O coronel e o partido
É interessante observar a movimentação no interior de cada partido político. Particularmente, à véspera da convenção partidária. Momento em que se percebe, de fato, a força do coronel.
Este sempre, senhor de si e da própria sigla. Tanto que são suas as verdades. A ponto de serem estas que vão para a mesa de negociação com outras agremiações, jamais as dos militantes.
As destes, aliás, não servem de reflexão, ou, sequer, são expressas. Pois seriam cotidianamente derrotadas.
Veja, por exemplo, a aliança entre o PP e o PT em São Paulo. Cena que se associa à de Recife, onde o prefeito petista se vê ‘forçado‘ a abandonar a candidatura à reeleição, uma vez que o nome aprovado por Lula da Silva é mesmo o do PSB, Humberto Costa. Tudo como moeda de troca ao apoio socialista à candidatura petista à prefeitura paulista.
Esta candidatura, é bom que se diga, também foi uma imposição do coronel e que um dia chegou a ser metalúrgico e presidente da República. Vontades que não são, nem devem ser questionadas no partido.
Ainda que exista uma imensa ‘nação petista‘ contrariada, assim como ficou com o aperto de mão que selou a adesão malufista à disputa em São Paulo.
Curiosamente, no entanto, voz petista alguma se levantou para reprovar as imagens de Lula, Haddad e Maluf gravadas pelas câmeras fotográficas e televisivas.
Igualmente se pode dizer com relação à aproximação do ex-sindicalista e coronel petista com adversários de velha data dos petistas - dois ex-presidentes do país e senadores, Sarney, Collor, e Renan Calheiros.
Os votos contrários ficaram presos no escaninho, e ali devem permanecer ‘por todo e sempre‘, onde um dia quiseram arquivar o mensalão, com a lengalenga de ser obra da imprensa sensacionalista.
A mesma imprensa que, no passado, deu guarida e levou para um montão de brasileiros as opiniões do sindicalista, que mais tarde se tornou presidente do Partido dos Trabalhadores, e,
desde então, o conduz com mão de ferro.
A senadora Marta Suplicy que o diga. Pois amargou um ‘não‘ do todo poderoso coronel petista, e magoada se refugiou na capital federal, e dali deixou transparecer um sorriso de vitória quando a deputada Luiza Erundina ‘chutou o pau da barraca‘ tão logo soube da aliança PT e PP.
Acontece, porém, que a deputada e quase candidata a vice-prefeita na chapa Haddad não se encontra filiada ao PT. Chegou a ser um dia. Isso lá na época em que era prefeita de São
Paulo, e foi eleita para tal por essa agremiação. Mas não é mais. Pois, agora, pertence ao PSB.
Daí o seu rompante contra o velho coronel. Pois se estivesse na sigla petista, no instante em que se voltou contra a aproximação malufista, poderia sofrer represálias partidária, e até mesmo a expulsão.
Estranhamente, dentro do partido, nada se vê ou ouve contra o ex-metalúrgico. Tudo que ele faz é genial, ideal e nobre para o PT. Comportamento também presenciado nos demais partidos. Nestes, tanto quanto, os interesses coronelísticos prevalecem e reinam de forma absoluta.
Inexistem, portanto, a democracia - nem como prática, tampouco na vivência. Embora possam ocorrer choques entre os desejos de uma dada facção e os de outra, pertencentes a um único partido, tal como se dão corriqueiramente no PMDB, PSDB, DEM, etc.
Os coronéis batem cabeças entre si. Mas sempre estão rodeados de oficiais de baixa patente, os quais também se apresentam em meio a filiados em geral, que são inseridos no cenário com papéis secundários.
Perceber isso é compreender melhor o jogo políticoeleitoral - que é também essencialmente personalizado.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e articulista político.
lou.alves@uol.com.br
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