construção de presídios e em meios de repressão, que não resolvem o problema quando ele tem base social. É preciso mudar o foco. Toda vez que se conseguir manter o aluno na escola e nela qualificá-lo para os desafios da vida, isso poderá ser contabilizado como uma vitória social. Cada unidade de trabalho que se instalar na escola evitará que no futuro se monte a mesma unidade de trabalho no interior de um presídio. Poderá evitar, até, que a própria cadeia tenha de ser construída.
Hoje isso ainda é um sonho. Mas pode virar realidade. Basta agir...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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